domingo, 29 de maio de 2016

POLÍTICA - "A saída é sempre pela esquerda, com trabalhadores e o povo.

Não é por Dilma e nem pelo PT

Por Walter Takemoto, na revista Caros Amigos:

Os últimos vazamentos de gravações, que estavam em poder do Janot, escancaram, para quem tinha questionamentos honestos (pois para alguns nem que o deus dos parlamentares desça a terra e diga os convencerá), que o que estamos vivendo em nosso País é um golpe muito bem articulado pelos meios de comunicação, Judiciário, agentes do Estado, a elite econômica e grande parte dos parlamentares que um dia o Lula chamou de picaretas.

Mas o centro do golpe não tinha como objetivo tão somente destituir a Presidenta Dilma do cargo para o qual foi eleita por 54 milhões de eleitores. Retirá-la do cargo, criminalizar o Lula e o PT, representavam apenas possibilitar que um “pau mandado” dos principais interessados no golpe alcançasse os seus objetivos.

E o golpista Temer explicita os reais objetivos que pretendem alcançar com o golpe.
Se o golpe o alçou ao posto de presidente interino, ou golpista de plantão, pelo prazo de até 180 dias, as medidas que está anunciando irão ter reflexos profundos para as futuras gerações do nosso País. Não se trata de acabar com a corrupção (Romero Jucá e Renan confessaram) e muito menos de crime de responsabilidade cometidos pela Presidenta Dilma (os golpistas nada provaram). Trata-se da famosa fala “farinha pouca meu pirão primeiro”.

Estamos em uma crise econômica mundial profunda? O orçamento da União não dá conta de atender os interesses das corporações? Cortam-se os gastos públicos, mas onde não atingem os interesses daqueles que apoiaram o golpe e sim dos trabalhadores, dos pobres e historicamente excluídos. Os mesmos que durante a ditadura civil-militar esperaram o bolo crescer para ser repartido e ao fim e ao cabo ficaram apenas com as migalhas que caiam da mesa.

E o golpista de plantão, poucos dias após tomar de assalto a cadeira da Presidenta Dilma, vem anunciando medidas que destruirão conquistas históricas dos trabalhadores e do povo pobre.

Cortes na saúde e na educação, com a redução dos gastos mínimos obrigatórios nesses dois setores que são fundamentais para a população, desvinculação dos reajustes do salário mínimo dos benefícios pagos pela Previdência, redução nos gastos públicos, suspensão do Programa Minha Casa Minha Vida, fim do Fundo Soberano, fim do regime de partilha do Pré-Sal, sem contar na extinção de ministérios fundamentais para o enfrentamento da desigualdade social e a proteção de direitos para os que sempre estiveram à margem da sociedade.

E vejam bem: estamos falando de um indivíduo que chegou à presidência sem voto, sem apoio popular, com centenas de milhares de jovens, homens, mulheres e parte do mundo civilizado afirmando que está nesse lugar e tomando essas medidas por meio de um golpe, cuja legitimidade se tentou construir com intenso bombardeio diário de uma verdadeira máquina de guerra em que se transformaram os meios de comunicação no País, alimentado pelo Judiciário e agentes de Estado.

E como em vinte minutos tudo pode mudar, de repente a Folha de São Paulo, diário oficial golpista e tucano, inicia a publicação de conversas gravadas entre Jucá e um delator da Lava Jato.

Nas redes sociais muitos se perguntam sobre qual o interesse da Folha em publicar essas conversas que denunciam o golpe e seus articuladores.

É preciso não se esquecer que no dia 02 de abril a Folha publicou um editorial com o título Nem Dilma Nem Temer, defendendo a renúncia dos dois e a convocação de novas eleições presidenciais.  Já nessa época, a Folha considerava que em caso de afastamento da Dilma o golpista de plantão Temer não teria condições de governar diante da resistência dos militantes do PT e das centrais sindicais e da falta de apoio popular, constatada em todas as pesquisas de opinião até então realizadas. 

Hoje se confirma que a incapacidade de governar do golpista é ainda maior do que imaginava o editor da Folha. Sedes do Ministério da Cultura ocupadas em todo o País, manifestações diárias em várias capitais, imprensa internacional denunciando o golpe, personalidades de todo o mundo declarando repúdio ao golpe e ao Temer. Enfim, a resistência ao golpe e às medidas anunciadas tendem a elevar ainda mais as manifestações nas ruas e em todas as partes do mundo ao que representa o afastamento da Presidenta Dilma da presidência e a destruição do que se conquistou até hoje de direitos no País. Para o golpista Temer restará poucos apoios internacionais, como o do Macri, que mesmo eleito pelo voto popular na Argentina enfrenta manifestações cada vez maiores contra as medidas de austeridade que está adotando.

Os vazamentos da Folha representam a “bala de prata” para se tentar legitimar o golpe com o voto popular por meio de novas eleições presidenciais ainda nesse ano. E essa proposta, diga-se, tem apoio de parlamentares de vários partidos, inclusive do PT.

Não podemos nos esquecer que, caso essa proposta venha a ocorrer, a eleição se dará em um contexto no qual provavelmente a quadrilha golpista tenha guardado munições suficientes para tentar destruir Lula ou qualquer outro candidato de esquerda (delações e gravações é o que não faltam), as contribuições para campanha eleitoral estarão bloqueadas para a esquerda e fartamente disponível para os golpistas. E a máquina de guerra dos meios de comunicação estará azeitada para fabricar o candidato que poderá salvar o País da crise econômica e dos corruptos, do PT e dos que viabilizaram o golpe e deixaram de ser aliados de ocasião.

Para quem está nas ruas lutando, hoje a convocação de eleições presidenciais, eleições gerais, plebiscito ou Assembleia Constituinte, não pode representar alternativa para o Fora Temer e Fica Dilma.

Fora Temer é fora o golpe e seu projeto antipopular, excludente, de destruição das conquistas sociais e dos direitos dos trabalhadores. De retrocesso de décadas e de crescimento da intolerância e do preconceito.

Fica Dilma é a defesa da democracia, mesmo que incipiente, da liberdade, e de exigência de que seu governo, desde já, assuma compromissos sólidos com os que estão nas ruas lutando contra o golpe. São os compromissos que defendeu no segundo turno em contraposição ao candidato que hoje é parte da quadrilha golpista.

O que temos para hoje é lutar para derrotar o golpe. Não ao Temer e sim à Dilma. Não ao retrocesso e sim à ampliação dos direitos sociais dos trabalhadores e do povo. Não ao fundamentalismo e sim à liberdade.

Trata-se de barrar o golpista Temer e todas as medidas que está anunciando, de construir um amplo movimento social, com os partidos de esquerda, a Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, artistas, intelectuais, organizações populares, movimentos culturais, construir em cada bairro e vila grupos de defesa da democracia e dos direitos sociais, para que a partir da defesa dos direitos que conquistamos se possa derrotar o golpe em toda a sua dimensão, que é a volta da Presidenta Dilma, mas em um novo contexto político: o dos trabalhadores e do povo pobre organizados para exigir que o seu governo não mais se renda aos 300 picaretas e seus partidos.

Nenhum passo atrás na luta contra o golpe e em defesa da democracia e da liberdade.

A saída é sempre pela esquerda, com os trabalhadores e o povo.

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