domingo, 31 de outubro de 2010

ELEIÇÕES - O Amor venceu o ódio.

Eu que assisti a violenta campanha da mídia golpista em 1954, liderada pela Tribuna da Imprensa, que acabou levando o presidente Getúlio Vargas ao suicídio, nunca poderia imaginar o que vi nessa campanha eleitoral que acabou com a vitória da Dilma. Em 54, pelo menos havia o jornal Última Hora, dirigido pelo Samuel Wainer que permitia o contraditório. Agora em 2010, toda a mídia se uniu contra o Lula, seu governo e a candidata Dilma. Instituiram o pensamento único que só podia ser contraditado pela blogosfera, essa sim, uma das grandes vencedoras dessa eleição.Foram os blogs e outras mídias alternativas que conseguiram desmascarar as mentiras, as manipulações, os factóides lançados quase que diariamente pelo PIG (Partido da Imprensa Golpista). Como se sabe,essa mídia tinha sempre um padrão de comportamento sempre previsível: a Veja lançava um factóide, à noite isso era repercutido no JN e na manhã seguinte, cabia os jornalões disseminarem a notícia. O nível de baixarias chegou a um tal ponto e aquí cabe lembrar algumas que me lembro no momento ( ficha falsa da Dilma, certidão de nascimento falsa, notícia que o câncer voltou, tomografia por uma bolinha de papel, vídeos prevendo o apocalipse e outras mais sórdidas ), que alguns tucanos me mandaram cartas envergonhadas pelo que estavam assistindo.
Por outro lado,vi um José Serra que conheci na luta contra a ditadura quando presidente da UNE, renegando o seu passado e se aliando as forças mais atrasadas do país, que um dia combateu, como a famosa TFP e setores mais radicais da direita saudosa da ditadura.

Por isso, posso repetir o seguinte, sem querer menosprezar ninguém:


O AMOR VENCEU O ÓDIO

A VERDADE VENCEU A MENTIRA

A SOLIDARIEDADE VENCEU O PRECONCEITO

O NACIONALISMO VENCEU O ENTREGUISMO

A ESPERANÇA MAIS UMA VEZ VENCEU O MÊDO

A BLOGOSFERA VENCEU A VELHA MIDIA HIPOCRITA

O POVO VENCEU PARTE DA ELITE PRECONCEITUOSA E RACISTA

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ELEIÇÕES - Últimas cenas da campanha eleitoral.

Acabei de ver agora os últimos programas dos candidatos presidenciais na TV e o noticiário do dia sobre a campanha eleitoral. Como Serra e Dilma vão participar daqui a pouco do décimo e derradeiro debate, na TV Globo, as últimas cenas foram protagonizadas em São Paulo e no Recife, respectivamente, sem a presença deles.

Em São Paulo, quem convocou e liderou a caminhada tucana foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No Recife, a carreata de Dilma foi comandada pelo presidente Lula. Imagens dos dois eventos e o noticiário completo estão na capa do iG.

Informam Ricardo Galhardo e Ana Carolina Dias, do iG em Pernambuco:

“Lula leva 100 mil pessoas às ruas do Recife _ Acompanhado do governador reeleito Eduardo Campos, Lula seguiu em carro aberto pelas ruas da capital pernambucana”.

Informa Rodrigo Rodrigues, do iG em São Paulo:

“FHC perde sola de sapato e interrompe caminhada _ Evento organizado pelo ex-presidente em apoio a Serra contou com participação do governador e prefeito de SP”.

Nada tenho a acrescentar.

Fonte: Blog Balaio.

ELEIÇÕES - O Índio se deu mal.

Do Blog A Pedrada

O candidato a vice-presidente de José Serra, vai até a Rocinha no RJ, mas se dá mal. Além de não conseguir entrar na comunidade, ainda tem que escutar um montão de cobranças, sem contar com as suas argumentações que foram prontamente desmentidas pelos moradores.

MÍDIA - Saiu no jornal argentino Clarin.

Serra lanza una durísima ofensiva contra Dilma

Por Eleonora Gosman

SAN PABLO. CORRESPONSAL

“Si sos una chica bonita consigue 15 votos. Para eso, toma la lista de pretendientes y envíales un email. Avísales que aquel que vote por mi tendrá más chances contigo”. Esta fue la gran consigna del candidato José Serra en un acto en Uberlandia (Minas Gerais) en el que ayer estuvo acompañado por el ex gobernador de ese estado, Aecio Neves. En la desesperación por conseguir los 10 millones de votos que le faltan para alcanzar y sobrepasar a su adversaria Dilma Rousseff el socialdemócrata no parece tener reparos en los argumentos.

Para dar un tono festivo al acto, trajeron batucadas debidamente pagas además de ómnibus con “militantes” que recibieron US$ 23 por el viaje entre Belo Horizonte y la ciudad del interior mineiro. El candidato decidió gastar sus últimos cartuchos en Minas Gerais, el tercer distrito electoral del país, porque entiende que allí podrá morder parte del caudal de votos que tuvo Dilma en la primera vuelta. “Minas es el centro del país, es la síntesis. Y aquí se va a decidir la elección”.

La última encuesta de ayer, de la prestigiosa consultora Ibope, marca una ventaja de Dilma de nada menos que 14 puntos. Sólo un milagro, o un error demasiado grosero de las encuestadoras, es capaz de llevar a Serra al Palacio del Planalto el 1º de enero de 2011. Claro que nada puede asegurarse hasta las 20 horas del domingo cuando finalice el recuento de votos. Hoy los dos postulantes protagonizan su último debate. Será en la emisora Globo en Río de Janeiro.

Con esa misma expectativa de que algo sobrenatural lo ayude en esta pelea tan terrenal por el poder, Serra usó la campaña televisiva gratuita para insultar a Dilma a quien consideró como una mujer que de ser elegida para la presidencia “dejará robar en la sala de al lado” de su despacho. Dijo que ella había “quebrado” la intendencia de Porto Alegre cuando la ex ministra de Lula ocupaba un puesto secundario, la acusó de inepta y falta de autonomía. En esa línea discursiva, Serra acusó a Lula de querer privatizar Petrobras y entregar la explotación de las enormes reservas encontradas en la plataforma marítima a las empresas extranjeras.

Dilma consideró esa historia francamente ridícula. Ante miembros de la Federación Unica de Trabajadores Petroleros dijo que es una gigantesca mentira. Agregó que fue el gobierno de Fernando Henrique Cardoso quien vendió un tercio de la empresa estatal Petrobras. El gobierno de Lula acaba de recuperar la mayor parte del paquete accionario que es ahora de 48%. “Brasil sabe quién está a favor de Petrobras y de la explotación de las riquezas por parte de la empresa estatal; como también sabe quién está a favor de dejarlas en manos extranjeras”, dijo.

ELEIÇÕES - História de um leitor tucano cidadão.

Este singelo blog teve a honra de receber a mensagem de um leitor que segue abaixo. Embora não seja de nosso feitio, publicamos. É um recado inspirador. Após a emocionada missiva seguem algumas informações complementares. Os grifos na carta são nossos.


Prezada NaMaria News;

Sou uma pessoa comum. Meu nome é Carlos Romero e frequento seu blog sempre, leio, comento e recomendo aos amigos de todos os partidos mesmo que eu nunca tenha sido petista. Ao contrário eu votei sempre PSDB, (não me leve a mal! Leia até o fim!). O que me traz ao seu blog é a certeza de que as suas informações procedem, então toda informação segura é bem-vinda. Nunca acreditei que a verdade viria de uma só fonte (eu sei que você sempre fala isso). Além do seu blog eu vou ao Azenha, Nassif, Cloaca, PHA, Vianna, muitos dos outros "sujos" e, claro, os do "meu partido". Os contrastes são impressionantes, para pior.

