O lance de Fábio Barbosa com o Brasilpost

Com o lançamento do Brasilpost - em parceria com o Huffington Post - o presidente da Abril, Fábio Barbosa, tenta um lance ousado.
Ele recebeu uma empresa atuando no mais crítico segmento da mídia, o das revistas impressas. E com um dinossauro agonizante no meio da sala: a revista Veja, uma publicação sem futuro mas que ainda é a garantia do presente para a Abril.
Desde a campanha do desarmamento, quando Roberto Civita introduziu o estilo neocon da Fox News,  Veja enveredou pelo caminho da ultra-direita escatológica.
Na série "O caso de Veja" analiso esse fenômeno e o beco sem saída a que ele conduz. Vicia o leitor em escatologia, no chamado jornalismo de esgoto, uma armadilha psicológica semelhante à que deve conduzir pessoas pelos caminhos da pornografia. Não se consegue mais aceitar a normalidade. Exige-se cada vez mais o escândalo escatológico, com tal intensidade que a oferta não consegue acompanhar a demanda. Vai havendo a saída gradativa dos leitores mais exigentes ou que se livram do vício. Qualquer tentativa de recuar  enfrenta resistência agressiva do leitor viciado, remanescente, o que impede de trabalhar novos mercados.
Morto Roberto Civita, Veja permaneceu intocável pelo receio de, mexendo em qualquer parafuso, o edifício ruir.
Antes disso, desde o início da Internet, a Abril já era  prisioneira do imobilismo dos executivos da era do papel, temerosos de perder seu espaço interno para a nova tecnologia. Nos anos 90,  entregou de bandeja a BOL para a UOL, das Folhas, sacrificando Antonio Machado, que poderia ter sido o cara na preparação da Abril para o novo.
Esse boicote permaneceu  enquanto Civita era vivo.
Há dois anos, a Abril foi visitada por executivos norte-americanos da IBM, interessados em vender novos sistemas para jornalismo digital. Saíram espantados com o que ouviram dos dirigentes da empresa: "Não precisamos disso. Nossa estratégia é investir em revistas populares para as classes C e D".
Barbosa manteve o velho e, através do acordo com a Huffington Post, tenta criar o novo,  um espaço editorial mais arejado e blindado da Veja e dos editores de papel.
Foi buscar no mercado brasileiro jornalistas experientes com o meio digital e montou uma base inicial de colunistas mantendo distância do mofo editorial da Veja.
Enquanto isto, outros jornais - de grandes grupos a emissoras de rádio e TV - aderiram a esse estilo esgoto, indo a reboque da Veja. Contrataram colunistas para emular a linha editorial da Veja, disputando  o mesmo mercado restrito, reproduzindo o velho. E, na Internet, não lograram criar uma personalidade editorial, sequer pela transferência da personalidade do impresso.
Ter personalidade jornalística digital é qualidade intrínseca do modelo editorial do Huffington Post.
Agora, a Abril, que já comanda o velho, posiciona-se para conquistar o novo, avançando sobre um mercado até agora só atendido, em parte, pela imprensa alternativa. Tenta no plano editorial repetir a fórmula arejadora da Folha dos anos 80. Enquanto a Folha tenta emular a fórmula esgotada da Veja dos anos 2000.
Não será fácil carregar a herança de Veja junto ao público mais moderno. Mas, dentro desses limites, o lance de Barbosa foi bem desenhado.