segunda-feira, 18 de março de 2013

MÍDIA - Texto contra spam discriminatório.

TEXTO CONTRA SPAM DISCRIMINATÓRIO FAZ SUCESSO NAS REDES SOCIAIS
> Para: José Augusto
>
>
> SP247 _ Um dos mais importantes especialistas do País na área
> trabalhista, o advogado Valter Uzzo criou um fato político ao enviar
> para amigos um e-mail remetido para um de seus conterrâneos da cidade
> de Pompéia, no interior de São Paulo, listando uma série de argumentos
> contrários à proliferação de spams jocosos sobre o ex-presidente Lula
> e a presidente Dilma Roussseff. Ex-presidente do Sindicato dos
> Advogados de São Paulo, Uzzo, no texto, descreve o cenário histórico
> sobre a presença e a influência das forças conservadoras na política
> brasileira.
>
> O e-mail de Uzzo está sendo velozmente disseminado pela internet,
> ganhando status de nobre peça política contra a discriminação
> ideológica. Abaixo, o conteúdo:
>
> Caros
>
> Um amigo meu de infância passou a me mandar um volume enorme de
> e-mails com piadas, comentarios e afirmações sempre depreciativas em
> relação ao Lula, Dilma, PT, etc. A situação foi em um crescendo tal,
> que atingiu as ráias da provocação e do insulto, até que, outro dia,
> resolvi responder. E mandei este pequeno texto, que é, em verdade, o
> que penso de pessoas como ele que, a pretexto de criticar, escondem
> hipocritamente suas indéias e concepções.
>
> Abcs.
>
> Valter Uzzo
>
> Sent: Tuesday, February 05, 2013 3:42 PM
>
> Caro Lara:
>
> Tenho, quase que diariamente, recebido os seus e-mails, que trazem
> piadas, "fotos interessantes", e propaganda daquilo que,
> politicamente, você acredita. Quero crer que estou me dirigido à
> pessoa certa, ou seja, ao Lara que conheci em Pompéia, na infância e
> adolescência. Se assim é, tenho algumas gratas recordações, de nossa
> convivência que, ao tempo, pela idade e sem as agruras que viríamos a
> experimentar durante a vida, era muito boa. Recordo-me mesmo que uma
> das suas habilidades, invejada por todos nós da mesma classe ginasial,
> era a incrível capacidade que tinha de "colar", já que você se
> abastecia de um grande estoque das "sanfoninhas" (era o tipo de
> "cola" da época), que escondia perfeitamente em sua mão direita e que
> lhe permitia -grande perfeição !- colar sem interromper a escrita e,
> -perfeição maior !-, até mesmo diante do olhar atento do professor. Ao
> que me recordo, nunca, nenhum dos professores, na fiscalização que
> faziam, conseguiu algum êxito diante de você. Nesse partícular, você
> era imbatível.
>
> Mas, deixando-se de lado tais reminiscências, eu estou me dirigindo à
> você para tratar de assunto que, diante de sua volumosa
> correspondência eletrônica, parece lhe interessar: trata-se de
> questões que envolvem a visão que temos da forma como vem sendo
> dirigido este país, melhor dizendo, a questão política. Para se ter
> uma conversa franca, devo dizer que temos uma visão de mundo muito
> diferente. Acho mesmo, oposta. Em minha profissão (sou advogado)
> acabei aprendendo a conviver na divergência, já que, diariamente,
> senta do lado de lá da mesa de audiência, ou dos autos do processo,
> um colega de mesmo grau de escolaridade que defende justamente o
> contrário. Adversário. Mas, terminada a audiência, retomamos o
> relacionamento, ou seja, é um aprendizado constante e permanente, a
> nos ensinar que devemos respeitar os que pensam de forma diversa.
> Transposta tal relação para a política, também aprendi a respeitar
> aqueles que tem uma visão de mundo diferente da minha, embora com
> eles não concorde. Entre tais "adversários" de pensamento existem dois
> tipos: os que assim agem por convicção, e os que agem por interesse.
> Creio que você se enquadra entre os primeiros, ou seja, você tem
> ideias, a meu ver, que eu classifico como "conservadoras", mas que
> são catalogadas no jargão político comum como "reacionárias", ou por
> alguns "direitistas", ou, se formos levar ao extremo a sociologia
> política, "fascistas". Para mim, no entanto, você é um
> "conservador", por convicção. E é aí que eu quero conversar com você.