Eu trabalho na área da engenharia há muitos anos, sou irmão, tio, pai, avô, compartilho todos os deveres e prazeres com minha mulher há mais de 40 anos. Já passei por muitas eleições, mas nunca vi uma sujeira miserável como a que estou vendo nesta eleição de 2010. Como eu disse vou aos sites de "meu partido" e participo de correspondências.

Acontece que recebi um e-mail de um deles indicando um texto, fui lá olhar. Era o site Vou de Serra 45, ligado ao site oficial do José Serra e um texto pedindo para assistir e espalhar um filme disponível no Youtube. O filme é um horror, não apenas pelo tema ou forma como foi feito ou por ser contrário à candidata Dilma Roussef e ao PT e Lula, mas porque as informações nele contidas são absurdas. Eu assisti enojado, deu desespero ao ver tanta imbecilidade. Pouco tempo depois minha filha telefona perguntando se seu havia visto, o mesmo fizeram meus três filhos. Todos estavam revoltados. Mas o pior foi quando meus netos chegaram apavorados em nossa casa. Eles haviam assistido também e estavam assustados querendo saber se aquilo era verdade mesmo. Em casa sempre educamos os nossos para questionar e pensar, para refletir sobre os fatos em vez de aceitar tudo passivamente.

Tive um momento de intensa lucidez, NaMaria News foi algo providencial!! Então expliquei a situação a eles. Mostrei a verdade do governo Lula e a melhoria que até a nossa família teve em vários níveis. Mostrei como vivíamos tristes na Ditadura, como ficamos na miséria com o Collor, como ficamos na corda bamba com FHC e como encontramos conforto e segurança com Lula. Hoje eu tenho trabalho quando quero, mesmo tendo passado dos 60 anos, porque tenho conhecimento de área. Meus filhos estão todos empregados e compraram seus apartamentos, coisa que só fui fazer depois de anos e anos de aluguel e alto financiamento. Meus filhos fizeram faculdade, oportunidade que minha esposa só vai ter agora, graças à nossa estabilidade. Tínhamos uma empregada com mais de vinte anos de casa que saiu para seguir o sonho de fazer uma faculdade. Graças ao PROUNI ela está cursando enfermagem perto de sua cidade de origem no Nordeste. Hoje nos comunicamos diariamente pela internet. Ela é a única de sua família a ter esse privilégio de poder estudar em universidade, já sabemos que seu irmão mais novo irá pelo mesmo caminho em 2011, ele não está mais fazendo carvão nem a família. Isso certamente irá mudar as vidas dos seus familiares e sobretudo de sua filha que verá bom exemplo na mãe (solteira, que fez abortos clandestinos ainda jovem por desespero, ignorância de controle de natalidade e necessidade), mulher que teve sonhos e que é uma guerreira como poucas.

Mostrei isso e mais fatos aos meus netos e netas, mostrei a chantagem da bolinha de papel do Serra, a repercussão péssima do seu ato desmedido, a mentira do Jornal Nacional, a verdade do SBT e da Record, mostrei os panfletos sórdidos (que minha mulher trouxe da igreja que frequenta), mostrei sites como o seu, o lindo sambão da ridícula bolinha, fomos ao Twitter e até sobre aborto nós voltamos a falar. No final eles tiraram suas conclusões e quando perguntaram -"Mas avô você ainda vai votar no Serra? A avó também?" Foi um choque porque eu não havia pensado nisso ainda. Mas pensei com eles e sei minha resposta.

Foi então que voltei ao site Vou de Serra 45 e escrevi meu comentário logo abaixo do filme de terror e mentiras. Tomei a liberdade de tirar cópias das páginas que seguem no anexo para que ficasse registrado porque eu imaginei que meu comentário não seria publicado por aqueles covardes, mas meus netos e familiares poderiam se orgulhar de mim se o vissem.

Se quiser usar esse material pode usar NaMaria News. Pode espalhar porque a verdade deve ser espalhada muito mais que a mentira. Nossos filhos e netos, o nosso futuro não podem ficar nas mãos de terroristas como esses. Eles é que são os verdadeiros terroristas nessa eleição imunda em que a quiseram transformar. Nós não somos idiotas!!
NaMaria News, meus netos, minha família, meu ex PSDB, caro José Serra... Perdeu!! Sem medo de ser feliz nosso voto é Dilma 13 no dia 31!!

Cordiais abraços.
Carlos Romero
28/10/2010



Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/#ixzz13muS6Mc0


Comentário feito pelo Carlos - aguarda moderação, para sempre.


Hoje o tal site está fechado ao público, só os íntimos entram (confiram ao lado). Também havia filme do mesmo naipe com a "verdadeira história de Dilma"; ontem, durante o dia, desapareceu. Além do comentário do Sr. Carlos, o imediatamente acima parece não ter sido compreendido pela grandiosa filosofia dos idealizadores daquele recinto cibernético, foi aprovado.
Interessante porque "a coisa" estava linkada ao site oficial do candidato, também até ontem. Até saiu esculhambação na WEB, mas acabou sumindo de todo lugar. Por que? Comportamento típico, não é, Soninha?

Nossos sinceros agradecimentos ao Sr. Carlos Romero que, além de seu endereço completo, passou fone e skype, por onde tivemos agradabilíssima conversa com grande parte da família.
Este é um homem do bem, de fato.

Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/#ixzz13muAlv00
Fonte:Namarianews.

ELEIÇÕES - Sem comentários.

Tucanos distribuem declaração de "apoio" de Marina a Serra...


Marina SilvaEm nota oficial divulgada à noite, ontem, a candidata derrotada do PV à Presidência da República, senadora Marina Silva (PV-AC) denunciou que aliados do candidato tucano ao Planalto, José Serra (PSDB-DEM-PPS) distribuíram via e-mails antiga declaração sua - portanto, fora do contexto em que foi feita - como se fosse de apoio à candidatura presidencial tucana neste 2º turno.

"Não usem meu nome para o vale-tudo eleitoral", diz uma irritada Marina em sua nota. Além da má fé implícita na distribuição da corrente, o e-mail distribuido pelos simpatizantes de Serra não só manipula o teor como distorce e procura atribuir outro sentido a declaração de Marina.

De acordo com sua assessoria, um endereço de correio eletrônico falso e um post do blog "Eu Vou de Serra 45" redistribuiu aos eleitores da senadora verde uma declaração dada por ela ainda durante o 1º turno quando disse: "O Brasil não pode ser entregue a quem não conhece".

Cuidado com as manipulações e provocações

A nota distribuída, publicada pelo blog "Eu Vou de Serra 45" afirma: "Em campanha no Sul do País, a candidata Marina Silva, do PV, fez críticas em relação ao desconhecimento geral sobre a biografia da candidata do PT, Dilma Rousseff". Em sua declaração Marina não citava o nome da concorrente do PT e nem a nota do blog "Eu Vou de Serra 45" situa que ela a fez no Sul, ainda na campanha para o 1º turno".

Infelizmente, muitos não aprenderam nada com os resultados das urnas e continuam a promover a política de mais baixo nível ao usar estratagemas banais para buscar votos", lamentou a senadora na nota que divulgou.

