quarta-feira, 31 de maio de 2017

PETROBRAS - Estão acabando com a Petrobras.

Moraes: Parente faz Petrobras perder o mercado nacional

País exporta petróleo cru e importa combustíveis refinados

publicado 31/05/2017
Petrobras.jpg
Conversa Afiada reproduz do site da FUP - a Federação Única dos Petroleiros - afiado artigo de Roberto Moraes, professor e engenheiro do IFF, sobre os rumos da Petrobras sob o comando de Pedro Malan Parente:

Brasil exporta petróleo cru e passa a importar cada vez mais combustíveis refinados

A desintegração das atividades da Petrobras já comprova vários prejuízos para o Brasil. Além da venda em partes das empresas da holding (grupo) Petrobras, as estratégias já mostram os graves equívocos na condução da estatal de petróleo que caminha para se tornar apenas uma empresa reduzida e que vive da extração mineral.
A política de preços de combustíveis adotada logo na entrada pela gestão da Petrobras, pelo governo Temerário, já apontam prejuízos que nem a nova redução de preços dos combustíveis (5,4% na gasolina e 3,5% no diesel) conseguirá segurar.
O fato é: a Petrobras está perdendo - de maneira seguida e forte - o mercado doméstico de combustíveis. A importação de gasolina pelas tradings que atuam no Brasil passou de 240 mil litros em fevereiro, para 419 milhões de litros, que, segundo consultorias do setor, deve se manter agora em maio.
No comércio de diesel a variação é ainda maior. As importações saíram de 564 milhões de litros em fevereiro, para 811 milhões em abril, com previsão de chegar a 1 bilhão de litros, agora em maio.
Estes números são espantosos e mostram o desastre da estratégia do Parente.
O Brasil possui um parque de refino com 10 refinarias, sendo 6 delas na região Sudeste, 2 no Sul e 1 no Nordeste e outra no Norte. A capacidade instalada de processamento delas está em torno de 2 milhões de barris por dia.
Com esta importação de combustíveis (petróleo refinado), o fator de utilização das refinarias que esteve há pouco tempo em torno de 95%, já caiu para 77% e deve chegar, em breve, a menos de 75%.
Este dado não pode ser analisado descolado da observação dos números das exportações de óleo cru, feitas pelo Brasil. Só em janeiro e fevereiro elas cresceram 65%, alcançando cerca de 86 milhões de barris, segundo dados do próprio governo. A China e a Índia – Brics – são nossos maiores importadores de óleo cru e que poderiam ser parceiros para expansão de nosso parque de refino para exportação de combustíveis com maior valor agregado.
É sabido que há uma diferença entre a capacidade de processamento de óleo pesado (da Bacia de Campos) e óleo leve que impõe uma faixa de exportação, mas nunca nesta proporção e muito menos com esta redução enorme do fator de utilização de nossas refinarias.
O resultado de tudo isto é que o Brasil está se tornando uma Nigéria ou Angola, exportando óleo cru e comprando derivados refinados no exterior, com nosso parque de refino trabalhando com folga de quase ¼ de sua capacidade.
Quem ganha com isto são as tradings (corporações que comercializam as commodities de petróleo e combustíveis). Aliás, elas já pediram autorização ao governo brasileiro para importar 3,3 bilhões de litros de diesel (mais 47%) que em janeiro e fevereiro e 49% maior que o volume importado no ano passado.
Quem perde com isto é a Petrobras que vai deixando de atuar como uma empresa integrada.
No dia 31 de janeiro de 2017, este blog comentou em postagem aqui, que o diretor mundial da área de abastecimento e refino da Shell, John Abbott comentou que a petroleira anglo-holandesa retira do refino a maior parte dos seus lucros e que por isto, a Shell não abria mão de ser uma empresa integrada, do poço ao posto, exatamente, o inverso que a gestão do governo Temerário (Parente) passou a fazer com a Petrobras.
A estratégia de Temer (Parente) foi a de desmontar a empresa - que foi fatiada para ser vendida em partes e a preços vil. Na ocasião da postagem sobre a posição da Shell, eu apresentei no mesmo texto, um esquema do processo de desintegração que vem sendo feito na Petrobras e em outros setores de nossa economia em termos de “desverticalização” ou desintegração. O esquema gráfico (veja abaixo) é parte da interpretação de minha pesquisa (tese de doutorado). Em breve resumo o assunto é melhor apresentado e detalhado na postagem de janeiro do blog citada no link acima. 
Enfim, este movimento resultante da alteração da política de preços de combustíveis da Petrobras, adotado desde setembro do ano passado, está desidratando a empresa, ao contrário do que se diz, em termos do que se chama de “saneamento” da empresa.
O emagrecimento do setor de refino da Petrobras tende a levar à privatização deste setor - o mais lucrativo da holding - e também do setor de distribuição, através da BR-Distribuidora, que oferecia garantias e espaço no mercado interno de combustíveis que, cada vez mais, passa a ser controlado pelas tradings como apresentado acima.
Assim, a Petrobras e o país, ao contrário da modernidade prometida pelos que endeusam o mercado, dão alguns passos atrás como grupo econômico brasileiro e enquanto nação.
É ainda mais lamentável observar que tudo isto se dá logo no momento posterior à descoberta o pré-sal, a maior fronteira de exploração de petróleo descoberta na última década no mundo, responsável por seis entre os dez maiores campos explorados neste período.
Diante do quadro tão real e claro, não é difícil compreender porque a mídia comercial e a especializada em negócios e finanças, trata estes dados e indicadores de forma fragmentada, sem uma interpretação mais totalizante.
Assim se pode ver que é a questão econômica que decide sobre os movimentos da política no Brasil contemporâneo. O país não pode ser interpretado sem se conhecer estes movimentos dos donos do dinheiro, em sua captura sobre o poder político (Estado), para implementar seus interesses, que, obviamente, diferem dos objetivos da Nação e de sua população.
O estudo desta fração do capital é elemento indispensável para se compreender os movimentos mais gerais da economia política no país. Os dados e indicadores expressam a materialidade do mundo real, mas só a observação e as análises mais totalizantes e calcadas em categorias e conceitos já conhecidos, permitem uma interpretação potente.
É lamentável enxergar tudo isto sendo feito no dia-a-dia. A resistência cresce e grande parte deste processo poderá ser revertido, conforme a orientação resultante da disputa pelo poder político ora em conflito aberto e clarividente.

