terça-feira, 30 de novembro de 2010

GUERRA DO RIO - Necessário controlar a corrupção de policiais.

Sem controlar a corrupção de policiais, o crime ainda continuará


"Sem controlar a corrupção na polícia e sem interromper a chegada das armas, provavelmente seremos obrigados a perder outros domingos assistindo a operações policiais heroicas pela televisão", analisa Michel Misse, chefe do Departamento de Sociologia da UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 29-11-2010.

Eis o artigo.

Vejo ainda agora, nesta tarde de domingo, os repetidos lances de uma histórica operação policial e militar, nos morros que cercam parte dos bairros da Penha e Olaria.

Canais de televisão transmitem, à náusea, as declarações de comandantes, delegados, secretários, comentaristas, repórteres e especialistas, informando-nos do momento histórico.

Uma força de 2.700 homens apreendeu grande quantidade de maconha, um bom número de armas e conseguiu a rendição de criminosos, naquela que já é apresentada como a "conquista do Alemão".

Não é a primeira vez que a polícia carioca adentra a região. Mas é certo que nunca antes uma ação policial nesta área contou com tão grande número de policiais e com o inédito apoio de blindados.

Da última vez que houve ação no Alemão, há quase três anos, para iniciar as obras do PAC, foram mortos 19 suspeitos. Desta vez, a operação tem sido conduzida com mais cuidado.

A cobertura midiática, que transmitiu o recado, não poderia tolerar outra alternativa que não esta, embora muitos telespectadores tenham torcido para um extermínio em massa dos criminosos.

Muitos ainda se perguntam se foi um golpe mortal no tráfico do Rio. Penso que não.

Nos últimos dois anos, só no Alemão, foram apreendidas 1.070 armas, efetuadas 1.200 prisões e 270 suspeitos mortos pela polícia.

Mas pode-se dizer que é a primeira vez que há uma "conquista de território" pelo Estado. Não é bem verdade e não se sabe se essa "conquista" será por muito tempo.

Trago essas questões não para diminuir a importância da operação, mas para argumentar para a complexidade de um problema que pode estar sendo reduzido a roteiro de filme de ação.

A reprodução e fortalecimento do tráfico de varejo no Rio sempre dependeram da oferta de proteção de policiais corruptos às redes de facções. Como também do tráfico de armas, que não é operado por amadores nem pelos traficantes de drogas que abastecem os morros.

Sem controlar a corrupção na polícia e sem interromper a chegada das armas, provavelmente seremos obrigados a perder outros domingos assistindo a operações policiais heroicas pela televisão.

Fonte:IHU

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