Não comento porque a manipulação já fala por si do que são capazes os tucanos em seu desespero. Mas não posso deixar de alertar nossa militância, aliados e amigos para os riscos a que estamos todos expostos no vale tudo da oposição. Vamos redobrar a atenção com as manipulações e não cair nas provocações.
Fonte: Blog do Zé Dirceu.

ELEIÇÕES - Empresário Antônio Ermírio vota na Dilma.

O cavalo manco e o puro sangue por Antonio Ermírio de Moraes.

Os trabalhadores tem muito a aprender, mas não podemos negar que apontaram a seta do governo na direção de deixar de ser colônia extrativista. Isto já surtiu efeito no enfrentamento da última crise mundial, se o país estivesse com o modelo econômico anterior teria quebrado, isto foi dito por todos os segmentos da mídia (fora do contexto partidário) antes do processo da campanha política.

Se o governo não tivesse aberto agressivamente novos mercados com economias emergentes os efeitos seriam devastadores, isto é sério, e só aconteceu porque a direção foi mudada, as bases econômicas do governo FHC foram aproveitadas até um certo ponto, mas se não mudasse a estratégia, o Brasil teria quebrado como ocorreu nas outras crises.
A aposta no mercado exterior emergente e no mercado interno, via inclusão social, é reconhecido no mundo inteiro como uma grande sacada deste governo que salvou o país de um grande desastre.
O interessante é que foi apenas uma questão de auto estima, por incrível que pareça, o governo Lula adotou a estratégia nacionalista dos governos militares e deu certo. O que aflige o pessoal que governou nas décadas passadas é que o novo posicionamento foi ideológico, deu certo, o país se protegeu e cresceu. A fome, a miséria, as desigualdades não seriam resolvidos em oito anos, basta um pouquinho de bom senso pra enxergar isto.
A priorização no resgate dos pobres via programas de renda mínima e estímulo ao micro-crédito, o aumento em "dólar" de mais de 300% no salário mínimo, entre outras medidas, foram fundamentais para reduzir as desigualdades, irrigar de forma bem pulverizada a economia com dinheiro que gera emprego e germinou o ciclo virtuoso da economia.
Com o aproveitamento e o aperfeiçoamento das bases econômicas bastou a decisão política de acreditar que podemos sonhar em deixar de ser colônia extrativista.
Ainda estamos longe, não temos estradas, portos, aeroportos, escolaridade, sistema de saúde, centros de pesquisa, universidades qualificadas, mas para que possamos ter um dia todas estas coisas é preciso que tomemos a decisão política de apostar no Brasil, no trabalhador do Brasil, no empreendedor brasileiro, na distribuição de renda via salários dignos, no ciclo virtuoso do bom capitalismo, e esta decisão foi tomada neste governo.
Nesta decisão de política nacionalista, deflagrou-se um programa de investimento maciço em infraestrutura de longo prazo, que só vai repercutir em oito ou dez anos, visando viabilizar o desenvolvimento do país (reindustrialização nacional, agrobusiness, infraestrutura, geração de energia, etc), o programa de aceleração do crescimento, PAC, representando mais uma vez a aposta no Brasil, deu certo, o iluminado Lula novamente pontuou onde os tucanos falharam.
Quando a crise do primeiro mundo chegou o ciclo virtuoso se tornara auto-sustentável.
O capital produtivo já havia apostado no Brasil e o país já se mostrava como uma decisão acertada.
Em todas estas frentes estratégicas, o governo anterior apostou que as multinacionais tomariam nossas frentes produtivas sem interferência do estado, via privatização, etc, e gerariam novos empregos porque os trabalhadores venderiam sua mão-de-obra barato e os recursos naturais estariam a sua mercê para extrair e produzir fartos lucros.
Ledo engano, as multis são fiéis às suas origens, seu compromisso é de envio dos fartos lucros para as matrizes.
Esta decisão estratégica errada estava transformando o país em quintal extrativista do mundo, deixando os industriais locais à margem do processo, com a maioria da população condenada ao sub desenvolvimento enquanto uma minoria fazia compras nos shoppings de New York e Londres.
O mundo desenvolvido antes de ser o que é passou por decisões estratégicas de governo, as coisas não acontecem sozinhas. Esta foi a direção errada do governo anterior, acreditar que o lobo seria o melhor guardião do galinheiro e não apostar na capacidade do empreendedor e do trabalhador brasileiro.
Os trabalhadores tem muito a aprender e isto ficou evidente nos poucos anos de poder, mas os neocapitalistas de visão curta estiveram no poder a vida inteira e já mostraram muito bem o modelo de sociedade que desejam.
Prefiro levar meu cavalo manco para a fonte do que seguir de puro-sangue pro deserto.

Antonio Ermírio de Moraes

ELEIÇÕES - Joelmir Betting.

http://brasilmostraatuacara.blogspot.com/

MÍDIA - Hildegard Angel.

Ao leitor que reclama que eu sou parcial…

Hildegard Angel


Leitor reclama de minha parcialidade política, segundo ele sempre reservando as críticas do blog para José Serra. Entretanto, leitor, acho mais honesto isso do que se fingir de imparcial e escrever como parcial, manipulando a boa fé dos leitores. E nós sabemos como é fácil fazer isso, quando se é jornalista e não se tem grandes preocupações éticas...


Quem me acompanha sabe que sou voto declarado em Dilma, desde o princípio da campanha, não apenas agora, no segundo turno. Sou voto declarado, donde minha opinião é comprometida com a posição já assumida. E sou falante, gosto de me colocar. Mas respeito quem pensa diferente, e são muitos os meus amigos queridos que pensam diferente de mim na política. Porém, não desqualifico nem ofendo, como fazem alguns. Pra variar, vou me colocar hoje de novo a respeito dessa campanha do candidato tucano...


A gente ouve o horário eleitoral do Serra e tem vontade de vomitar. Ele diz que lutou pela esquerda e, ao mesmo tempo, tenta criminalizar Dilma por ter lutado à esquerda. Diz que criou o que os outros criaram (genéricos, lei pescadores etc.) e copia na maior desfaçatez a invenção alheia. Hoje, no rádio, como grande novidade, fala que seu programa de casas populares vai dar título de propriedade em nome das mulheres. O que o Minha Casa Minha Gente, do governo, faz desde o princípio...


Usa sistematicamente a tática do medo. Aproveita-se do fato de a grande imprensa estar fechada com ele (isto é, não repercute denúncias graves que envolvem seus parentes, gravíssimas – sigilos bancários, Banestado etc.) e procura responsabilizar Dilma por fatos não esclarecidos que nada têm a ver com ela...


É deselegante, mostra seu caráter com uma campanha que todo o tempo desqualifica uma mulher que o tratou com elegância desde o início. E, no momento em que finalmente Dilma, que é humana, reage com severidade, a imprensa-amiga-irmã-camarada de Serra diz que ela foi “agressiva”. Uma vergonha completa...


Serra é o Carlos Lacerda do Terceiro Milênio. O Corvo 2. Com a diferença que Lacerda mostrou competência como governador e Serra tirou nota 3,75 do Diap (baixíssima), como deputado constituinte, e foi um ministro da Saúde medíocre (dengue, sanguessugas etc.). Nós, aqui no Rio de Janeiro, bem vimos o estado calamitoso em que esteve a rede hospitalar pública à sua época. Os médicos e enfermeiros com memória e caráter sabem...