POLÍTICA - Dois tipos de traficantes.


O traficante da favela e o traficante do Senado

Edição/247 Fotos: Pedro França/Ag. Senado | Reprodução
Bandido bom é bandido morto. Traficante quando é alvejado pela polícia é motivo de comemoração. Se ele estiver na favela. A imagem desse bandido no imaginário brasileiro é sempre um negro, pobre, em uma área carente, segurando um fuzil. Mas droga é um negócio lucrativo e nem todo traficante está na periferia. Recentemente, um grampo da Polícia Federal flagrou uma frase emblemática do Senador Zezé Perrella: "Não faço nada de errado, só trafico drogas".
O Senador ficou politicamente marcado pelo caso de quase meia tonelada de cocaína, encontrada no helicóptero pertencente a uma empresa de sua família. O piloto, que era funcionário de seu filho, Gustavo Perrella, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, foi preso e os Perrella absolvidos. Zezé Perrella já era Senador, com foro privilegiado e ainda exerce seu mandato, pelo PSDB. A conversa, divulgada pela PF, foi justamente com outro Senador tucano, Aécio Neves, que cobrava de Perrella mais fidelidade em suas declarações sobre a Operação Lava Jato.
O Senador reafirma que é inocente no caso do helicóptero e que foi irônico na gravação da PF. Mas não há dúvidas de que os indícios de uma ligação, ainda que indireta, com o tráfico são contundentes. No entanto, o caso não ocupou tanto destaque nos noticiários ou nos debates nas redes sociais. A polêmica declaração passou praticamente batida pela mídia ou pela ala conservadora da sociedade. Afinal, Zezé Perrella é branco, rico, empresário, senador e, no alto de sua moralidade, participou da comissão que julgou Dilma Rousseff, por supostos crimes de responsabilidade.
Na periferia, não é preciso haver tantas evidencias. Ações violentas nas favelas brasileiras é rotina. Muitas vezes, com mortes de inocentes. Normalmente, os números não são tão divulgados, pois os mortos são em sua ampla maioria negros e pobres. A sociedade aprova uma verdadeira chacina étnica em nome da "guerra às drogas", e ao mesmo tempo admite que os grandes casos de apreensão de drogas continuem obscuros e mal explicados.
No Congresso Nacional, a impunidade e indignação seletiva já estão virando uma infeliz tradição do povo brasileiro. Na favela, a violência e a arbitrariedade é uma triste rotina. Indícios de crimes, quando emergem em ambientes tão distintos, despertam uma reação incrivelmente diversa das autoridades e da população: a uns pena de morte; a outros, absolvição. E assim segue a hipocrisia no país da desigualdade.

POLÍTICA - Lula enfrentaria Bolsonaro.