>
> Existe no Brasil uma forte corrente de pensamento conservador. Sempre
> existiu, aliás, durante o império e durante a república, todos os
> presidentes e Governos , até 2003, sempre tiveram um perfil
> conservador, uns mais outros menos. Todos. Getúlio Vargas (1º Governo,
> ditadura) liderou uma "revolução" -que não era revolução no sentido
> sociológico do termo- contra práticas condenáveis da República Velha,
> só isso. Pertencia a elite agrária, era fazendeiro e fez um Governo
> ambíguo, criando uma legislação trabalhista (que estava sendo criada,
> ao tempo, por quase todos os países de mesmo grau de desenvolvimento
> que o Brasil), e criou dois partidos políticos - o PTB, para lhe
> servir – e o PSD, conservadoríssimo, para ajudá-lo a governar. No
> mais, encarcerou a oposição e restringiu as liberdades públicas.. Em
> 45 foi substituído pelo Dutra (outro conservador), que dissipou todas
> as reservas cambiais que havíamos acumulado com a substituição das
> importações, durante a guerra. Getúlio volta em 1950 e aí, após um
> início de governo meio indefinido, começa a aproximar-se de ideias
> progressistas, mas não conseguiu implementá-las, já que, ameaçado de
> deposição, suicidou-se. Juscelino foi um inovador em realizações, mas
> seu governo, embora aparentemente liberal nos costumes, sempre foi um
> produto das classes dominantes e um fiel seguidor da política
> americana. Jânio se foi muito rápido , e Jango também nada tinha de
> progressista: era filho de uma família de riquíssimos fazendeiros,
> era despreparado para a função e sua queda dá bem a medida de seus
> compromissos de classe: preferiu viver rico no exílio, do que
> participar ou liderar uma revolução popular com a qual não se
> identificava. Seguiram-se os governos militares, Sarney, Collor,
> Itamar e Fernando Henrique. Se examinarmos todas as medidas tomadas
> por tais governos (algumas muito boas, até) veremos que nenhuma delas
> teve a preocupação ou conseguiu alterar o sistema de distribuição de
> renda no país, -um dos mais injustos do mundo. A dívida externa sempre
> em patamares impagáveis, o salário mínimo medeando entre U$ 80 a U$
> 120 dólares, lenta queda da mortalidade infantil, poucos avanços na
> afalbetização, grande transferência de rendas para o exterior, sistema
> de saúde pública catastrófico, destruição da escola pública,
> gigantesca falta de moradias e favelização, polícia corrupta, Justiça
> que não funciona, previdência privada mais cara do mundo, seguros
> mais caros do mundo, alta tributação e assim foi. Só discursos, só
> demagogia, e muita roubalheira.
>
> Aí vieram a eleição em 2003, reeleição do Lula e eleição da Dilma.
> Muitos erros, houve e há corrupção, muitas coisas não deram certo, os
> quadros do PT, em grande parte, eram despreparados para
> administração, enfim, as coisas não saíram como o PT pregava. No
> entanto, o salário mínimo triplicou (em dólares), a renda familiar
> cresceu, a dívida externa foi paga, o consumo aumentou muito, o
> emprego cresceu ( e o desemprego despencou) e o Brasil conseguiu
> crescer, ao meio de uma grande crise internacional .Caro Lara, esses
> são fatos . Fato é fato, não é discurso, nem proselitismo político,
> nem palavrório. FATOS. O País está em regime de pleno emprego ( é a
> 1ª. vez em nossa história que isso acontece), e no ano de 2011, em um
> universo de 200 países, fomos o 4º. País do mundo em receber
> investimentos externos, só atrás dos Estados Unidos, China e Hong Kong
> (notícia do Times, reproduzida no Estadão e Folha na semana passada,
> com pouco destaque). A arenga de que o Governo, em 2003, pegou uma
> condição internacional favorável é coversa para boi dormir: muitos
> outros países não progrediram, muitos entraram em crise, o sistema
> financeiro internacional em 2008 quase ruiu, enfim, o Brasil navegou
> muito bem por sua conta e seus méritos. Pensar de modo diverso é
> revolver a mentalidade colonialista.
>
> Mas, estou eu a pretender que você se torne um apoiador do Lula e da
> Dilma ? É claro que não, até porque na nossa idade ninguém muda mais.
