quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

POLÍTICA - "Fogo amigo" atinge Aécio e Campos.

Por Altamiro Borges

A direita midiática e partidária antecipou o debate sobre a sucessão presidencial de 2014. Ela se apressou em lançar Aécio Neves, que cambaleava no PSDB, difundiu futricas sobre Lula e Dilma e ainda apostou na divisão no campo governista. O efeito é que vários nomes pipocaram no noticiário. Mas nada ainda está definido. A antecipação do debate só serve para atiçar a cizânia e revelar as dificuldades nos vários campos. Nos últimos dias, por exemplo, Aécio Neves e Eduardo Campos foram alvos do famoso “fogo amigo”.

Apesar dos apelos do “guru” FHC pela unidade partidária, não há consenso no PSDB em torno do nome do mineiro. Em entrevista ao jornal Valor, o paulista Aloysio Nunes Ferreira, aliado canino de José Serra, explicitou a crise no ninho tucano. Eleito líder da bancada no Senado, com base num acordo pragmático para ajeitar as divergências, ele criticou a precipitação do lançamento de Aécio Neves e elogiou o grão-tucano paulista. “Não vejo ninguém que poderia ter um desempenho eleitoral melhor do que o Serra teve”.
“Quem tem pressa de se lançar candidata é a Dilma, porque ela tem dois fantasmas que rondam a reeleição: o pífio desempenho do governo e a hipótese Lula”, despistou o paulista. Para ele, o PSDB precisa resolver seus problemas internos. "Primeiro temos de eleger uma direção que reflita uma unidade real do partido”, o que evidencia que ele discorda das manobras para eleger Aécio Neves presidente da sigla na convenção marcada para maio. “Não sei. A presidência do partido é resultante de um processo de unificação".
Hábil no jogo do cretinismo parlamentar, Aloysio Nunes disse não que não tem nada contra Aécio Neves, “com que tenho uma relação muito boa, cordial, amiga”. Mas foi explícito. “Agora, a candidatura tem de ser construída, dentro e fora do partido. Como político que conhece como ninguém a importância do tempo, [Aécio] não haverá de querer precipitar as coisas”. O novo líder do PSDB também deu uma alfinetada em FHC, o intocável. “Eu não ficaria cutucando o Aécio para ser candidato criando um falso problema”.
Menos diplomático, o deputado sergipano Mendonça Prado, dirigente do DEM, também mostrou que as coisas não serão tranquilas na costura das alianças para 2014. Em entrevista ao sítio Brasil-247, o demo bateu duro no discurso de Aécio Neves no Senado. “Ele só fez um discurso de alguém que pleiteia ser candidato. Não teve nenhuma ação que demonstre que ele está realmente com apetite para ser candidato... Para ele ser presidente só visitando Minas Gerais e passando o fim de semana no Rio de Janeiro, fica difícil”.
O “fogo amigo”, porém, não atingiu apenas o trôpego tucano. Outro que teve dores de cabeça nos últimos dias foi Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. Até agora ele não garantiu que será candidato em 2014, rachando a base governista, mas alguns mais afoitos no seu partido insistem em dizer que ele é “candidatíssimo”. Com isso, destampam os problemas na própria legenda – uma frente que reúne desde lideranças sérias de esquerda até muitos políticos pragmáticos e fisiológicos.
Como é do seu feitio, Ciro Gomes foi o primeiro a se rebelar contra a candidatura própria do PSB. Para ele, Eduardo Campos “não tem estrada” e não possui “nenhuma proposta, nenhuma visão” do Brasil. A legenda tenta estancar a crise interna, mas as declarações do ex-ministro evidenciaram que não há unidade na legenda para trilhar um caminho dissidente contra a reeleição da presidenta Dilma. A mídia demotucana, que aposta na divisão do campo governista, não deve ter gostado desta polêmica legítima e democrática no PSB.

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