Serra, em vez de programa de governo, apresenta promessas, promessa vazias, muitas inviáveis, joga com a desinformação do eleitor, manipula, confunde ficção e verdade. Ele, por exemplo, denuncia que Dilma deu às empresas privadas e estrangeiros poços de petróleo, omitindo que foi o seu governo que mudou as regras nacionalistas anteriores, abrindo concessões para privadas e estrangeiros. Serra parece acreditar que o eleitor é um despreparado, mas nem todos, Serra, nem todos...
Fonte: Blog Brasil Mostra a Tua Cara.

ELEIÇÕES - O Papa agora virou cabo eleitoral.

Frei Betto lamenta que papa seja 'usado como cabo eleitoral'

São Paulo - Frei Betto lamenta a postura do papa Bento XVI, que voltou a trazer o aborto ao debate político brasileiro às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Na manhã desta quinta-feira (28), o papa esteve com 15 bispos brasileiros do Nordeste, a quem convocou a condenar o aborto e orientar fieis a "usar o próprio voto para a promoção do bem comum". Em entrevista à Rede Brasil Atual, o frei brasileiro sustenta que há temas mais relevantes para o momento.

"Lamento que Bento XVI esteja sendo usado como cabo eleitoral, seja para qual partido for. Há temas muito mais importantes do que aborto e religião para se discutir em uma campanha eleitoral", afirmou Frei Betto. "Aborto se evita com políticas sociais. Num país em que se sabe que os futuros filhos terão saúde, escolaridade e oportunidades de trabalho, o número de aborto é reduzido. Lula fez o governo que mais fez para evitar o aborto no Brasil", analisa.

No discurso proferido durante reunião em Roma, o papa afirmou que se "os direitos fundamentais da pessoa ou da salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". O discurso do papa reconheceu a possibilidade de eventuais efeitos negativos: "Ao defender a vida, não devemos temer a oposição ou a impopularidade".

Frei Betto relembrou que tal postura se parece com as de dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, bispos que subscreveram um panfleto produzido pela Regional Sul 1 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material trazia um pedido aos cristãos que não votassem no PT e em partidos que defendessem o aborto. Para o frei, o objetivo era clararamente fazer um manifesto anti-Dilma.

"Lamento também que três bispos tenham desviado a atenção da opinião pública para introduzir oportunisticamente o tema no debate", critica. Atuante em movimentos sociais, Frei Betto afirma que muitas mulheres acabam optando pelo aborto por se sentirem inseguras com o futuro que darão aos filhos.

Polêmica

O aborto ganhou status de tema de campanha desde o final do primeiro turno. A questão é apontada por analistas como uma das responsáveis pela perda de intenção de votos da candidata governista na reta final, causando o segundo turno. Desde o dia seguinte da votação, a discussão permaneceu na disputa entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

O fenônemo levou a campanha de Dilma a promover eventos com lideranças evangélicas e de outras religiões. Ela assumiu ainda compromissos em "defesa da vida" e contrários a mudanças na legislação sobre interrupção da gravidez. O PSDB teria empregado, segundo relatos publicados em jornais e blogues, uma ampla ação de telemarketing ativo (milhares de telefonemas a eleitores) com o objetivo de espalhar a informação de que a petista seria favorável ao aborto.

A onda foi seguida por figuras relevantes do cenário religioso. A Comissão em Defesa da Vida, grupo católico coordenado pelo padre Berardo Graz, divulgou nota incitando os fiéis a não votar em Dilma. No último sábado (23), porém, o bispo dom Angélico Sândalo Bernardino leu, em São Paulo, uma carta pela 'verdade e justiça nas eleições' deste ano. O conteúdo da carta critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.

Fonte:Brasil Atual

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ELEIÇÕES - Agora até o Papa dá palpite na eleição.

Balaio do Kotscho.

Agora até o Papa dá palpite na eleiçãoSó faltava ele! Pois ao abrir a capa (alguns preferem chamar de home page) do portal Estadão.com, a 72 horas das eleições presidenciais, tomo um susto ao ler a manchete: “Papa condena aborto e pede a bispos que orientem politicamente fíéis”.

Diz a nota que “em reunião em Roma na manhã desta quinta-feira, 28, o papa Bento XVI conclamou um grupo de bispos brasileiros a orientar politicamente fiéis católicos. Sem citar especificamente as eleições de domingo, o Papa reforçou a posição da Igreja a respeito do aborto e recomendou a defesa de símbolos religiosos em ambientes públicos”.

Além de condenar o aborto, como se alguém pudesse ser a favor do aborto, embora muitos defendam a sua descriminilização, o papa também cobrou o ensino religoso nas escolas públicas e defendeu a luta pela manutenção dos símbolos religosos, citando o monumento do Cristo Redentor no Rio, como se eles estivessem ameaçados.

O Brasil é um Estado laico e mantem relações diplomáticas com o Estado do Vaticano. Com que direito Sua Santidade vem meter o bedelho em questões internas de um país às vésperas das eleições presidenciais? Já não basta o papel impróprio e deprimente exercido por alguns dos seus bispos que, com esta falsa questão do aborto, transformaram seus altares em palanques contra uma candidatura e a favor de outra, distribuindo panfletos políticos em lugar de homilias?

Depois de ser explorado até a exaustão pelos bispos teefepeanos, telepastores dos dízimos e, principalmente, pela mídia, o assunto já tinha até saído de pauta, tão rapidamente quanto entrou, porque as últimas pesquisas mostraram que ele não estava mais rendendo nenhum resultado nas intenções de voto dos eleitores.

Em artigo publicado terça-feira no Observatório da Imprensa, o analista de mídia Cristiano Aguiar Lopes prova com números de uma pesquisa que “houve um esforço coordenado e eficiente dos principais jornais e revistas do país para insuflar a polêmica sobre o tema com vistas a um fim eleitoral mais que óbvio: roubar votos de Dilma entre eleitores conservadores contrários à descriminalização do aborto”.

Os números são impressionantes: a três dias do primeiro turno, no dia 30 de setembro, as principais publicações do país pesquisadas registraram 149 menções sobre o aborto, chegando a 430 no dia 8 de outubro, na primeira semana do segundo turno que foi dominada pelo tema.

“A primeira escalada ocorre pouco antes do primeiro turno e tem como objetivo conquistar os votos de indecisos e de dilmistas não muito convictos. A segunda, bem mais intensa, busca transferir para Serra os votos de um grande contingente de eleitores conservadores _ sobretudo católicos e evangélicos _ contrários à descriminalização do aborto”, conclui Cristiabno Aguiar Liopes.

A pesquisa prova também que não houve “onda verde” nenhuma que tenha provocado o segundo turno. Foi, na verdade, uma “onda religiosa” nas igrejas e nos subterrâneos da internet que beneficiaram a candidata evangélica Marina Silva e levaram a eleição ao segundo turno, usando a ameaça do aborto como instrumento eleitoral.

O Papa foi inconveniente, chegou atrasado na história e entrou de gaiato numa falsa polêmica que até a mídia já tinha esquecido. Deveria se preocupar mais com os casos de pedofilia envolvendo religosos que grassaram nos últimos anos em sua igreja, com a perda de fiéis para as seitas evangélicas e o esvaziamento dos seus templos. Não precisamos dos seus conselhos para saber como deveremos votar no domingo.

Fonte:Blog Balaio do Kotscho.

ELEIÇÕES - Sem medo de ser feliz.