Lula teria 25,8% contra 16,1% do deputado fluminense. Ou seja: o PSDB, que se associou a Eduardo Cunha e Michel Temer para golpear a democracia brasileira ficaria de fora.
É por isso mesmo que a oligarquia política luta para emplacar o "golpe dentro do golpe", que seria a substituição de Temer por um presidente biônico, por meio de eleições indiretas.
Confira, abaixo, os cenários levantados pela Paraná Pesquisas:
Cenário 1
Lula 25,8%
Jair Bolsonaro 16,1%
João Doria 12,1%
Marina Silva 11,1%
Joaquim Barbosa 8,1%
Ciro Gomes 4,3%
Ronaldo Caiado 1,6%
Luciana Genro 1,5%
Cenário 2
Lula 25,4%
Jair Bolsonaro 16,8%
Marina Silva 10,4%
Joaquim Barbosa 8,1%
Luciano Huck 7,3%
Geraldo Alckmin 6,4%
Ciro Gomes 4,2%
Ronaldo Caiado 1,6%
Luciana Genro 1,3%
Cenário 3 (sem Lula)
Jair Bolsonaro 17,2%
Marina Silva 14,9%
João Doria 13,6%
Joaquim Barbosa 8,7%
Ciro Gomes 6,7%
Bernardinho do Vôlei 3,7%
Fernando Haddad 3,1%
Luciana Genro 1,9%
Ronaldo Caiado 1,8%

POLÍTICA - Auditoria frusta Moro.


Auditoria frustra Moro na sua caçada a Lula

Por Altamiro Borges

Não foi manchete nos jornalões nem motivo de estardalhaço nas emissoras de televisão. Virou apenas uma nota minúscula postada no site da revista Veja nesta segunda-feira (29). Mas a notícia representa um duro baque para o "justiceiro" Sergio Moro, que na sua doentia obsessão contra o ex-presidente Lula já cometeu inúmeros abusos e ilegalidades. O mesmo juiz que faz afagos no cambaleante Aécio Neves e dá passe livre à mulher do correntista suíço Eduardo Cunha foi mais uma vez desmoralizado. Vale conferir a notinha:

*****

Auditoria não encontra atos ilícitos de Lula na Petrobras


KPMG respondeu ao requerimento feito por Sergio Moro
Por Ernesto Neves - 29 de maio 2017

A auditoria independente KMPG informou ao juiz Sergio Moro que não encontrou indícios de corrupção do ex-presidente Lula na Petrobras. A empresa auditou as contas da estatal entre 31.12.2006 e 31.12.2011.

“Em resposta ao ofício supra, a KPMG Auditores Independentes vem, respeitosamente, à presença de V.Exa, esclarecer que, durante a realização de auditoria das demonstrações contábeis da Petrobras, que abrangeu os exercícios sociais encerrados no período de 31.12.2006 e 31.12.2011, efetivada por meio de procedimentos e testes previstos nas normas profissionais de auditoria, não foram identificados pela equipe de auditoria atos envolvendo a participação do ex-presidente da república, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, na gestão da Petrobras que pudessem ser qualificados como representativos de corrupção ou configurar ato ilícito”, disse a KPMG.

Outra auditora, a PricewaterhouseCoopers analisou o período entre 2012 e 2016. E também afirma não ter encontrado atos de corrupção de Lula.

Altamiro Borges: Serraglio, o "bosta", bagunça plano de Temer

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Altamiro Borges: Plano Popular de Emergência é lançado em SP

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terça-feira, 30 de maio de 2017

Temer Esqueceu Que No Meio do Caminho Tinha o Povo

No Rio Mais de 100.000 Pedem Diretas Já

RELIGIÃO - "Não aos padres Google e Wikipedia".


     
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29 Maio 2017
    Responsáveis pelos seminários, “expulsem os seminaristas que murmuram”; caso contrário, como diz o ditado, “criam corvos e eles lhes arrancarão os olhos”. Devemos desconfiar dos sacerdotes “que sabem tudo”, aos quais as crianças poderiam chamar de “padres Google e Wikipedia”, porque fazem muito mal, assim como os padres “empresários”, que não estão abertos às surpresas de Deus. O Papa Francisco disse estas palavras na manhã do dia 27 de maio de 2017 na Catedral de São Lourenço da cidade de Gênova, onde se reuniu com os bispos da Ligúria, com o clero e os religiosos da região, com os colaboradores leigos da cúria e com representantes de outras confissões, na segunda etapa de sua visita à cidade. O Pontífice citou o cardeal Giovanni Canestri: “A Igreja é como um rio; o importante é estar no rio”.

    A reportagem é de Domenico Agasso Jr. e publicada por Vatican Insider, 27-05-2017. A tradução é de André Langer.

    Depois da saudação do arcebispo cardeal Angelo Bagnasco, o Bispo de Roma respondeu a algumas perguntas que lhe foram dirigidas pelos presentes. Mas, antes, ao tomar a palavra, pediu para “rezar juntos por nossos irmãos coptas egípcios que foram assassinados porque não queriam renegar sua fé. Junto com eles, junto com seus bispos, o meu irmão Tawadros, convido vocês para rezar em silêncio e, depois, juntos uma Ave-Maria. E não vamos esquecer que hoje os mártires cristãos são mais numerosos do que nos primeiros tempos da Igreja”.

