"A
SOFREGUIDÃO EM ABRIR AOS TRANCOS E BARRANCOS UM INQUÉRITO QUE
PROVOCARIA ALVOROÇO NO PAÍS INTEIRO E TAMANHO PÂNICO NAS BOLSAS DE
VALORES FOI SIMPLESMENTE DESCABIDA, CHOCANTE E, NÃO HÁ COMO EVITARMOS A
PALAVRA, SUSPEITA"
CELSO LUNGARETTI
DESDE QUANDO SE INVESTIGA PRESIDENTE DA REPÚBLICA COM BASE NUMA PROVA QUE PODE TER SIDO FORJADA?
.
Os
questionamentos da atuação do procurador-geral da República Rodrigo
Janot no episódio da quase derrubada do presidente Michel Temer a partir
da divulgação bombástica pelo jornal O Globo de
informações que estavam sob sigilo de Justiça, deverão aumentar em
muito com a divulgação de uma nota à imprensa da APCF - Associação
Nacional dos Peritos Criminais Federais.
Segundo a entidade, "ao se ouvir o áudio divulgado pela imprensa, percebe-se
a presença de eventos acústicos que precisam passar por análise
técnica, especializada e aprofundada, sem a qual não é possível emitir
qualquer conclusão acerca da autenticidade da gravação". Todos os grifos são meus.
Trocando em miúdos, Janot
tomou a gravíssima decisão de recomendar a abertura de inquérito contra
um presidente da República sem ter absoluta certeza de não o estar
fazendo a partir de uma prova forjada. Caso fiquem comprovadas as mais de 50 edições que um perito do Tribunal de Justiça de São Paulo garante existirem
na gravação ilegal que Joesley Batista fez de sua conversa com Temer,
Janot não pode continuar nem mais um minuto no cargo, pois terá sido
incompetente e leviano se agiu de boa fé, ou participado conscientemente
de uma conspiração criminosa.
A Folha de S. Paulo afirma ter apurado que "a PGR não enviou o áudio para a Polícia Federal porque considerava que essa era uma etapa posterior na investigação, depois de aberto o inquérito, e que eventuais dúvidas poderiam dirimidas ao longo da apuração".
Ora,
a sofreguidão em abrir aos trancos e barrancos um inquérito que
provocaria alvoroço no País inteiro e tamanho pânico nas bolsas de
valores que mais de R$ 200 bilhões trocaram de mãos num único dia, foi
simplesmente descabida, chocante e, não há como evitarmos a palavra, suspeita.
A nota da APCF lembra, ainda, que "sempre que houver vestígios materiais, é temerária a homologação de delações sem a devida analise pericial", sendo, portanto, "inaceitável
que, tendo à disposição a Perícia Oficial da União, que possui os
melhores especialistas forenses em evidências multimídia do país, não se
tenha solicitado a necessária análise técnica no material divulgado,
permitindo que um evento de grande importância criminal para o país
venha a ser apresentado sem a qualificada comprovação científica".
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