Repasso mensagem do Pedro, meu filho, em resposta a um estagiário naemissora de TV onde trabalha. Como tem rodado bastante, e tenho recebido muitos comentários, resolvi compartilhar com mais alguns amigos.

abraços

Helena

Caro estagiário,

Hoje pela manhã, quando perguntei em quem você votaria para presidente,confesso que foi com surpresa que recebi sua resposta. Nos últimos dias,ânimos exaltados por causa das eleições, não tenho ouvido gente jovem einteligente como você dizer que votaria no Serra. Meio sem pensar, um poucoaborrecido, disse que talvez você o fizesse por ser novo demais para lembrardos anos FHC. Fiquei mais surpreso ainda quando você concordou, disse quetem ouvido muito esse argumento, mas que nada poderia fazer. Era de fatomuito jovem nos anos 90, não pode fazer um juízo de valor sobre eles.Votaria no Serra por não gostar da Dilma. Cheguei a me achar um privilegiadopor poder votar “de verdade“, calcado em coisas que vivi na pele, mas agoraestou em dúvida. Como não sou tão mais velho assim e não sou seu chefe, achoque não vai soar paternalista se dividi-la com você.A primeira vez que eu votei oficialmente foi em 2000, nas eleiçõesmunicipais. Apertei o botão verde para confirmar voto no meu pai, candidatomodesto a vereador. Votei também num prefeito do PDT que fez história aoderrotar um candidato tucano que tinha a máquina pública e um supostoaparato de corrupção a sustentar sua campanha. Por outro lado, se esqueceros trâmites burocráticos, posso dizer votei pela primeira mesmo em 1989.Puxado pela mão de meu pai, entrei na cabine e risquei um X ao lado de umnome: Lula. Eu tinha seis anos, mas me lembro bem daquela campanha: ânimosmuito mais exaltados do que agora, ameaças. Meu pai me arrumava para escolae invariavelmente pregava a estrelinha vermelha do PT na minha camisa. Podiaser muito lúdico durante o caminho, mas uma vez em sala de aula, ela setornava um fardo. As professoras e diretoras queriam me fazer de garoto derecado: “Fala para o seu pai que o Lula é analfabeto“, “Fala que eu vouvotar no Collor, porque ele é bonito. O Lula é feio“.Fernando um, Fernando dois e eis que chegou a minha vez de votar pelaprimeira para presidente. Foi em 2002. Eu não tinha nenhuma dúvida sobrequem escolheria. Há poucos meses, tinha vivido a frustração de pisar nauniversidade e ter recebido trote do Governo Federal. “Estamos em greve”,diziam os cartazes. Poderia ter voltado para casa, mas fui para as ruas coma molecada gritar. Os professores explicavam: “Eles querem sucatear auniversidade para depois vender”. Apesar dos meus 17 anos, era difícilacreditar numa estratégia tão simplista. Aos poucos, porém, vi que era tudoverdade. Faltava cadeira, material, e sobretudo, caráter. Lembro bem doVilhena, o reitor imposto pelo FH à UFRJ. Foi ele quem deu a mão e o braçopara as fundações privadas se firmarem dentro do campus. Eram abutresesperando o boi morrer.Era só querer ver, embora doesse. Como diz Saramago, a amargura é oolhar dos videntes. Quem tinha olhos mas não via, chamava os grevistas devagabundos. Eu não podia me dar esse direito. Minha mãe é professorauniversitária, sei o que é amargar nos olhos um contra-cheque que não condizcom uma mulher que fez mestrado, doutorado e pós-doutorado com três filhospra criar, dois empregos, trabalhando numa cidade, vivendo em outra. (Porfalar em vagabundo, essa tinha sido a palavra com que o Ilmo SenhorPresidente da República, Fernando Henrique Cardoso, tinha se referido temposantes aos aposentados).Mas deixemos as trevas de lado. Era 2002, eu dizia. Foi nesse ano que vium certo Luis Inácio Lula da Silva, depois de três tentativas frustradas,ser eleito Presidente da República. Eu tinha 20 anos quando ele começou agovernar. É a idade que você tem agora. Fazendo contas simples, vocêportanto, devia ter 12 anos nessa época. Talvez não se lembre, mas eu pudever na prática a esperança vencer o medo. Com os mesmos olhos, vi tambémmilhões de brasileiros erguerem a cabeça sobre a linha da miséria. Oargumento preferido dos serristas é o de que o Lula usou a mesma políticaeconômica do governo anterior. Para mim, é o que mais depõe contra eles. Setinham o mesmo dinheiro em caixa, porque não usaram em benefício dapopulação ?Se meu texto é simples e emotivo, não me leve a mal. Posso ter atreladominha argumentação à minha história de vida, mas agora entendo: não voto emDilma por razões pessoais. Aqui em casa, tudo vai bem, obrigado. Tenho umbom emprego, estudei numa das melhores universidades, falo línguas, conheçovários países. Um governo Serra não abala meu mundo. Eu não voto nem peloque viverei, nem pelo que vivi. Voto pelo que vi: primeiro, uma universidaderenascer, onde pude estudar durante quatro anos sem pagar um centavo;depois, vi um país colocar a cara de fora do atoleiro, olhar o mundo comaltivez. Hoje pela manhã, vi a Inglaterra anunciar um corte de quinhentosmil empregos públicos, pra conter a recessão, enquanto o Brasil anunciavarecorde histórico: dois milhões de vagas criadas nos últimos nove meses. E vi também, na sexta-feira passada, um sujeito arreganhar os dentes para mim em plena madrugada da Lapa. Era um vendedor de incenso, morador de NovaIguaçu. Ele me mostrou os dentes e falou:- Brasil sorridente, Brasil do Lula. Consegui consertar meus dentes.Se ao fim desse texto a minha idéia de que era um privilegiado por votar“de verdade” desabou, levo com ela a sua de que é preciso viver para ver. O mestre Saramago, sempre ele, não precisou perder a vista para falar de cegueira. Era ele mesmo quem dizia: “Se podes olhar, vê. Se podes ver,enxerga.“ O Brasil do Lula está na rua, é só sair e olhar. O de FHC é uma nau que já some no horizonte. Eu não quero que ela volte.

Pedro Leal David é jornalista

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

MÍDIA - O JN e o meteorito de papel.

O Jornal Nacional e o meteorito de papel.

É um processo retroalimentado diariamente: primeiro surge na coluna de Merval Pereira, depois ganha mais substância com o comentário de Lucia Hippolito na rádio CBN e pronto: logo os engenhosos e incompletos raciocínios pautarão as falas do presidenciável José Serra ao longo do dia.

Washington Araújo

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa

Ânimos exaltados fazem aflorar ainda mais a partidarização da imprensa no corrente pleito de 2010. Esta é uma campanha presidencialsui generis. Tudo o que não é fato vira notícia e tudo o que tem potencial de notícia deixa de ser divulgado. Chama a atenção o vocabulário corriqueiro dos candidatos à Presidência da República: o adversário é sempre mentiroso, não importa qual seja a situação, a mentira antecede o depoimento, a desfaçatez nubla a face da verdade e o que acusa o outro de mentiroso age da mesma forma e sem a contração de qualquer músculo facial.

Na tarde da quarta-feira (20/10), no Rio de Janeiro, tivemos o próprio "Efeito Borboleta": uma simples bolinha de papel, pesando não mais que 5 ou 8 gramas, bateu na cabeça do candidato José Serra. Mas foi suficiente para produzido o festejado efeito cinematográfico: ocupou espaço nobre no Jornal Nacional, edição mais que caprichada com direito a inserção de vídeo com foto, de entrevista de médico com áudio de repórter, ampliações desmesuradas com o intuito nada ingênuo de transformar o choque de uma bolinha de papel sobre um ser humano com a gravidade e contundência de meteorito se chocando com o planeta Terra.

