quarta-feira, 29 de outubro de 2014

POLÍTICA - O desespero do Merdal.


O Direito de Saber: Merval Pereira demonstra que não lê O Globo


 

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“Fora Rede Globo, o povo não é bobo”, cantavam militantes petistas
Ao vencedor, os problemas
por MERVAL PEREIRA, em O Globo
28.10.2014 08h49m
Só saberemos quais são as verdadeiras intenções da presidente Dilma reeleita quando ela anunciar os integrantes de seu futuro ministério, especialmente o ministro da Fazenda e o da negociação política. A presidente e o PT saem das urnas enfraquecidos, com menos votos que jamais conseguiram, tanto para a presidência da República quanto para o Congresso.
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O novo governo tem pela frente um mandato dificílimo, basicamente devido à própria “herança maldita” com que terão que lidar. Não apenas na parte econômica, mas, sobretudo, no combate à corrupção, com o caso da Petrobras já em processo de delação premiada que levará ao envolvimento de inúmeros políticos do Congresso, e do Executivo, com o risco de a própria Dilma e o ex-presidente Lula verem-se às voltas com acusações do doleiro Alberto Yousseff, como revelaram a revista Veja e os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.
Temos, portanto, crises econômicas, políticas e institucionais já programadas, e pouca capacidade negociadora da presidente para enfrentá-las, pelo que apresentou até agora, e mesmo na hora de seu discurso de vencedora. Sua impaciência com os militantes poderia ser até folclórica, se não tivesse permitido os gritos de guerra contra a imprensa profissional independente, na figura da Rede Globo, com um sorrisinho no canto da boca, enquanto o presidente do partido, Rui Falcão, fazia o sinal de positivo.
Seu chamamento à concórdia e ao diálogo poderia ser até um bom recomeço, se não viesse acoplado à insistência em fazer uma reforma política com a aprovação de um plebiscito. Controle da chamada mídia profissional e plebiscito sobre formas de governo são receitas típicas de regimes autoritários de países vizinhos muito ao gosto de setores importantes do atual governo brasileiro.
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A dificuldade que os petistas tiveram para reeleger Dilma só demonstra o esgotamento desse modelo. Os métodos utilizados na campanha para alcançar os objetivos foram muito além do “fazer o diabo” já anunciado pela própria presidente.
A legitimidade de um mandato não se basta em si mesma, mas advém da maneira como foi conquistado. Embora as baixarias da campanha petista tenham ficado num nível comum ao de grandes democracias como os Estados Unidos, não é bom sinal que tenhamos importado esse tipo de marketing político negativo, em vez de nos equiparamos a democracias mais avançadas que reprovam instrumentos como esses (grifos nossos).
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Mirian Cordeiro, no Jornal do Brasil: a baixaria remunerada dela foi justificada em editorial de O Globo (abaixo)!
O Direito de Saber
Editorial de O Globo em 12.12.1989, na semana do segundo turno em que Fernando Collor derrotou Lula
O povo brasileiro não está acostumado a ver desnudar-se a seus olhos a vida particular dos homens públicos.
O povo brasileiro também não está acostumado à prática da Democracia.
A prática da Democracia recomenda que o povo saiba tudo o que for possível saber sobre seus homens públicos, para poder julgar melhor na hora de elegê-los.
Nos Estados Unidos, por exemplo, com freqüência homens públicos vêem truncada a carreira pela revelação de fatos desabonadores do seu comportamento privado. Não raro, a simples divulgação de tais fatos os dissuade de continuarem a pleitear a preferência do eleitor.
Um nebuloso acidente de carro em que morreu uma secretária que o acompanhava barrou, provavelmente para sempre, a brilhante caminhada do senador Ted Kennedy para a Casa Branca – para lembrar apenas o mais escandaloso desses tropeços. Coisa parecida aconteceu com o senador Gary Hart; por divulgar-se uma relação que comprometia o seu casamento, ele nem sequer pôde apresentar-se à Convenção do Partido Democrata, na última eleição americana.
Na presente campanha, ninguém negará que, em todo o seu desenrolar, houve uma obsessiva preocupação dos responsáveis pelo programa do horário eleitoral gratuito da Frente Brasil Popular de esquadrinhar o passado do candidato Fernando Collor de Mello.
Não apenas a sua atividade anterior em cargos públicos, mas sua infância e adolescência, suas relações de família, seus casamentos, suas amizades. Presume-se que tenham divulgado tudo de que dispunham a respeito.
O adversário vinha agindo de modo diferente. A estratégia dos propagandistas de Collor não incluía a intromissão no passado de Luís Inácio Lula da Silva nem como líder sindical nem muito menos remontou aos seus tempos de operário-torneiro, tão insistentemente lembrados pelo candidato do PT.
Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.
É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.
É de esperar que o debate desta noite não se macule por excessos no confronto democrático, e que se concentre na discussão dos problemas nacionais.
Mas a acusação está no ar. Houve distorção? Ou aconteceu tal como narra a personagem apresentada no vídeo? Não cabe submeter o caso a inquérito. A sensibilidade do eleitor poderá ajudá-lo a discernir onde está a verdade – e se ela deve influenciar-lhe o voto, domingo próximo, quando estiver consultando apenas a sua consciência.
PS do Viomundo: É o cúmulo da hipocrisia, especialmente quando sabemos que a ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, não apenas apareceu na propaganda de Collor como deu entrevista ao Jornal Nacional na semana decisiva. Isso mesmo: ela fez as acusações a Lula no telejornal que dominava o cenário midiático brasileiro. Mais tarde, provou-se que recebeu dinheiro para ajudar Collor. O “caçador de marajás”, para os que não viveram aquele período, foi catapultado à política nacional em capa da revista Veja e programa especial do Globo Repórter. O motivo da fúria de Merval, obviamente, foi a transmissão ao vivo do “Fora Rede Globo, o povo não é bobo” na própria Globo, como fica implícito no texto.

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