quarta-feira, 29 de maio de 2013

ECONOMIA - Tudo como antes para combater a inflação.


Se os heróis brasileiros estão aí tranquilinhos, pensando em trocar o velho Gol quadrado por um zero arredondado e luzente, ou pagar aquelas prestações atrasadas que lhes tiram o sono, tomem cuidado.
Tudo poderá voltar a ser como antes, já me desculpando por deturpar o título da canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Não me desculparei, porém, pelo que alguns economistas em perversas colunas de folhas e telas cotidianas pretendem fazer.
Para eles, o que está fazendo o País caminhar para o abismo é o fato de você estar empregado e ganhar um pouquinho mais. Você é o culpado pela “altíssima” inflação que William e Patrícia anunciam no Jornal Nacional com olhos arregalados. Depois do tomate, agora o feijão.
Não importa se você levanta às quatro horas da madruga, toma três conduções para chegar ao emprego e lá faz tudo direitinho. É pouco. Você deveria estar fazendo mais.
Um pouco do economês: a escassez de mão de obra (sejamos claros, pouca gente desempregada) provoca (eu diria, permite) que os salários cresçam acima dos níveis de produtividade da economia, gerando aumento de preços.
Se a taxa de desemprego, que hoje no Brasil roda à base de 5,5%, estivesse como no passado a 12%, ou mais apropriado ainda, em níveis como os atuais europeus, poderíamos dormir tranquilos.
Se você ganha dez e produz cinco, a diferença vai parar nos preços dos produtos, certo? Em parte. E põe parte nisso.
Essa tese que remonta à Escola de Chicago, Milton Friedman e quejandos, vigorou nos anos 60 e 70 do século passado, para dizer que um presente confortável implicaria num futuro desastroso.
Manter um equilíbrio entre ganhos de renda que permitissem, ao mesmo tempo, expansão do consumo e inflação controlada só seria possível no curto prazo. Mais tarde aquele calorzinho ameno se transformaria em chamas infernais.
Foi assim que muitos países e suas populações passaram décadas de perrengue sempre esperando que um dia chegasse sua vez de entrar no parque de diversões que os felizes 0,5% podiam frequentar.
Truque. Mais uma vez, truque. Eles não se contentam em terem convencido o Banco Central a aumentar as taxas de juros para combater a inflação. Provavel nesta semana mais uma rodada monetária validando isso.
E não se contentam porque sabem que essa é uma ferramenta inócua no momento. Todos os indicativos de que teremos menos inflação nos próximos meses estão dados, e não pela sequência de aumentos nos juros que virão.
Na semana passada, um desses economistas, escreveu: “A lúgubre escolha não é, pois, entre desemprego e inflação, mas sim entre desemprego hoje e desemprego mais elevado amanhã”.
Quer dizer, então, que os preços da economia são apenas influenciados pela produtividade do trabalho?
Fatores como o câmbio, que há anos está erodindo a competitividade de nossa indústria, sistematicamente apontado por Delfim, Nakano, Brésser Pereira, e outros, nada têm a ver com isso?
A falta de investimento em infraestrutura, não implica em redução de oferta, em aumento dos fretes das mercadorias e elevação de preços?
O desperdício brutal de excedentes de produção por falta de armazenagem e modais de transporte eficientes não implicam em menor produtividade e inflação?
Melhor deixar tudo por conta da situação de quase pleno emprego e recuperação de renda dos assalariados
Em que olhinhos, já que o excesso de zelo da coluna não permite definir outro local, deverá arder essa pimenta, meus caros discípulos de Friedman?
Fonte: Blog do Rui Daher

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