> É que eu acho que essa sua "cruzada" contra, poderia ser muito mais
> consequente e séria. Já que na clássica definição "partido político é
> a opinião pública organizada", porque vocês, conservadores, não fundam
> um partido que expresse tal ideologia ? A grande farsa que existe é
> que os conservadores, ou os direitistas, ou os neoliberais, não
> assumem o próprio rosto. O PSDB (neoliberal) não se diz neoliberal,
> diz que vai mudar, que é de centro esquerda, que é progressista, e
> outras baboseiras mais. Porque não se diz neoliberal, e faz um
> programa neoliberal ?. E vocês, conservadores, porque não se assumem,
> e fazem um programa com o conteúdo daquiIo que vocês acreditam; contra
> as cotas, contra o aborto, contra o casamento gay, pela redução dos
> direitos trabalhistas, dos impostos, por uma política externa mais
> invasiva, etc, etc, , tal qual o Partido Republicano (Conservador) dos
> Estados Unidos ? Se você fizer as contas, aqui como lá, o eleitorado
> se divide, o que, aliás, ocorre em todos países civilizados (França
> Inglaterra, Austrália, Itália, Espanha, Alemanha, Austria, etc, etc,
> etc). Ou seja, no mundo todo, o eleitorado se divide em conservadores
> e progressistas. Mas, aqui não, em razão da hipocrisia política da
> direita, a luta não é limpa. Estimule a criação de um verdadeiro
> partido conservador, que defenda as teses conservadoras e o modo de
> governar conservador e aí, sim, teríamos um debate limpo, direto, sem
> enganações, sem subterfúgios. A meu ver, essa situação da direita
> esconder suas verdadeiras propostas, de vestir um manto
> progressista quando não o é, é a pior forma de trapacear uma nação,
> posto que esconde seus verdadeiros desígnios. Em suma,já é tempo de
> sair do armário e vir corajosamente para o debate de ideias.
>
> O outro ponto que gostaria de conversar com você é sobre a forma
> negativa e pejorativa de sua "crítica" política. As piadas, imagens,
> dizeres, etc, que se referem aos que não pensam como você, revelam um
> rancor que tem de tudo: preconceito, desinformação, insultos, etc. Se
> você acha que este tipo de crítica desperta alguma simpatia para as
> suas ideias, ou fazem mal a figura dos criticados, então está na hora
> de você fazer algumas reflexões sobre o que muda as pessoas. Uma
> pessoa decente muda de opinião quando você demonstra que ela está
> errada. Só não mudará se tiver "interesses" em se manter no erro, ou,
> então, se por alguma razão (preconceito, ignorância, intolerância,
> irracionalidade, etc) não entender o seu erro e o significado da
> mudança. Fora disso, a "propaganda" pejorativa contrária é um tiro
> na culatra. E isso é tanto no aspecto individual como coletivo. O Lula
> cresceu eleitoramente depois que mudou sua imagem para o "Lula, paz e
> amor". Antes, o eleitorado preferia o FHC, com sua voz e modos
> blandiciosos. Serra com sua linguagem belicosa só perdeu votos. Obama
> derrotou duas vezes os seus adversários com um discurso suave,
> sofrendo agressões de todo os lados. O Berluscomi e Sarkosi, na
> Itália e França, perderam as eleições, em razão de suas práticas
> autoritárias e arrogantes. Enfim, na medida que a sociedade
> evolui, essa linguagem truculenta, ofensiva, enganosa, que intui uma
> falsa moralidade e prega medidas radicais extremadas (para os outros,
> nunca para si) vai caindo em desuso, não engana mais ninguém. Pode ter
> servido em outra época, chegou a levar os hitlers e mussolinis ao
> poder, mas, hoje em dia, ninguém mais cai neste canto de sereia. As
> pessoas querem é ser convencidas, sem imposições.
>
> Bem, fico por aqui. Se você quiser prosseguir mandando-me os e-mails,
> gostaria que não mais me enviasse os relativos à política, a não ser
> quando nesta terra tiver um partido conservador, ou direitista, ou de
> natureza fascista ( o Plínio Salgado pelo menos teve coragem e
> honestidade criando os "camisas verdes"), para que se possa ter um
> debate decente e honesto. Daí sim, quem sabe, talvez até eu me
> convença de que existe alguma verdade nessas ideias trapaceadas e
> escondidas sob o manto de uma falsa moralidade. Ideias tão escondidas,
> tal como você fazia com as colas e era invejado por toda classe.
>
> Abraços e saudades.
>
> Valter Uzzo
>
> PS: Se você não é a pessoa que eu penso, peço desculpas.

Fonte: RioBlog

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