sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CHINA - Uma China que o mundo ainda não conhece.

Uma China que o mundo ainda não conhece

Jornal GGN - Na cidade chinesa de Wuhan, o prefeito gasta o equivalente a R$ 800 bilhões em um projeto de desenvolvimento de cinco anos. A ideia é transformar a cidade em uma megametrópole mundial, que deve disputar com Xangai o posto de segunda maior cidade do país.
De acordo com a BBC, que investiga a desaceleração econômica chinesa para uma série de matérias especiais, os números são impresssionantes: estão em construção centenas de edifícios residenciais, anéis viários, pontes, ferrovias, um sistema de metrô e um aeroporto internacional. O centro da cidade está sendo demolido para dar lugar a um centro comercial, incluindo um arranha-céu de mais de 600 metros de altura que custará R$ 11,9 bilhões.
Para os especialistas consultados da BBC, Wuhan é somente um pano de fundo, que evidencia as três décadas de modernização e enriquecimento do país. A realidade é que o milagre chinês, para eles, está perto do fim, o que traz sérios riscos para os mercados mundiais.
A contabilidade da evolução da China arrasta consigo números que muita gente desconhece: nos últimos anos, um novo arranha-céu foi construído a cada cinco dias, mais de 30 aeroportos, sistemas de metrô foram projetados em 25 cidades, as três pontes mais extensas do mundo foram finalizadas. Isso sem contar os mais de 9,6 mil quilômetros de rodovias de alta velocidade, além de empreendimentos imobiliários comerciais e residenciais em larga escala.
 
Para a BBC, trata-se, de uma modernização necessária em um país que se urbaniza rapidamente. Mas é também um sintoma de uma economia desequilibrada, cujas recentes fontes de crescimento não são sustentáveis. Associada às recentes tensões nos mercados financeiros, a desaceleração econômica chinesa pode ser vista como uma terceira onda da crise iniciada em 2007 e 2008 (a primeira foi a crise em Wall Street e na City de Londres; a segunda, a da zona do euro).

O colapso do Lehman Brothers em 2008 foi catastrófico para a China, que crescia na mesma proporção em que o Ocidente dependia de suas exportações. Quando estas pararam de encomendar, a indústria do país parou junto. E no entanto, continuou seus planos de crescimento praticamente intactos e muitos migrantes chineses pobres foram forçados a voltar para suas aldeias. Era a população abrindo mão de direitos democráticos em troca da prosperidade econômica.

O governo chinês respondeu com um pacote de estímulo de dimensões gigantescas - o equivalente a R$ 1,5 trilhão de gastos estatais diretos - e instruiu que bancos "abrissem a carteira" e emprestassem dinheiro como se não houvesse amanhã.
 
A estratégia funcionou, a seu modo. Enquanto muitas das economias ocidentais e o Japão estagnaram, a China viveu anos de grande expansão, retomando o crescimento na casa dos 10% anuais. Mas as fontes de crescimento eram limitadas e, desde então, mudaram.
 
Analistas ligados a agências de rating afirmam que a maioria das pessoas sabem que houve uma grande expansão de crédito na China, mas não conhecem sua dimensão. Segundo eles, no começo de 2008, o setor bancário chinês tinha um tamanho em torno de US$ 10 trilhões. Agora, tem entre US$ 24 e 25 trilhões. Esse aumento é equivalente ao total do setor bancário comercial americano, que levou mais de um século para ser constituído.
 
Mas é exatamente aí que os perigos surgem, segundo a agência de notícias britânica. Quando o crescimento é gerado por um grande período de investimento lastreado em dívida, há dois desdobramentos possíveis: se essa grande expansão é encerrada cedo o bastante e de modo controlado e a economia é retomada de maneira sustentável, ocorre uma retração econômica, mas desta forma evita-se um desastre. No entanto, se a concessão de crédito passa dos limites, uma crise se torna inevitável. "Será o desfecho do milagre econômico chinês?", pergunta a reportagem.
 
O governo anunciou reformas que, em tese, podem reequilibrar a economia nos próximos anos ao trocar o investimento baseado em crédito por outro baseado no consumo.
Mas as reformas estão em estágio inicial, e a concessão de crédito continua. E mais: a atual explosão de investimentos nos setores imobiliário e de infraestrutura tem gerado tantos lucros a milhares de autoridades do Partido Comunista que há dúvidas quanto à habilidade do governo central em implementar mudanças.
 
Além disso, existem as consequências sociais: um crescimento econômico mais lento pode não ser suficiente para satisfazer a ânsia dos chineses por mais empregos e um padrão de vida melhor, algo que pode desencadear protestos populares.Mas e se a bonança de crédito não for contida? Poderíamos estar diante de uma crise que chacoalharia não apenas a China, mas o mundo inteiro.
 
O recente crescimento chinês deu forma ao mundo como o conhecemos hoje: propiciou aos ocidentais a compra de produtos baratos e, para países exportadores (como o Brasil), a venda de commodities. O outro lado é que os preços mundiais dos alimentos e da energia subiram e a influência chinesa no resto do mundo mudou o equilíbrio de poder global.
 
Uma China enfraquecida traria benefícios ao Ocidente? Talvez não fosse algo ruim. Mas uma China repentinamente incapaz de prover o crescente padrão de vida esperado por seu povo seria um país mais instável - e também mais perigoso, finalizam.

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