    Santo Padre, pedimos que nos indique os critérios para viver uma intensa vida espiritual em nosso ministério que, na complexidade da vida moderna e das tarefas administrativas, tendem a fazer que vivamos dispersos e fragmentados.

    Penso que quanto mais imitarmos o estilo de Jesus, melhor será o nosso trabalho de pastores. Este é o critério fundamental: o estilo de Jesus. Jesus sempre estava a caminho, entre as pessoas, a multidão, diz o Evangelho, que distingue bem entre discípulos, multidão, doutores da Lei. Podemos intuir que Jesus passava a maior parte do tempo na rua: isso quer dizer proximidade com os problemas das pessoas; não se escondia. E depois, à noite, escondia-se para rezar. Isso é útil para nós, que sempre estamos com pressa, olhando para o relógio, porque devemos nos apressar; mas este comportamento não é pastoral. Jesus não fazia isso. Jesus nunca esteve parado, e, como todos os que caminham, está exposto a tensões.

    O maior medo que devemos ter é de uma vida estática, do padre que tem tudo bem resolvido, em ordem, estruturado, tudo em seu lugar. Eu tenho medo do padre estático, inclusive quando é estático na oração, de tal hora a tal hora. Mas não tem vontade de passar uma hora com o Senhor? Uma vida tão estruturada não é uma vida cristã. Talvez esse pároco seja um bom empresário, mas é cristão? Pelo menos vive como cristão? Sim, celebra a missa, mas, e o estilo? É cristão ou empresário? Jesus sempre foi um homem da rua, do caminho, aberto às surpresas de Deus; pelo contrário, o sacerdote que tem tudo planejado, tudo estruturado, geralmente está fechado às surpresas de Deus, e  perde essa alegria da surpresa do encontro. O Senhor não o surpreende quando está à Sua espera, mas se está aberto.

    Não devemos ter medo desta tensão que vivemos; nós estamos a caminho e o mundo é assim: um educador, um pai, um sacerdote está exposto a esta tensão; um coração que ama sempre viverá exposto a esta tensão.

    Se olhamos para Jesus, os Evangelhos nos fazem ver dois momentos fortes, que são o fundamento: o encontro com o Pai e o encontro com as pessoas, todas, inclusive as mais incômodas, como os leprosos.

    A oração: você pode rezar como um periquito, mas não é a maneira correta. Em vez disso, encontre o Senhor, cale-se, deixe-se ver, diga alguma coisa ao Senhor... Encontro. Com as pessoas, a mesma coisa. Nós sacerdotes, sabemos o quanto as pessoas que vem pedir conselhos sofrem e nós respondemos apressadamente: “Agora não tenho tempo”. Depressa e não a caminho.

    Claro, estar com as pessoas cansa, mas é o Povo de Deus! Pensem em Jesus! Devemos nos deixar cansar pelas pessoas, não defender demais a nossa própria tranquilidade.

    O sacerdote não deve falar demais de si mesmo, não deve sentir a necessidade de olhar-se no espelho. O cansaço que serve é o da santidade, e não deve ser auto-referência. Devemos nos perguntar: “Sou homem da rua? De ouvidos que sabem escutar? Deixo-me cansar pelas pessoas?” Assim era Jesus, não há outras fórmulas.

    Fará bem a todos nós, sacerdotes, recordar que só Jesus é o Salvador, não há outros. E pensar que Jesus nunca se devotou às estruturas, mas sempre se vinculava às relações. Se um sacerdote vê que está devotado às estruturas, algo não funciona.

    Certa vez ouvi um homem de Deus, possível beato, dizer que na Igreja devemos devotar o mínimo de tempo para as estruturas e o máximo de tempo para a vida, e não o contrário.

    Sem a relação com Deus e com o próximo nada tem sentido na vida de um presbítero: fará carreira, irá a essa paróquia de que gosta, mas o coração ficará vazio, porque seu coração está devotado às estruturas e não às relações essenciais, com o Pai e com Jesus e com as pessoas.

    Nós gostaríamos de viver melhor a fraternidade sacerdotal tão aconselhada por nosso cardeal arcebispo e promovida com encontros diocesanos, de vicariatos, peregrinações, retiros e exercícios espirituais, semanas de comunidade... O senhor pode nos dar alguma indicação?

    Quantos anos você tem (“81 já completados”, foi a resposta, ndr.). Somos contemporâneos. Faço-lhe uma confissão: ouvindo-o falar assim, lhe teria dado 20 anos a menos (risos gerais, ndr.).

    Fraternidade é uma bela palavra, mas não é cotada na Bolsa de Valores; é uma palavra, viver a fraternidade entre nós é muito difícil, é um trabalho diário na fraternidade presbiteral. Nós temos um perigo, o de ter criado essa imagem de padre que sabe tudo, que não necessita de conselhos. As crianças podem dizer: “Este é um padre Google e Wikipedia!” E isso faz mal à vida presbiteral.