Fabricação de realidades
A idéia da TV Globo era usar todos os recursos de dramaturgia acessíveis. Apenas a emissora líder não contava com o baixo desempenho da protagonista... Com uma bolinha de papel não dá para escrever capítulo muito emocionante, algo que seja digno de novela das 9.

A edição pareceu resultante de vitamina de atleta olímpico e tinha de tudo mesmo: bolinha de papel tocando o lado esquerdo da calva do presidenciável, caminhada de 20 minutos, presidenciável atendendo chamada no telefone celular, presidenciável passando a mão levemente sobre o lado direito da calva, presidenciável entrando na van, depois saindo da van, voltando a caminhar, e tudo isso tendo como pano de fundo bandeiras vermelhas e azuis, gritos, gente alvoroçada.

Depois corta para entrada do presidenciável em hospital, sinais de tontura e as primeiras aspas ouvidas por testemunhas de que "estou meio grogue". Depois saindo de clínica de saúde com médico dizendo que "o candidato não sofreu qualquer arranhão... nada externo".

Foi esse enredo que atravessou os programas dos presidenciáveis. O de José Serra, carregado de dramaticidade, tendo a locução de repórter desconhecida emulando a voz de Ilze Scamparini, aquela correspondente da TV Globo para assuntos do Vaticano e também da Itália em geral. Emula o rotineiro e grave estilo de enunciar crise cardinalícia ou mesmo morte do pontífice ou então a eleição do novo sucessor no trono de Pedro. Impressiona a avidez com que emissoras de televisão se sentem tão à vontade para criar a realidade que lhes pareça melhor, mais adequada, conveniente ou ao menos plausível.

"Misterioso caso"
Na quinta-feira (21/10), temos discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva embrulhando os parágrafos acima e amarrando todo esse minitiroteiro com barbantes apertados. O aperto de quem denuncia o conteúdo do pacote como farsa, nada mais que farsa. Até o goleiro Rojas, aquele que simulou ter sido atingido por foguete em jogo no Rio de Janeiro, foi mencionado na fala presidencial. Uma vez mais o pano de fundo era desmascarar mais mentiras, mais inverdades, mais falsidade, mais realidade fabricadas.

Na edição do Jornal Nacional de quinta-feira (21/10), repetição de cenas do arquivo do dia anterior acrescidas de aula sobre bolinha de papel, rolo de fita crepe e a teoria pouco convincente – penso – de dois eventos estanques, isolados, completamente distintos. A aula foi ministrada com raro didatismo pelo ex-professor da Unicamp Ricardo Molina de Figueiredo em um veículo e em um horário em que cada segundo vale literalmente ouro em pó. Onde a eternidade é condensada aos 5, 10 ou 15 segundos de matéria levada ao ar.

A TV Globo, ao escolher o especialista Molina, deixou claro que neste jogo quer maior protagonismo. Afinal é o mesmo Molina quem vem abastecendo dezenas de matérias produzidas pelo mesmo Jornal Nacional ao longo das décadas: Seu nome se encontra de alguma forma envolvido com casos como a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso; o acidente aéreo com os integrantes da banda Mamonas Assassinas; o pagamento de suborno no caso Waldomiro Diniz; as mortes de Celso Daniel e de Paulo César Farias; os atentados do PCC em São Paulo; e o caso da menina Eloá, em São Paulo.

Apesar da notoriedade, em suas aparições na mídia, o ex-professor Molina comumente faz declarações sobre ações da perícia criminal oficial, mesmo sem nunca ter sido perito criminal oficial. Certamente passará a lustrar mais sua fama com este "misterioso caso da bolinha de papel" na reta final da campanha presidencial de 2010.

De joelhos
Chegamos a uma encruzilhada perigosa em que a credibilidade de boa parte de nossa grande imprensa parece uma vez mais afundar: se dispomos das conclusões e se estas parecem sólidas, quase pétreas, por que não montar as variáveis do problema que possam se harmonizar de forma indolor e quase imperceptível com as conclusões? E é um processo retroalimentado diariamente: primeiro surge na coluna do jornalista Merval Pereira, depois ganha mais substância com o comentário da historiadora Lucia Hippolito na rádio CBN e pronto: logo os engenhosos e incompletos raciocínios pautarão as falas do presidenciável José Serra ao longo do dia.

Para chegar a tais conclusões basta um pouco de paciência: visitar os blogs dos citados e conferir vídeos no Youtube do presidenciável, em especial aqueles com suas aparições nos telejornais das TVs Globo, SBT, Record e Band.

O que é mais escasso no episódio é a ausência total de análises profundas por parte da grande imprensa sobre o acirramento de ânimos de parte a parte. O excesso de uso dos carimbos contendo palavras como "mentira", "inverdade", "falsidade". Revistas e jornais proclamam completa independência dos partidos postulantes à Presidência da República ao mesmo tempo em que os profissionais que assinam suas matérias, colunas e também os simulacros de reportagens não fazem outra coisa que proclamar diária e semanalmente sua profissão de fé na capacidade e experiência demonstrados por seu candidato ao Palácio do Planalto. Tal profissão de fé é sempre recorrente como recorrente tem sido a demonização do tal "outro lado" que atende também pelo nome de "campanha adversária".

Como linha auxiliar da oposição, parte considerável da grande mídia verbaliza o que pode ser apenas intuído por esta campanha. E se a "campanha adversária" decide não deixar passar em branco tão engenhosa estratégia partidária, então veremos que 10 em 10 vezes esta será atacada como atentatória à liberdade de imprensa, estará mostrando ranço autoritário, demonstrará assimetria entre a liturgia que se espera de detentor de cargo público e a função de militante político. E partem para a desqualificação mesmo...

Ao momento, a profundidade (da análise) a que me refiro é tal que uma formiga de joelhos poderia atravessar sem o menor risco de afogamento.



Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com

CUBA - Só EUA e Israel continuam a favor do bloqueio.

27
Oct EUA condenados por bloqueio a Cuba na ONU:187 a 2

Embargo a Cuba: rejeição quase unânime, efeito quase nulo.

A Assembléia-Geral da ONU condenou ontem o embargo econômico e comercial a Cuba, decretado há quase meio século pelos Estados Unidos.A resolução teve o apoio quase unânime dos 192 países que integram a organização: 187 membros votaram a favor, dois contra (EUA e Israel) e três abstiveram-se (Ilhas Marshall, Palau e Micronésia).

O embargo impede as relações comercial entre os dois países, distantes menos de 200 km, e proíbe empresas americanas de investir ou mesmo se associarem a outras, de outros países, que mantenham comércio com os cubanos. Segundo um relatório do governo cubano, o embargo imposto em 1962 representa para o povo cubano um dano de 173 bilhões de euros atualizado a preços no mercado norte-americano ou a 543 bilhões se as consequências do embargo forem medidas em termos da cotação do ouro no mercado internacional.

Acusando Washington de impor uma “guerra económica cruel de meio século” contra o seu país, o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros afirmou ontem que o arquiteto do embargo tinha sido Dwight Eisenhower, presidente dos EUA que começou por reduzir a importação de açúcar cubano, antes de John F. Kennedy decretar o embargo, a 7 de Fevereiro de 1962. Antes da revolução de 1959, o mercado norte-americano era o destino de 67% das suas exportações e 70% das importações vinham dos EUA.

Os países da da União Europeia (UE) voltaram a manifestar rejeição aos efeitos das sanções dos EUA, que entre outras coisas afetam empresas europeias com presença em Cuba.

