segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

POLÍTICA - Ainda sobre a entrevista do Zuenir Ventura.

O maio francês é dado como o grande símbolo, mas aqui no Brasil as coisas começaram antes, a morte do estudante Edson Luís no restaurante Calabouço foi em março por policiais militares.

  Eu estava lá no Calabouço. Por isso é que digo para os mais jovens, que "Sou Testemunha Ocular da História",  copiando o refrão do locutor Heron Domingues, que transmitia pela Rádio Nacional, o "Repórter Esso, que era o Jornal Nacional da época.
Antes disso, já havia acompanhado o movimento liderado pelo Leonel Brizola, intitulado, Rede da Legalidade, para dar posse ao Jango, que era o vice do presidente Jânio Quadros que havia renunciado. Este movimento que começou com a Rádio Guaíba, em Porto Alegre, envolveu diretamente 500 mil brasileiros e 1500 emissoras de rádio espalhadas por todo o país.
Assisti também o grande comício realizado na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, em defesa das Reformas de Base do Jango, que até hoje não foram realizadas. Nesse comício, onde o Serra, na época presidente da UNE, era um dos presentes no palanque, fez um dos mais violentos discursos em defesa do Jango. "Quem te viu, quem te vê". Muitos historiadores dizem que esse comício, foi o estopim para o golpe de 64.
O restaurante do Calabouço era onde nós, estudantes, fazíamos refeições, porque eram baratas, como  era também perto da Cinelândia, onde fazíamos manifestações políticas.

O corpo do Edson Luiz foi levado pelos estudantes  para a Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, onde acabou sendo velado. Foi a primeira morte de estudante na ditadura, e que levou à uma comoção nacional. Com este fato, a resistência à ditadura passou a crescer dia a dia. Em junho, tivemos as duas marchas dos 100.000, que saíram da Cinelândia até a Central do Brasil.
Com o aumento da resistência, o governo militar acabou decretando em 13 de dezembro desse 1968, o famoso AI - 5, que foi o golpe dentro do golpe. Daí para frente, acabou a pequena liberdade que havia para manifestações e a prisão, tortura e morte e desaparecimento de estudantes e de que se opunha ao golpe, passou a se tornarem fatos corriqueiros, sempre escondidos pelos militares.

Quando divulgavam alguma coisa, era sempre a versão deles, como no caso dos "suicídios" do jornalista Vladimir Herzog, o Vadlo, e do operário Manoel Fiel Filho, assassinados pela ditadura, nas dependências do sinistro DOI-CODI, do também sinistro torturador coronel Brilhante Ustra, aquele que o Bolsonaro elogiou no dia do impeachment da Dilma.
De 1968 para a frente, os anos passaram a ser realmente "Anos de Chumbo", e quem resistiu, sabe bem o que significou. O pior é que tem gente que deseja isso de volta.
Sobre isso, vale mostrar um trecho da entrevista com o Zuenir: "Eu já participei de muita palestra que um aluno cabeludo pega o microfone e diz: "isso existe hoje, censura, violência....qual a diferença?" E eu digo: a diferença é que, se você dissesse  tudo isso que está dizendo em 68, você saia daqui preso. E você vai sair andando.

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