quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ECONOMIA - Especulação com matérias primas.

Especuladores recompensam quem os defenda no meio acadêmico

O jornal norte-americano teve acesso às ligações financeiras que unem alguns dos maiores especuladores de Wall Street ao professor de finanças da Universidade de Houston, Craig Pirrong. O professor interveio diversas vezes desde 2006 em cartas às autoridades reguladoras federais e até depôs na Câmara dos Representantes dos EUA, invocando a sua autoridade acadêmica para provar a ausência de responsabilidade dos especuladores nos picos registados nos preços do petróleo e outras matérias-primas e produtos alimentares, numa altura em que a regulação discutia impor mais restrições às operações dos bancos nesta área, na sequência da crise financeira.
A reportagem foi publicada pelo sítio Carta Maior, 29-12-2013.
Afinal, o professor Pirrong, cujos trabalhos eram citados nas ações judiciais interpostas por institiuções financeiras para bloquear as restrições à especulação financeira, era ao mesmo tempo pago como consultor para uma das principais partes do processo, a Associação Internacional de Swaps e Derivados. Segundo o New York Times, embora Pirrong se apresentasse apenas como professor universitário, nos últimos anos foi pago pela bolsa de Chicago, o Royal Bank of Scotland e uma série de empresas que especulam nos mercados da energia.
Questionado sobre a origem dos seus ganhos fora do meio acadêmico, Pirrong terá respondido apenas que “isso é entre mim e o fisco”. Mas ele não é caso único. O mesmo jornal aponta o professor da Universidade do Illinois Scott Irwin, um dos acadêmicos mais citados em favor dos benefícios da especulação para a formação de preços nos mercados agrícolas, que é ao mesmo tempo consultor de uma das empresas que trabalha com bancos de investimento e fundos especulativos no mercado de matérias-primas. A sua universidade também recebe doações generosas quer da bolsa de Chicago quer de outros fundos que intervêm no mercado especulativo, que pagam bolsas de estudo, conferências e até a construção de um laboratório em tudo semelhante às salas de mercado bolsista.
Quando em 2008 o preço da gasolina subiu acima dos 4 dólares por galão nos EUA, o Congresso norte-americano ameaçou com a introdução de limites à especulação nos mercados do petróleo. “É uma caça às bruxas”, indignou-se Craig Pirrong em múltiplos artigos, incluindo no Wall Street Journal, desdobrando-se em conferências e ocupando lugares em comissões de aconselhamento na matéria.
Por seu lado, os ensaios e opiniões de Scott Irwing foram promovidos para aparecerem em publicações influentes pelo próprio departamento de relações públicas da bolsa de Chicago, sendo frequente encontrar vídeos e entrevistas com este professor no site da Chicago Mercantile Exchange.
Mas o dinheiro dos especuladores não corre apenas diretamente para o bolso destes professores universitários. Para aumentar a sua notoriedade, também financiam revistas e sites na internet que promovem as figuras do meio acadêmico mais favoráveis aos seus interesses. Ambos os envolvidos negam que o seu trabalho seja influenciado pelo dinheiro que recebem dos especuladores, mas o tema ressurge no debate público numa altura em que os reguladores discutem novos limites à especulação, por verificarem que ela pode contribuir não apenas para prejudicar os consumidores, mas também para provocar a escassez de comida, como se viu na crise alimentar do final da última década.

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