O chanceler cubano Bruno Rodríguez Parrilla além de uma descrição dos efeitos do embargo, listou uma série de problemas enfrentados por Cuba na área de saúde, por não poder comprar tecnlogia e equipamentos cirúrgicos fabricados apenas nos Estados Unidos ou em outros países que não os vendem por temerem ser atingidos pelas represálias previstas nas leis que regem o embargo.

Nem mesmo a oposição a Fidel Castro defende o embargo. Para o economista e opositor cubano Oscar Espinosa Chepe, o embargo serviu unicamente “para fazer mal ao povo cubano e justificar a repressão” e acaba por ser “um álibi para Havana justificar o desastre nacional”.

Ontem foi a 19ª vez que Cuba pediu à ONU que pusesse termo ao embargo. Todas as vezes o embargo foi condenado, sem encontrar acolhida dos Estados Unidos.

Fonte: Blog Tijolaço.

ELEIÇÕES - Niemeyer na FSP.

Aos 102 anos, a lucidez de Niemeyer.

Reproduzo, para que todos possam ler, o artigo de Oscar Niemeyer, na Folha de S. Paulo de hoje. A coerência de um grande brasileiro desafia os anos, as décadas, o século.

“Temos que ter cuidado é para eleger uma pessoa que tenha compromissos de manter o que foi conquistado e aprimorar o que precisa ser aprimorado. Ou seja, fazer o dobro do que nós fizemos.” (De entrevista concedida pelo presidente Lula a Fernando Morais, publicada pela revista “Nosso Caminho”, em novembro de 2008).
O importante para nós da esquerda não é, propriamente falando, este momento da disputa entre Dilma Rousseff e José Serra, embora de seu resultado dependa a continuação das políticas de Lula, que tanto vêm engrandecendo o país e assegurando uma vida mais digna ao povo brasileiro.
Assusta-nos imaginar o que aconteceria no caso de uma vitória de Serra. Seria a repetição do que ocorreu no Brasil anteriormente à Presidência de Lula: o governo afastado do povo, alheio ao que se passa na América Latina, indiferente à ameaça que o imperialismo dos EUA representava para os países do nosso continente.
Seria o avançar do processo de privatização de grandes empresas nacionais e de empreendimentos de valor estratégico para este país. Tudo isso é tão claro aos olhos da maioria dos cidadãos brasileiros que, confiantes, vêm apoiando, sem recuos, a candidatura Dilma.
Não sou especialista em ciência política para entrar em detalhes sobre o assunto; a imprensa disso se ocupa o tempo todo.
Na minha posição, de homem de esquerda, o que interessa não é analisar exaustivamente os programas de governo que cada um dos candidatos apresenta, mas defender a permanência das diretrizes fixadas pela gestão de Lula, tão autêntico e patriótico que surpreende o mundo inteiro.
Eis o que vocês da Folha me pedem que escreva e que eu, modestamente, procurei atender.

Fonte: Blog Tijolaço.

MÍDIA - O ato contra a censura a Revista Brasil Atual..

O ato contra censura a Revista do Brasil e a patifaria do Aloysio Nunes

Hoje, às 19h, no Sindicato dos Bancários de São Paulo, acontecerá um ato a favor da democracia e da liberdade de expressão.

O evento tem conexão direta com a censura à Revista do Brasil, mas também contra o impedimento do blogue Falha de S. Paulo; a tentativa da vice-procuradora-geral do Ministério Público Eleitoral, Sandra Cureau de intimidar a revista Carta Capital; a demissão da psicanalista Maria Rita Kehl do O Estado de S. Paulo, entre outras arbitrariedades ocorridas nesta eleição.

A questão é que existe um movimento para de um lado impedir que haja contraditório na esfera pública da comunicação. E por outro para banditizar e desacreditar os veículos de comunicação que não fazem parte do clube da velha mídia.

O recente episódio envolvendo o repórter João Peres, da Rede Brasil Atual, e o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, é simbólico deste movimento.

Nunes Ferreira, segundo a versão de João Peres, primeiro lhe acusou de pelego por trabalhar num veículo ligado a sindicato de trabalhadores. Depois, não satisfeito, ofendeu a mãe do repórter.

O senador eleito tem todo o direito de não querer falar com qualquer veículo. Xingar alguém por conta do veículo que ele trabalha, isso ele não pode. É selvageria e inaceitável.

Conversei com João Peres e ele me relatou o episódio. Segundo ele, Nunes Ferreira iniciou a entrevista, mas quando foi alertado por uma assessora (morena, estatura média, cabelo cumprido e que usava óculos) de que o repórter trabalhava para a Revista do Brasil, a história mudou.

“Ele me disse que falaria depois, que não ia da mais entrevista porque minha revista era financiada pelo PT. Tentei argumentar e perguntei se ele não falava com revista financiada por trabalhadores. Ele então disse que não falava com pelegos e começou a andar e me chamar de pelego várias vezes. Neste momento, eu disse: ‘que educação em senador’. Foi quando ele me chamou de pelego filho da puta.”

No tuiter, Nunes Ferreira desmente o episódio e dá a sua versão:

“Revista sindical que faz campanha da Dilma, bancada por dinheiro público, quis me entrevistar na Record e eu recusei. O “jornalista” perguntou se eu não falava com trabalhador. Respondi: falo com trabalhador, com pelego, não falo. O “jornalista” faz o q eu esperava dele: mente quando afirma q o xinguei de fdp. Chamei de pelego, o q é verdade e, para mim, muito pior.”

A resposta de Aloysio Nunes se não confirma o filho da puta, por motivos que me parecem óbvios, comprova sua agressividade em relação a João Peres e à publicação que não faz parte do time das suas queridinhas.

Mais do que o filho da puta, a agressividade e tentativa de calar um segmento da imprensa é o que está em jogo.

Se um político do PT agredisse desta maneira um jornalista da Veja, que é um panfleto do PSDB, provavelmente haveria uma grita em defesa da liberdade de imprensa.

Posso garantir que João Peres é jornalista sério. Duvido que tenha inventado essa história. Antes de ser contratado como repórter da Rede Brasil Atual, fez frilas para a Revista Fórum. É formado pela ECA-USP e já trabalhou na Rádio Jovem Pan e na Band News, onde foi, inclusive, chefe de edição do jornal que é apresentado por Ricardo Boechat.

É inadmissível que pessoas com a responsabilidade política de Aloysio Nunes Ferreira passem a estimular agressões verbais a jornalistas no exercício profissional.

Se a moda pega, nós da outra mídia, que não é agraciada com a compra de pacotes imensos de assinaturas do governo de São Paulo, é que vamos ter que andar de capacete nas coberturas jornalísticas com tucanos presentes.

Para finalizar e explicar o título, alguém que ataca um trabalhador de forma covarde age como um patife. Não é um xingamento. É uma constatação.
Fonte: Blog do Rovai.

MÍDIA - A falsa democracia de Aloysio Nunes.

Reproduzo artigo de João Peres, publicado na Rede Brasil Atual:

Foi com espanto e tristeza que ouvi os xingamentos a mim dirigidos pelo senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Na noite de segunda-feira (25), o ex-chefe da Casa Civil do governo paulista classificou-me como “pelego e filho da puta.” A agressão verbal ocorreu antes do debate realizado pela Rede Record entre os candidatos à Presidência da República.