    Por que perder tanto tempo em reuniões? E quantas vezes nas reuniões eu estou em órbita e não escuto o meu irmão sacerdote que está falando? Se o bispo dissesse: “Vocês sabem que no ano que vem vai subir o 8X1000” (imposto, na Itália, destinado pelos contribuintes que o desejarem à Igreja católica, ndr.), aí sim passa a chamar a atenção!) (Risos gerais, ndr.) Há perguntas que devemos nos fazer se nas reuniões não escuto o outro que está falando: por que não me interessa? Por que não me interessa o que o meu irmão sacerdote está dizendo?

    Devemos nos ouvir mutuamente, rezar juntos, fazer um bom almoço juntos, e fazer festa juntos; os sacerdotes jovens, um jogo de futebol juntos, isso faz bem: ser irmãos. A fraternidade é muito humana. Os “irmãos” são uma riqueza para o outro.

    Os presbíteros e os bispos não são o Senhor, nós somos os discípulos do Senhor. Devemos nos ajudar, também discutir, como os discípulos que discutiam sobre quem era o maior dentre eles, mas não fazer fofocas, “dizer por trás”: “ouviu o que este idiota disse?” Não às murmurações e às competições.

    Pensei três vezes se podia dizer isso, não sei se devo dizê-lo, mas posso dizê-lo (risos, ndr.). Para fazer uma nomeação de um bispo pede-se informações a sacerdotes, fiéis, consagrados. Às vezes, encontram-se calúnias ou opiniões que, sem serem graves, desvalorizam o sacerdote, e entende-se imediatamente que por trás estão os ciúmes. Quando não há fraternidade sacerdotal existe a traição da fé. Para seguir em frente, para crescer, depena-se o irmão.

    Os grandes inimigos contra a fraternidade sacerdotal são a inveja e os ciúmes. Acontece que, às vezes, a ideologia é mais importante que a fraternidade, e até mesmo que a doutrina. Onde chegamos? Pode ajudar saber que ninguém de nós é o todo, todos somos parte de um corpo, a Igreja de Cristo. A pretensão de ter razão sempre leva-o a equivocar-se, mas isso se aprende já no seminário.

    Um bom arcebispo daqui, o cardeal Canestri, dizia que “a Igreja é como um rio; o importante é estar no rio”, mas estar do lado direito ou esquerdo do rio é uma variedade lícita; o importante é estar no rio. E muitas vezes nós queremos que o rio fique pequeno e que esteja só do nosso lado, e condenamos os outros. Isso não é fraternidade. Todos dentro do rio!

    Isso se aprende no seminário, e eu aconselho aos formadores: se veem um seminarista bom, inteligente, mas que é fofoqueiro, expulsem-no: será uma hipoteca para a fraternidade. Há um dito popular que diz: criam corvos e eles lhes arrancarão os olhos; se cria corvos no seminário, destruirão qualquer fraternidade no presbitério.

    E existe também o pároco e o vigário paroquial. Às vezes estão de acordo, às vezes estão em lados diferentes do rio: façam um esforço para se compreenderem e se falarem. O importante é estar no rio e não fazer fofocas; precisamos criar unidade, devemos acolher os dons, os carismas, as luzes de cada um.

    Certa vez, alguns monges foram ver o abade Pafnúncio, preocupados com os pecados de um deles e pediram-lhe ajuda: “Sim, vi na margem do rio um homem na lama até os joelhos. Alguns irmãos queriam dar-lhe uma mão, e, pelo contrário, afundaram-no até o pescoço. Há algumas ajudas que, na realidade, tratam de destruir, disfarçadas de ajuda”.

    Uma coisa que vai nos ajudar muito quando estivermos diante dos pecados e das coisas ruins de nossos irmãos que tratam de romper a fraternidade é perguntar-se: quantas vezes eu fui perdoado?

    O senhor viveu uma longa vida consagrada em diferentes situações e com diferentes cargos de responsabilidade. O que pode nos dizer para viver a nossa consagração com maior intensidade, fiéis ao nosso carisma, ao nosso apostolado e à diocese? (Pergunta da Irmã Rosangela Sala, presidenta da USMI da Ligúria, ndr.)

    Irmã Rosangela, conheço-a há anos. É boa, mas tem um defeito: anda a 140 quilômetros por hora (risos, ndr.). A diocese é essa porção do Povo de Deus que tem rosto. Ela fez, faz e fará história. Todos estamos na diocese. Isso nos ajuda a fazer com que a nossa fé não seja teórica. E vocês, consagradas e consagrados, são um presente para a Igreja; cada carisma é um presente para a Igreja universal. Mas sempre é interessante ver como todos os carismas nascem em um lugar concreto que depois cresce e tem um caráter universal, mas na origem sempre tem uma concretude.

    É bonito recordar como não há um carisma sem uma experiência fundadora concreta, raízes concretas. Pensemos nos franciscanos: o lugar que nos vem à mente imediatamente é Assis, “Mas somos universais”. Sim, é verdade, mas a origem concreta prevalece. O carisma é para ser encarnado, nasce em um lugar concreto e depois cresce. Mas sempre devemos buscar onde nasceu. Isso nos ensina a amar as pessoas nos lugares concretos. Concretamente. A concretude da Igreja é dada pela “diocesanidade”. Isso não quer dizer matar o carisma, não; ajuda para que o carisma se torne mais real, mais visível, mais próximo. Quando a universalidade de um instituto se esquece que deve se inserir nos lugares concretos, nas dioceses concretas, esta ordem final esquecerá onde nasceu. Universaliza-se, mas não há essa concretude da “diocesanidade”. Institutos religiosos voadores não existem, e se alguém tem essa pretensão, acabará mal.

    E pensar na universalidade sem concretude leva à auto-referencialidade. E depois enfatizo a disponibilidade. Disponibilidade para ir para onde há mais riscos, necessidades; é preciso doar o carisma, inserir-se onde há mais necessidades, em todas as periferias. Estas periferias são o reflexo dos lugares em que nasceu o carisma primordial. E quando digo disponibilidade também digo revisão das obras: às vezes são feitas porque não há pessoal; mas também quando não há pessoal é bom perguntar: o nosso carisma é necessário aqui? Devemos estar disponíveis, com prudência de governo, mas sem medo dos riscos.

    POLÍTICA - Lula não poderá propor mais do mesmo se quiser reunificar a esquerda.

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    30 Maio 2017
      Para o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)Guilherme Boulos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser impedido "no tapetão" de se candidatar em 2018 ou numa eventual eleição direta para suceder Michel Temer no Palácio do Planalto. Porém, caso o petista proponha o mesmo programa com que o PT governou o país por 13 anos, aliando-se ao empresariado e recompondo com partidos que hoje apoiam TemerBoulos defende que a esquerda construa uma proposta alternativa.

