Depois de pressionar por 4 meses, Moro fecha delação para incriminar Duque

 
Apesar do discurso da força-tarefa de que delação não é forma de chantagem, alguns depoimentos revelam jogo de coerção utilizado por Sergio Moro
 
 
Jornal GGN - O juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná, homologou nesta segunda-feira (26) mais um acordo de delação premiada na Operação Lava Jato. O novo colaborador é João Antônio Bernardi Filho, ex-executivo da Odebrecht e representante da empresa Saipem, que foi assaltado quando levava a propina de R$ 100 mil em espécie para Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. 
 
Desde junho, João Antônio Bernardi Filho aguentou quatro meses os trâmites naturais, pela Justiça, a que foi denunciado. Pressionado, acertou a delação, automaticamente confessando a prática de crimes investigados na Lava jato, o que deu ao suposto intermediário da propina, em troca, o direito de responder em liberdade. 
 
O interesse de Sergio Moro nos novos depoimentos de João Antônio Bernardi Filho é fechar os elos que incriminam Renato Duque, indicado pelo PT ao cargo na estatal. Atualmente, o ex-diretor da Petrobras já é denunciado pelos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro, ao favorecer a empresa italiana Saipem nas obras do gasoduto da Bacia de Santos. 
 
O termo de delação, que já foi vazado à imprensa (leia abaixo), mostra que o executivo era quem gerenciava as contas e recebimentos de Duque, sobretudo no exterior. Ele teria aberto uma offshore, a Hayley SA, no Uruguai, e uma filial no Brasil, para receber e ocultar as quantias. No depoimento oferecido no dia 15 de outubro, Bernardi afirma que "entre 2009 e 2010 a Hayley recebeu por volta de 5 milhões de dólares". 
 
Desde que o instrumento da delação premiada foi acusado pelas defesas que se tratava de uma forma de chantagear os investigados a admitirem os crimes em troca da liberdade, a equipe da força-tarefa da Lava Jato encabeçou uma campanha, contabilizando que a maioria das delações não ocorreu com delatores presos, mas soltos.
 
Contrariando os números, artigo escrito por Moro, em 2004, explicitadamente afirma que se deve utilizar a prisão e a perspectiva de liberdade para se conseguir a colaboração em depoimentos do investigado. (Leia mais: Sobre a delação premiada como salvo conduto)
 
Apesar do discurso dos procuradores, de delegados e de Sergio Moro, o acompanhamento de alguns depoimentos revela o jogo de coerção utilizado pelo juiz federal para indicar que haveria um novo cenário, afastado pelo menos de pressões, se o investigado colaborasse.
 
Em maio deste ano, por exemplo, o empresário e lobista Mário Goes foi duramente pressionado por Moro, em situação de fragilidade emocional e física. Na ocasião, o lobista chorou e o juiz aproveitou para negociar, abertamente, a revogação da prisão preventiva se ele firmasse acordo de delação premiada.