terça-feira, 18 de outubro de 2011

POLÍTICA - O autismo da direita chega ao seu limite.

Por: Flavio Aguiar


Dias atrás um artigo do Nobel de Economia e comentarista do NY Times Paul Krugman chamava a atenção para o mundo de fantasia em que vivem os candidatos republicanos à presidência dos EUA. Dizia ele que o que o bando de candidatos fala parece vir de um outro planeta, não deste em que vivemos.

Ele prosseguia dizendo que o assustava a perspectiva de que algum deles pudesse chegar lá (e podem!) porque os desmandos que farão, a se acreditar no que prometem, não têm limites. Vivem num mundo em que cortar impostos é tudo e fazer investimentos sociais é nada; em matéria de política externa são absolutamente retrógrados, não veem qualquer relação entre aquecimento global e atividade industrial, automóveis etc.; querem podar os poderes das agências de meio ambiente; preveem um mundo sem sindicatos e sem poder de barganha para os trabalhadores; e por aí se vão.

Durante muito tempo pensei que esse tipo de autismo fosse característico apenas da direita brasileira. Agora vejo que não. Também me assusta esse grau de descolamento que a grande maioria dos políticos europeus vem manifestando, continuando aferrados ao modelo do Consenso de Washington, agora morto, mas, como um vampiro, redivivo no Consenso de Bruxelas.

Continuam apregoando o calote... no povo grego, no português, no irlandês, no espanhol, no italiano etc. como a maneira "segura" de resolver a crise da dívida pública, quando todas as pessoas, não só de bom senso, mas com algum senso, vêm insistindo na tecla de que, ao invés de diminuir, é necessario aumentar os investimentos sociais para criar empregos, aumentar poder aquisitivo, demanda etc. Parece não haver possibilidade de furar a parede que esse consenso criou em torno das suicidas "políticas de austeridade".

Agora apareceu mais um tipo de autismo, muito curioso, nas páginas do NY Times do sábado, coincidindo com os manifestações mundiais do movimento "Occupy..." o espaço que estiver ao alcance do olhar. É o autismo dos banqueiros, em particular dos de Wall Street, alvo da primeira manifestação do gênero contra o sistema financeiro, que agora se espalharam pelo mundo todo.

Esse autismo têm duas formas. A primeira, mais grosseira, é a desqualificação. Em privado, banqueiros, financistas, sabichões da direita qualificam os manifestantes como "desordeiros", "maconheiros", "gente que protesta contra a única coisa que funciona neste país, as finanças"...

Mas a segunda é que é mais sofisticada, elegante e... complicada. Seus mentores reconhecem a pertinência da fúria dos manifestantes. Mas... alegam que isso não tem nada a ver com eles e suas atividades. Os manifestantes estão simplesmente confusos quanto ao alvo: deviam protestar contra o governo, a regulamentação, os impostos. Não contra eles, banqueiros, que só fazem o bem à humanidade e que não podem ser acusados de nada. Uma certa dose de psicanálise faria bem, apontando mecanismos de transferência para neutralização do sentimento de culpa.

Pensando bem, esse autismo tem alguma razão de ser. Por exemplo: o Bank of America, em crise, prepara-se para despedir 30 mil funcionários. Mas dois deles, executivos, vão receber a modesta soma de 11 milhões de dólares a título de indenização. Depois, é claro, vão jogar a culpa pela quebradeira, por exemplo, europeia, nas aposentadorias dos trabalhadores gregos que, em média, ficam ao redor dos 1,2 mil euros mensais.

Aqui na Europa vemos outras razões para esse autismo prosperar. Vejam a lista de alguns bancos e do montante que têm nas carteiras em títulos das dívidas públicas europeias, agora sob ameaça de "reestruturação":

Intesa Sao Paolo (Itália), 59,2 bi de euros; BBVA (Espanha), 58,1; Unicredit (Italia), 50,1; Santander (E), 45,9; BNP Paribas (França), 35,5; Commerzbank (Alemanha), 17,3; Crédit Agricole (F), 14,8; HRE Holding (A); 11,1; Barclays (Grã-Bretanha), 10,1; Deutsche Bank (A), 9,5. (Fonte: Der Spiegel).

Total: 311,6 bi de euros. Por país: Itália, 109,3 bi; Espanha, 104; França, 50,3; Alemanha, 37,9; GB, 10,1. A isto ainda se somem os 133 bi de passivo do banco Dexia, recentemente nacionalizado pela França, Bégica e Luxemburgo.

E mais a notícia, dada pelo Financial Times, de que o Deutsche Bank tem créditos "a perigo" de 3,5 bi de euros em cassinos de Las Vegas, nos EUA. Como termo de comparação, assinale-se que daqueles 9,5 bilhões de euros que ele tem em créditos das dívidas públicas européias, 3,67 bilhões são de títulos das dívidas grega, portuguesa, espanhola, irlandesa e italiana.

Durma-se com o barulho chacoalhante de tantos números.
Fonte: Rêde Brasil Atual.

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