terça-feira, 15 de janeiro de 2013

POLÍTICA - O desencanto dos operários em relação à esquerda.

''Esquerda deve se perguntar o porquê do desencanto dos operários'', diz historiador francês

A Fundação Jean-Jaurès, próxima do Partido Socialista, publicou na quinta-feira (10) uma nota intitulada "Onde está o voto operário?", enquanto o debate sobre as categorias populares agita a esquerda e a maioria. Jean-Philippe Huelin, professor de história e geografia no departamento de Jura e coautor, junto com Gaël Brustier, de "Voyage au bout de la droite" (Ed. Mille et une nuits, 2011), destrincha esse voto por tanto tempo ancorado à esquerda e que agora se tornou um grande desafio para toda a classe política. A entrevista de Jean-Philippe Huelin foi concedida à Bastien Bonnefous, publicada no jornal Le Monde e reproduzida no portal Uol, 12-01-2013.

Eis a entrevista.

François Hollande parece ter perdido a confiança das classes populares. Isso é preocupante?

A situação é muito inquietante e até catastrófica para o chefe do Estado. Em dezembro, ele perdeu mais três pontos de confiança entre os operários e conta com somente 28% de aprovação. Algo inédito para um presidente após oito meses de mandato! A situação está pior para François Hollande do que para François Mitterrand após o plano de rigor de 1983. Jean-Marc Ayrault e o Partido Socialista também estão em grandes dificuldades. Após três presidências sucessivas de direita, a esquerda que está de volta ao poder deveria se perguntar sobre essa desilusão tão forte e rápida.

Como o senhor explica isso?

As classes populares têm a sensação de que a esquerda não está atendendo às suas expectativas. Estas dizem respeito principalmente ao protecionismo econômico, o euro e a distribuição de riquezas. Qual a diferença para as classes populares entre uma direita social e um social-liberalismo assumido? O perigo é grande, pois isso as leva a se radicalizarem ou a se absterem. Nas últimas eleições presidenciais, a abstenção dos operários registrou dez pontos acima da média nacional. Essa abstenção, provavelmente em parte ligada à crise, é muito pouco estudada. Mas não deveríamos nos contentar, assim como nos Estados Unidos, com uma esquerda e uma direita que por fim teriam interesse em excluir as classes populares do debate democrático.

Em sua pesquisa, o senhor fala de um "voto dos operários" e não em um "voto operário". Por que essa nuance?

Por muito tempo o mundo operário foi uma fortaleza social que tinha um peso eleitoral importante. Seu voto era enquadrado politica e socialmente por sindicatos fortes e pelos partidos políticos de esquerda, liderados pelo Partido Comunista. Esse mundo operário se fragmentou completamente. Portanto, é lógico que essa fragmentação social e econômica se traduza em política por um voto disperso dos operários, da esquerda para a direita e a extrema direita. Os operários se tornaram um nicho eleitoral a mais no qual, por exemplo, a direita e Nicolas Sarkozy quiseram investir em 2007. Já a esquerda, que havia estruturado esse voto desde a Segunda Guerra Mundial, praticamente a abandonou, considerando com certo desprezo que ele já não era bom o suficiente para ela.

De quando vem esse desligamento entre os operários e a esquerda?

Principalmente de quando o PS esteve no poder, nos anos 1980. Em 1988, Mitterrand ainda teve uma votação bem forte da classe operária, mas a partir dos anos 1990, o divórcio se deu a ponto de agora a diferença entre esquerda e direita ser pouco pronunciada. Prova disso é que em 2007, assim como em 2012, Sarkozy teve o melhor desempenho já obtido por um candidato de direita entre os operários.

Como o senhor avalia a oposição que vem atravessando o PS, entre uma esquerda societal próxima do think tank Terra Nova e o movimento da Esquerda Popular?

É uma queda de braço decisiva para o futuro em médio prazo da esquerda. Esta pode ascender ao poder graças a uma conjuntura favorável, como em maio de 2012, mas para transformar a sociedade de forma profunda, ela precisa de tempo e do apoio de uma coalizão social majoritária e duradoura muito diferente da coalizão heterogênea preconizada pelo Terra Nova, reunindo "universitários", "urbanos", minorias da periferia", "mulheres" e "jovens".

Nenhum comentário: