quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ANOS DE CHUMBO - Centro de Memória do DOI-CODI deve incluir JK e Dilma.



Pedro do Coutto
É totalmente legítima (e oportuna) a ideia da Comissão da Verdade que visitou o quartel da Polícia do Exército na Rua Barão de Mesquita, onde funcionou o DOI-CODI, um dos cenários de tortura durante a ditadura militar, de instalar no local um centro de memória, conforme revelou a reportagem de Marco Antonio Martins, Folha de São Paulo, edição de terça-feira passada. Isso porque naquele local, o ex-presidente Juscelino Kubitschek teve que depor, sentado num tamborete, perante o tenente coronel Ferdinando de Carvalho. E também foi onde esteve presa a presidente Dilma Rousseff, em certo período dos anos de chumbo. Posso acrescentar à lista de prisioneiros o nome do jornalista Hélio Fernandes, por sua luta à frente da Tribuna da Imprensa, e dos também jornalistas Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar e Paulo Francis, este já falecido, por manifestação pública pela liberdade em frente ao Hotel Glória quando se realizava no Rio reunião da Organização dos Estados Americanos.
A reportagem de Marco Antonio Martins, da mesma forma que a de Cássio Bruno e Evandro Éboli, esta publicada em O Globo também de terça-feira, partiu do tumulto causado pela presença do deputado Jair Bolsonaro na tentativa de participar da visita, fato com o qual não concordava o senador Randolfo Rodrigues, em nome da Comissão da verdade. A imprensa teve, de forma absurda, seu acesso proibido aos porões do passado.
Não vejo motivo algum para tal impedimento, como também não entendo porque o deputado Bolsonaro não poderia participar da viagem de volta às torturas praticadas principalmente ao longo do governo Médici. Afinal de contas se havia parlamentares na comitiva, que não integram a CV, Bolsonaro estaria livre para se integrar. O que ele, no fundo, não desejava de fato. Queria – e conseguiu – espaço de destaque nas emissoras de televisão  nas reportagens dos jornais do dia seguinte.

Ele possui um eleitorado fiel, uma minoria, mas que é suficiente para assegurar sua eleição à Câmara do Rio de Janeiro e a de seus filhos para deputado estadual e vereador do Rio de janeiro. Para ele quanto mais confusão e empurrões, melhor. Jogou para a arquibancada e, reconheçamos, saiu-se bem. Ficou com imagem ruim junto à maioria da opini9ão pública. Mas ele tem interesse especial em agradar a minoria. Daí as posições radicais que assume. Está desempenhando seu papel, visando as urnas de 2004. Os que se atritaram com ele esqueceram que estava desempenhando o papel a que se propõe.

Mas esta é outra questão. O essencial é a montagem do centro de memória. O jornalista Álvaro caldas, torturado na década de 70, revelou memórias do cárcere (título de4 um livro de Graciliano Ramos) e, como está publicado no o Globo, identificou vários pontos de sombra apesar das obras realizadas. O centro de memória, com os vultos de Dilma e JK ganhará dimensão nacional e até internacional, incorporando-se à história do Brasil para sempre.
Vejam só os leitores. A atual presidente da República sofreu torturas lá. JK, depois da obra extraordinária que realizou no país, ter que, embora doente, de depor perante o tenente coronel Ferdinando de Carvalho sintetiza uma contradição gigantesca. Mas nada como o tempo para fazer justiça às pessoas e dimensionar bem, hoje, os tristes acontecimentos de ontem.

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