quinta-feira, 19 de abril de 2012

POLÍTICA - Mensalão versus CPI.

Marcos Coimbra: as fantasias de uma mídia furiosa
   
Presidente do Vox Populi questiona cobertura da CPI do Cachoeira...
 
 
O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, até por dever profissional, tem o hábito de acompanhar de perto tanto o cenário político, quanto a leitura que a mídia dele faz. No desempenho desse ofício, em artigo publicado ontem na coluna do Noblat, sob o título "Mensalão vs CPI", ele tece fundamentadas e interessantes considerações.

Coimbra afirma que, salvo uma ou outra voz discordante, a nossa grande imprensa anda cheia de desconfianças quanto à instalação da CPI do Cachoeira. “Em alguns casos, sua má vontade é clara. Em outros, mostra-se furiosa”, afirma.

Na sequência, pergunta-se o sociólogo-articulista: “o que esperava (a mídia por parte) do Congresso? O que deveriam senadores e deputados fazer frente às denúncias de que Demóstenes Torres está afundado até a raiz dos (poucos) cabelos em gravíssimas irregularidades, assim como, em escala menor, alguns deputados e lideranças de vários partidos?".

Indícios que pipocam por todos os lados


O sociólogo também questiona: “E quanto às suspeitas que alcançam os governos de Goiás e do Distrito Federal, a revista Veja - um dos baluartes da imprensa de direita - e grandes empresas privadas?"

A desconfiança da maioria dos comentaristas – “e a fúria de alguns” - tem a ver com a ideia de que a CPI do Cachoeira é útil ao PT, responde o próprio Coimbra. “Ingênuo é achar que o PT deixaria um escândalo como esse passar em branco, sem se aproveitar dele politicamente”, assinala Coimbra.

Para o presidente do Vox Populi, merece explicação outra pérola da imprensa - “a hipótese de a CPI do Cachoeira “nada mais” ser que uma manobra para desviar a atenção do mensalão e livrar os acusados".

Tese, se confirmada, revelaria um ardil extraordinário


Caso a tese fosse confirmada, constata Coimbra, equivaleria a “um ardil extraordinário, no qual teriam que estar envolvidos Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira - para não falar dos asseclas”. A tese, afirma ele, “implica acreditar que o Supremo não decide de acordo com a Lei”.

Coimbra ressalta as centenas de conversas, e fala de fogão, geladeira e celulares que Demóstenes recebeu de Cachoeira. E indaga: “Ou, quem sabe, o senador seria um criptopetista?”. Por fim, Coimbra conclui: “No fundo, quem cultiva essas fantasias tem pequeno apreço por nossa Justiça e pela opinião pública. Ou as conhece mal”.



por Marcos Coimbra

Nossa “grande imprensa” está reagindo de forma curiosa à instalação da CPI do Cachoeira. Salvo uma ou outra voz discordante, anda cheia de desconfianças.
No mínimo.
Em alguns casos, sua má vontade é clara. Em outros, mostra-se furiosa.
Cabe a pergunta: o que esperava do Congresso? O que deveriam senadores e deputados fazer frente às denúncias de que Demóstenes Torres está afundado até a raiz dos (poucos) cabelos em gravíssimas irregularidades, assim como, em escala menor, alguns deputados e lideranças de vários partidos?
E quanto às suspeitas que alcançam os governos de Goiás e do Distrito Federal, a revista Veja - um dos baluartes da imprensa de direita - e grandes empresas privadas? Agora que pipocam indícios de todos os lados?
O certo seria que cruzassem os braços e fingissem que nada acontece?
Quando Lula e as lideranças do PT no Congresso entraram em campo para defender a criação da CPI se comportaram como é natural na política: perceberam que seus adversários estavam fragilizados e agiram.
As atuais oposições fizeram a mesma coisa quando tiveram a oportunidade. Assim como os próprios petistas no passado, quando eram oposição e não deixavam escapar qualquer chance de atingir o governo.
A desconfiança da maioria dos comentaristas - e a fúria de alguns - tem a ver com a ideia de que a CPI do Cachoeira é útil ao PT.
Existem CPIs que não são políticas - as que investigam e propõem medidas para enfrentar problemas sociais relevantes. Hoje, por exemplo, há três dessas na Câmara - uma a respeito do abuso infantil, outra do trabalho escravo e uma terceira sobre o tráfico de pessoas. Por mais meritórias que sejam, alguém acompanha seus trabalhos e se interessa por elas, a não ser (talvez) os especialistas?
Resultam de consensos, o inverso do que ocorre nas CPIs políticas. Essas são invariavelmente contra algo ou alguém - governo, governante, partido.
Se nossos comentaristas estão desconfiados - ou apopléticos - com a CPI do Cachoeira por ela ser política, deveriam ficar assim sempre. Todas têm “motivos secretos”, todas visam a alcançar objetivos estratégicos.
Ingênuo é achar que o PT deixaria um escândalo como esse passar em branco, sem se aproveitar dele politicamente.
E a hipótese de a CPI do Cachoeira “nada mais” ser que uma manobra para desviar a atenção do mensalão e livrar os acusados?
Seria um ardil extraordinário, no qual teriam que estar envolvidos Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira - para não falar dos asseclas. Sem suas centenas de conversas, sem os fogões, geladeiras e celulares que um recebeu do outro, ninguém nem pensaria em CPI. Ou, quem sabe, o senador seria um criptopetista?
Fora sua pouca lógica, a tese de que a motivação última da CPI é distrair o interesse das pessoas do julgamento do mensalão implica supor que esse interesse existe e que o tema, para elas, é relevante. O que não faz sentido. O assunto perdeu, há tempo, a capacidade de motivá-las.
Implica, também, imaginar que o Supremo julga conjunturalmente, ao sabor dos humores ocasionais da população e de acordo com o modo como a imprensa o pauta. Se as pessoas forem “desviadas” do mensalão, será leniente. Se for pressionado, será rigoroso. Ou seja: não age. Somente reage.
Implica acreditar que o Supremo não decide de acordo com a Lei.
No fundo, quem cultiva essas fantasias tem pequeno apreço por nossa Justiça e pela opinião pública. Ou as conhece mal.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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