segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ECONOMIA - Qual será a influência de Lula?

    Equipe econômica sinalizará influência de Lula


A definição da equipe econômica será a primeira pista da influência que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exercerá no novo governo de Dilma Rousseff.
É o que avaliam, reservadamente, petistas de diversos matizes, dos afinados ao círculo lulista aos que buscam aconchego no restrito grupo de confiança da presidente reeleita.
A reportagem é de Vandson Lima e Letícia Casado, publicada pelo jornal Valor, 27-10-2014.
A escolha do próximo ministro da Fazenda é crucial nessa conta: tendo mantido contato estreito com o empresariado nos anos fora do Planalto, Lula teria indicado a Dilma que o desenho ideal para o próximo período se assemelha ao usado quando assumiu o governo em 2003: colocou Antonio Palocci no Ministério da Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central - o último é apontado por Lula como "necessário" a uma nova gestão.
Lula, afirmam os próximos, está disposto - e quer - contribuir com o novo governo. Há quem defenda que Lula "vai fazer ouvir Dilma ouvi-lo" e demanda para si a reaproximação do governo com "quem investe e quem produz".
Mas Lula não vai pedir "por favor" para ajudar. É a presidente quem deve buscá-lo. Se a escolha de Dilma apontar para uma costura contrária à imaginada por Lula - o exemplo mais citado é uma eventual nomeação de Aloízio Mercadante, ministro da Casa Civil, como novo titular da Fazenda - o recado estará dado e será entendido pelo ex-presidente: Dilma entende que o governo é seu e rechaça a interferência de Lula no dia a dia do Planalto.
Dois lulistas ouvidos pela reportagem vislumbram até a reação do ex-presidente: contrariado por Dilma, Lula vai "sair por aí": excursionar com palestras fora do país e, como em outras oportunidades nos últimos quatro anos, desligar o telefone para ligações do Planalto. Dilma entenderá a deixa.
Ontem, depois de votar em São Bernardo do Campo, o ex-presidente falou sobre a governabilidade da próxima gestão. "Não dá para ficar um debate entre governo e deputado, entre governo e senador. Isso é institucional, é importante, mas o importante é envolver a sociedade, o que pensam os movimentos sociais do país. Se a gente não criar instrumento de participação da sociedade e ficar apenas naquele tabuleiro do institucional, é tudo mais complicado".
Para além da contenda governista, Lula está preocupado, principalmente, com a "perda de organicidade" do PT. Segundo seus pares, o ex-presidente tem dito insistentemente que "é preciso renovar o projeto" e teria ficado "chocado" com a força com que a pecha de corruptível teria pegado na sigla.
Liderar um processo para reverter essa imagem é a pauta prioritária do ex-presidente. Um balanço sobre a campanha e sobre a organização partidária vai resultar em uma reestruturação cujo resultado vai nortear o PT pelos próximos três anos, até 2017, quando serão tomadas as decisões relativas às campanhas de 2018. As mudanças imaginadas por Lula atingirão desde a estrutura do partido, como diretórios e correntes internas, até a atuação do PT na internet.
Desde junho de 2013, quando manifestantes foram às ruas, Lula fez mais de uma dezena de reuniões com grupos de jovens para escutar suas reivindicações, e outras dezenas de reuniões com grupos de movimentos sociais.
Se Lula quiser sair candidato em 2018, o partido abrirá espaço a ele, mas, no momento, essa não é a pauta no PT. A palavra de ordem é não antecipar a sucessão para não deixar a disputa interna ganhar espaço sobre as reformas do partido.
Publicamente, Lula disse em diversas ocasiões que não é o momento de discutir 2018: "Não vou saber mais do que Deus e dizer o que vai acontecer comigo. Na minha idade, se estiver vivo já está de bom tamanho", disse no sábado.
Três nomes devem ganhar protagonismo no PT nos próximos quatro anos, sendo o principal deles o governador da Bahia em fim de mandato, Jaques Wagner, além do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel - ligados a Lula e Dilma -, e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Nesse processo, caberá a Lula readequar o "tamanho" de mandatários da sigla na disputa interna, em especial em São Paulo, berço do partido. O presidente estadual Emídio de Souza ficou enfraquecido pelo mau desempenho local, onde foram derrotados os candidatos do PT ao governo, do Senado e minguaram as bancadas de deputados federal e estadual.
Com uma relação melhor do que tinha tempos atrás tanto com Lula quanto com Dilma, Haddad ganha fôlego. A aproximação do prefeito com a juventude de classe média da cidade, justamente um dos setores que Lula aponta como necessários à "reinvenção" do partido, conta a seu favor.
Contra ele, contam integrantes da sigla, está sua relação ruim com o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Em uma plenária recente com Lula, Falcão teria chamado a atenção do ex-presidente ao fato de o partido só ter elegido três deputados federais na capital paulista. E botou o fracasso na conta de Haddad, o que irritou o prefeito.
Apesar de não ter agregado bom resultado para o PT na eleição presidencial (Aécio Neves venceu Dilma no município), o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, segue prestigiado no partido. Elegeu três deputados federais, é aliado de primeira hora de Lula e postula ser o próximo candidato do PT ao governo de São Paulo.
Antecessor de Emídio no comando do PT paulista, Edinho Silva arcou com a dura missão de ser tesoureiro da campanha presidencial, abrindo mão de concorrer a cargo eletivo e, por isso, deve ser contemplado na máquina federal.
Há entre os petistas uma avaliação corrente sobre o caso Petrobras: Dilma terá de tomar logo medidas firmes para se blindar e ao governo, inclusive se prevenindo em relação a denúncias em outras estatais. O que se espera no partido - Lula incluso - é que Dilma tire seu governo da alça de mira, mas não bote no lugar o Partido dos Trabalhadores, na medida do possível.

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