      Foto: Divulgação
      "(Lula e o PT) mantiveram o tipo de aliança com parte do empresariado que banca as campanhas eleitorais. Foi um erro brutal, e o fato de não terem inventado esse método não os isenta. Tudo que ocorreu depois é consequência dessa opção política profundamente equivocada", ele diz.
      Em entrevista à BBC Brasil, 29-05-2017, Boulos afirma que o grande desafio da esquerda brasileira é reconectar suas pautas à maioria do povo, superando o erro de ter tratado as ruas como palco secundário nos últimos 20 anos. Para ele, a realização de eleições diretas para substituir Temer é a única maneira de barrar as reformas trabalhista e previdenciária propostas pelo governo.
      Formado em filosofia na USP e professor de psicanálise, Boulos ingressou no MTST em 2002. Hoje, aos 34 anos, é tido como um dos mais influentes representantes de movimentos sociais de esquerda no Brasil - e também um dos principais alvos de grupos de direita, que o criticam por seu papel à frente de ocupações sem-teto. Ele conversou com a BBC Brasil num café em Brasília na última quinta-feira, um dia após participar da manifestação na Esplanada dos Ministérios contra o governo Temer.
      Eis a entrevista.
      Qual o melhor desfecho para o impasse atual na política?
      governo Temer perdeu qualquer condição de seguir adiante. Ele já não tinha legitimidade e agora perdeu a condição política. E qualquer saída que possa ser pensada pelo Congresso, via eleição indireta, é um acinte, é inadmissível, porque temos o Congresso mais desmoralizado, com menos autoridade, da história da República. A única saída é chamar o povo a decidir por meio de eleições diretas. Eleições gerais, ainda que as presidenciais sejam mais factíveis num primeiro momento. Esse seria o início da saída para a crise.
      Como convocar diretas sem violar a Constituição?
      Uma via é a PEC (Proposta de Emenda à Constituição 227, do deputado federal Miro Teixeira, da Rede-RJ) tramitando no Congresso. Outra é a possibilidade de cassação da chapa (Dilma-Temer) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A lei eleitoral prevê que, em caso de cassação de chapa, chamam-se eleições diretas, a não ser nos últimos seis meses de mandato. Há quem diga que isso conflita com a Constituição. Mas a convocação de diretas é factível porque, embora a Constituição diga que cabe ao Congresso eleger o presidente nos dois últimos anos de mandato, o próprio Congresso abriu mão dessa prerrogativa ao aprovar a lei eleitoral.
      O que me espanta é o nível de hipocrisia de pessoas que, há um ano, não tiveram nenhum pudor em rasgar a Constituição para fazer um impeachment sem crime de responsabilidade e agora vêm encher a boca para falar que uma saída que devolve a soberania popular é inconstitucional.
      Há chances de que, pela saída de Temer, movimentos de esquerda se unam nas ruas aos manifestantes que defendiam o impeachment de Dilma? Você marcharia ao lado desses grupos?
      Os manifestantes que foram às ruas de verde-amarelo e defenderam o impeachment muitas vezes o defenderam por um sentimento contra a corrupção, ou depois até perceberam que foram em parte manipulados por setores políticos e midiáticos. Eles também estão contra o Temer, são contra as reformas e defendem eleições diretas. São bem-vindos nas nossas manifestações e nós queremos trazê-los.
      Outra coisa são os movimentos Vem pra Rua e MBL (b). Com essa turma não vemos possibilidade de marchar, porque são movimentos que perderam qualquer credibilidade. Venderam o peixe de que o impeachment era para acabar com a corrupção e tirar o país da crise, mas veja onde estamos. Uma turma que até semana passada estava apoiando entusiasticamente o Michel Temer, fazendo manifestações chapa branca, agora quer se colocar nesse processo?
      As cenas de destruição no último protesto em Brasília não podem afugentar manifestantes nos próximos atos?
      Quem foi responsável pela violência foi a polícia. Foi ela quem iniciou o processo, ao atacar de maneira desproporcional as pessoas. Quem estava lá viu um aparato de guerra, bombas sendo atiradas de helicópteros, muita gente ferida. Só do MTST tivemos dois militantes com ferimentos sérios no rosto, e houve gente ferida por munição letal. Isso também gera uma animosidade. As pessoas viajam dias pra chegar em Brasília para uma manifestação e, quando chegam perto do Congresso, são recebidas a porrada e bomba. Qualquer reação a isso é legítima.
      Há algum nome que você apoiaria numa eleição direta?
      Neste momento, não. A discussão de eleições diretas é necessária para barrar a agenda que está sendo aplicada no país. As diretas são a única maneira de barrar politicamente essa agenda. Duvido muito que alguém que prometa numa eleição liquidar a aposentadoria e acabar com direitos trabalhistas conquistados há 80 anos vá chegar a 1% de votos no Brasil. Quando dissemos que o que ocorreu no ano passado foi um golpe, não foi apenas por razões jurídicas. Foi um golpe também do ponto de vista da agenda política. Essa agenda (de Temer) não passou pelo crivo das urnas. Se houver eleições indiretas, conhecendo o perfil do Congresso, é de se esperar que quem entre esteja comprometido com a mesma agenda antipopular.
      O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o ex-presidente FHC (PSDB) e o ex-ministro Nelson Jobim (PMDB) são alguns dos principais nomes cotados para uma eventual eleição indireta. Algum deles teria sua preferência?
      Nenhum. Sobre eleição indireta, não vamos nem discutir, somos contra esse processo. É vergonhoso que uma parte da esquerda brasileira entre nesse balcão de negócios ilegítimo de nomes para uma eleição indireta. No Brasil, em situações de crise profunda, sempre se construíram soluções conservadoras e de cúpula. Acho que tem mais uma sendo preparada. A Globo e uma parte do establishment se deram conta de que esse sistema político chegou ao seu limite. Quando um sistema perde a legitimidade, o risco do povo se organizar e derrubá-lo é real, e a Casa Grande no Brasil tem tremeliques só de pensar nisso.
