Zelotes andou na direção de Lula após troca de juízes, e PT ajudou nisso



Jornal GGN - Há alguns meses, o procurador da República Frederico Paiva, que conduz a força-tarefa da Operação Zelotes no Ministério Público Federal, ocupou páginas de jornais reclamando da conduta de um juíz que não despachava na mesma velocidade que Sergio Moro na Lava Jato.
Quando a Zelotes ainda estava no encalço de poderosos grupos econômicos e consultorias que teriam se beneficiado de um esquema de pagamento de propina em troca de abatimento de dívidas bilionárias com a Receita Federal, o juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, negou pedidos de prisão temporária, não autorizou operações busca e apreensão, suspendeu interceptações telefônicas, tornou parte dos autos sigilosos e, assim, segundo o MPF, atrapalhou acordos de delação premiada e afastou o interesse da mídia.
Duas representações contra o magistrado foram protocoladas na Corregedoria do Tribunal Regional Federal e no Conselho Nacional de Justiça. Somente após as reclamações, houve troca de juízes e a Zelotes começou a dar os primeiros passos, para posteriormente mudar de rumo, ampliando o leque de investigações a ponto de atingir a família do ex-presidente Lula.
Ironicamente, quem ajudou o MPF a reclamar da atuação cautelosa do juíz Ricardo Leite foi o próprio PT, com a ação encaminhada pelo deputado federal Paulo Pimenta ao CNJ. À época, Pimenta acreditava que a Zelotes sofria com uma espécie de "operação abafa", pois os jornais não demonstravam interesse em denunciar a corrupção de grupos como RBS (Rede Globo), Santander, Bradesco, Itaú, Banco Safra, Opportunity, entre outros. E a conduta independente do juíz também não agradava aqueles que esperavam da Zelotes efeitos tão radicais quanto os da Lava Jato.
Relator da subcomissão da Câmara que acompanha a Zelotes, Pimenta teve sua representação acolhida pela ministra Nancy Andrighi, da Corregedora Nacional de Justiça, que intimou Ricardo Leite. Em agosto, o PT anunciou a substituição pela juíza Marianne Bezerra Borré. Àquela época, o MPF ainda ensaiava a entrega de denúncias contra grandes corporações financeiras.
No mês seguinte, em setembro, o foco da investigação sofreu uma reviravolta. O caso voltou para a 10ª Vara Criminal e a juíza Célia Regina Ody Bernardes assumiu os trabalhos, materializando o anseio do MPF por medidas que destravassem a Zelotes.
Célia Bernardes foi quem, inspirada em Sergio Moro, incorporou a juíza linha-dura e autorizou a busca e apreensão na LFT Marketing Esportivo e na TouchDown, empresas de Luis Cláudio Lula da Silva, a pedido dos procuradores José Alfredo de Paula Silva e Raquel Branquinho. A juíza integra a Associação dos Juízes pela Democracia, entidade considerada "garantista" e muito criticada por movimentos à direita do espectro ideológico. 
Segundo a defesa de Luis Cláudio, a juíza aceitou a "mera opinião" do MPF para autorizar uma ação que deveria ocorrer em casos extremos. Os procuradores suspeitam que a empresa do filho de Lula recebeu recursos de uma consultoria que supostamente teria negociado a compra de medidas provisórias para beneficiar companhias do setor automotivo. Os advogados tentam anular a decisão da juíza e, consequentemente, os efeitos da busca e apreensão.