      Tal como (o general) Golbery (1911-1987) fez na transição para este sistema democrático cheio de limites, tem um povo percebendo que não dá mais. A bandeira é o combate à corrupção, e quem pode expressar uma transição é o Judiciário. Com um Executivo caindo pelas tabelas e um Legislativo desmoralizado, quem tem ocupado o vácuo no poder é o Judiciário.
      Esses setores resolveram apostar nessa saída porque acham que dessa maneira poderiam aplicar as agendas deles com mais apoio social. Quando se aventa o nome de Cármen Lúcia, quando aparece nas pesquisas o nome de Sergio Moro... Ninguém cria um herói nacional para deixá-lo mofando na Vara de Curitiba. É preocupante que setores usem a insatisfação com Temer e a indignação legítima contra a corrupção para impor novos arranjos de cúpula que podem implicar saídas autoritárias e uma judicialização perigosíssima da política.
      Muitos na esquerda torcem por uma candidatura de Lula numa eventual eleição direta. Não seria uma estratégia arriscada, dada a alta rejeição que ele tem?
      Lula tem direito de ser candidato, seja agora ou em 2018, e tentativas de barrá-lo no tapetão são antidemocráticas e visivelmente casuísticas. Tem que ver com qual programa Lula vai ser candidato, porque se for com o programa - e às vezes sinaliza-se nesse sentido - de mais do mesmo, de recompor com os mesmos partidos que agora estão fazendo essa agenda e deram o golpe, de não ousar propor mudanças mais estruturais, será um programa que não unificará a esquerda brasileira.
      Uma candidatura do Lula não sufocaria outras candidaturas à esquerda? Ele ainda não é uma figura muito dominante nesse campo?
      É claro que é. Ele é a maior liderança social que o país produziu talvez na sua história. Agora, o que fazer? Para construir uma alternativa tem que inviabilizar o Lula? Não dá, isso é parte do jogo. Cabe à esquerda que tenha posicionamentos críticos ao Lula apresentar um programa alternativo a esse e se apresentar não só no processo político eleitoral, mas também nas ruas, construindo bases sociais para esse programa.
      Ainda que Lula venha a ser inocentado na Justiça, ele não traiu bandeiras da esquerda ao se aproximar tão intensamente de grandes grupos empresariais? Ainda há condições para que o PT, que teve tantos políticos presos e condenados, represente a esquerda?
      Lula e o PT pagam o preço da opção que tomaram. Quando chegaram ao governo, poderiam ter enfrentado o sistema político. Esse sistema está baseado na corrupção: a corrupção não é um acidente, é a norma de funcionamento para obter maioria parlamentar, para conseguir dinheiro para o financiamento de campanha, favorecendo as empresas depois. Isso não foi o PT que inventou, é a natureza do sistema.
      Poderiam ter dito "não dá assim, vamos chamar uma Constituinte, vamos mudar isso". Há quem diga "ah, mas aí não teriam maioria congressual". É óbvio que não teriam. Se alguma esquerda acha que vai fazer governo de esquerda no Brasil com maioria congressual, não está entendendo o que se passa. Setores democráticos e progressistas nunca tiveram maioria no Parlamento brasileiro com esse modo de se eleger. A única forma de haver um governo de esquerda é apelando à mobilização popular para pressionar o próprio Congresso. Governabilidade não é só uma lógica tacanha, ela tem que ser construída nas ruas.
      Lula e o PT optaram por outro caminho. Eles mantiveram o tipo de aliança com parte do empresariado que banca as campanhas eleitorais. Foi um erro brutal, e o fato de não terem inventado esse método não os isenta. Tudo que ocorreu depois é consequência dessa opção política profundamente equivocada.  
      O PSOL ou algum outro partido pode preencher o espaço outrora ocupado pelo PT na esquerda brasileira?
      PT foi o partido hegemônico na esquerda nos últimos 35 anos. Hoje ele perde as condições de sê-lo. O PSOL é um partido importante, com parlamentares que têm tido atuação correta, mas ainda não ocupa esse papel. E ainda assim, dentro do PT e na base do PT, há muita gente que quer ser parte de um projeto de esquerda renovado no Brasil. Isso passa pela construção de um novo campo político que não nega o que foi, que tenha capacidade de reconhecer acertos, dialogar e compor com um conjunto do que foi a esquerda brasileira nos últimos 30 anos. Mas que aponte taxativamente para o novo, que reconheça os erros cometidos e os limites da trajetória da esquerda até aqui.
      A Rede, da Marina Silva, entraria nesse campo?
      Rede da Marina, não. Mas há setores na Rede, minoritários, como o (deputado federal Alessandro) Molon, (o senador) Randolfe Rodrigues, que são parte da construção de uma nova esquerda no Brasil. Mas isso não pode ser um arranjo partidário. Se for, não funciona. Tem que vir com um caldo de mobilização social, de baixo, com participação ampla, com ativismo popular, com movimentos sociais que estão em luta. A construção de uma nova esquerda no Brasil é à quente, no calor da mobilizações. Como a gente concretiza um projeto novo de esquerda no Brasil que, ao mesmo tempo, não perca a capacidade de sonhar, resgate a esperança que foi afogada por um pragmatismo tacanho, e que também seja viável, tenha pé no chão, no barro, na base social? Que seja capaz de mobilizar e influenciar setores da sociedade brasileira? Esse é o grande desafio.
      Você considera se lançar na política?
      O desafio neste momento é produzir um processo de resistência popular e de luta social no Brasil. A maior parte da esquerda cometeu um erro muito grande nos últimos 20 anos: paulatinamente, foi tratando as ruas como palco secundário, preocupando-se apenas com disputa institucional. Deixou de fazer trabalho de base e perdeu a sintonia com parte da sociedade. Temos de reconectar as pautas desse campo de esquerda à maioria do povo. Isso pode passar também por processos eleitorais, não descarto isso. Mas tem muita gente já pensando em 2018, enquanto nosso desafio agora é ganhar 2017. O que está posto para o movimento social brasileiro é não deixar passar o conjunto de retrocessos que nos fariam voltar décadas.