Ao senador, não havia, até aquele momento, dirigido nenhuma palavra. Tudo o que ele sabe de mim, naquele instante e agora, é que trabalho para a Rede Brasil Atual e para a Revista do Brasil. Parece ser suficiente para que se sinta no direito de proferir insultos: são veículos produzidos por uma empresa privada cuja receita vem da prestação de serviço (venda de anúncios e assinaturas) a pessoas físicas e jurídicas – incluindo sindicatos de trabalhadores.

Foi por conta desse aspecto que o PSDB obteve liminar, via Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vetando a continuidade da distribuição e a divulgação da edição 52 da revista na internet sob a argumentação de que dinheiro do trabalhador não pode financiar material eleitoral - este assunto já foi discutido aqui e a editora apresentou recurso ao TSE, não cabendo de minha parte qualquer argumentação.

O que a mim, como jornalista, é importante debater é a maneira como o senador se sente no direito de tratar a imprensa. É deplorável que, como repórter, tenha de me posicionar contra a agressão que sofri, deixando de exercer o fundamento básico da minha profissão, que é escrever sobre os outros, e não sobre minha vida. O único bem de um jornalista, ao menos daquele que não se presta a coleguismos com o poder, é a palavra: é ela que ouço, é com ela que conto histórias.

Quando o senador classifica a mim como “pelego filho da puta” porque trabalho em um veículo que jamais escondeu sua posição favorável à continuidade do atual projeto de governo, recorre a uma simplificação lamentável. Seguida a linha de pensamento do futuro parlamentar, todos os que trabalham em Veja, Folha, Estado e O Globo são, necessariamente, tucanos – e aí o leitor escolha o adjetivo que deve acompanhar a classificação.

A fala do senador é reveladora da propensão a não lidar com o contraditório. Talvez por maus costumes: quem circula pelos eventos políticos brasileiros sabe a cordialidade com que são tratados alguns líderes políticos, plenamente oposta à ferocidade dispensada a outros. Ao recorrer a esta simplificação, realiza-se um desmerecimento prévio de meu trabalho, numa triste tentativa de intimidação de minha atuação. Simplificação que teve continuidade no Twitter, em que o senador utilizou aspas para dizer que sou jornalista: "O 'jornalista' faz o que eu esperava dele: mente quando afirma que o xinguei de fdp. Chamei de pelego, o que é verdade e, a mim, muito pior."

O senador sabe as palavras que proferiu. Se quer admitir em público ou não, para mim é indiferente. O que não se pode colocar em dúvida é minha formação e minha integridade profissional. Sou jornalista – sem aspas – formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Minha passagem pelo Departamento de Jornalismo e Editoração, portanto, está lá registrada, caso alguém se interesse em averiguar.

Daqui por diante, como o senador espera que se proceda para entrevistar algum integrante do PSDB? Será que a democracia ideal contempla apenas a manifestação das vozes amigas (e queridas), sem espaço ao debate necessário para o amadurecimento da sociedade e, por consequência, da realização do bom jornalismo? O PSDB, que tem recorrido a simplificações para acusar adversários de quererem cercear a liberdade de pensamento, é quem mais nos fornece exemplos deste suposto cerceamento. Já não cabem nos dedos de uma mão: a restrição da circulação da Revista do Brasil, a censura ao jornal ABCD Maior, a tentativa de agressão do padre que se manifestou contra boatos, a ação no Paraná para impedir a publicação de pesquisas eleitorais, a "criminalização" de jornalistas que fazem perguntas efetivas a Serra e, agora, este xingamento.

Uma coisa é a opinião de um veículo. Outra, que não se confunde, é a opinião do jornalista. Esta, manifesto em blogues e nas redes sociais da internet, bem como outras centenas de profissionais da área, e deixo para trás quando estou na condição de repórter. Nas redações nas quais trabalhei, e há nesta lista algumas que o senador seguramente vê com bons olhos, sempre mantive minha posição de não deixar que interesses se misturem. Cumpro o compromisso de ouvir todos os lados. Como teria feito na última segunda-feira, se me tivesse sido conferida, pelo senador, tal oportunidade. Espero que, na próxima ocasião, Aloysio Nunes se mostre aberto ao diálogo. Sem ofensas, sem simplificações.

Fonte: Blog do Miro.

ELEIÇÕES - O dia em que Lula derrotou Serra.

Balaio do Kotscho.

O dia em que Lula derrotou Serra

Oito anos atrás, foi num dia 27 de outubro, como hoje, dia do seu aniversário, que Lula ganhou sua primeira eleição para presidente da República. Por acaso, o adversário derrotado em 2002 foi o mesmo tucano José Serra, que agora disputa novamente a eleição, desta vez contra a petista Dilma Rousseff, a candidata escolhida por Lula para a sua sucessão.

O que aconteceu nos bastidores da campanha de Lula naquele dia histórico? Eu era seu assessor de imprensa na época e passei o dia com o então candidato, mas já não me lembro mais de muita coisa, assim de cabeça.

Por isso, recorro outra vez ao meu livro de memórias, “Do Golpe ao Planalto _ Uma vida repórter” (Companhia das Letras, 2006) para rememorar como foi que Lula ficou sabendo que era o novo presidente eleito.

***

Às cinco horas da tarde do domingo, 27 de outubro de 2002, no dia em que Lula completava 57 anos, foi com muito custo que ele atendeu a meu chamado para vir até onde se encontravam sua família _ a mulher, os quatro meninos e as noras _ e uns poucos amigos, diante do aparelho de televisão.

Desde a hora do almoço, ele conversava com José Dirceu, Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho e Antonio Palocci na sala de refeições da suíte presidencial do Gran Meliá, na avenida Nações Unidas, no bairro do Brooklin, em São Paulo. Lula votara de manhã numa escola em frente à sua antiga casa de esquina, na Vila Paulicéia, em São Bernardo do Campo, e chegara de helicóptero ao hotel.

A TV Globo iria anunciar o resultado da pesquisa de boca-de-urna da eleição presidencial. O âncora Franklin Martins (o mesmo que hoje é seu ministro) chamou a repórter, que estava ao lado do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro:

“Agora, ao vivo, vamos conhecer os resultados da pesquisa boca-de-urna com a repórter…”. Por coincidência, a repórter era minha filha mais velha, Mariana Kotscho.

“Olha lá, Mara! A Mariana está mesmo com jeito de grávida!”: foi o primeiro e único comentário de Lula, como se o resultado anunciado por Montenegro, dando-lhe a vitória por larga margem sobre José Serra, não estivesse acabando de confirmar a primeira eleição de um operário para a presidência da República do Brasil, depois de três tentativas frustradas.

As pessoas começaram a pular, gritar e se abraçar. Lula, impassível, braços cruzados, olhava para o monitor de TV. Parecia não acreditar no que via e ouvia _ ou já esperava aquele resultado havia muito tempo e por isso não se surpreendeu. Os filhos, também; pareciam assistir ao final de um jogo cujo resultado já conheciam. Com os números da pesquisa aparecendo na tela, não tinha mais erro.

A comemoração podia começar, mas o dono da festa resistia. “Porra, Lula, nós ganhamos a eleição!”, gritei, e lhe dei um tapão nas costas, para ver se ele caía na real.

***

Quem quiser saber conhecer a história completa, das comemorações na avenida Paulista até o dia da grande festa da posse em Brasília, está tudo no capítulo “Da vitória à posse – 2002″. É só comprar o livro.

Nesta quinta-feira, Lula faz 65 anos, e entra oficialmente na terceira idade, a dois meses de entregar o cargo para seu sucessor ou sucessora. O tempo correu depressa.

Em tempo:

o nosso preclaro Enio Barroso Filho, um dos sócios fundadores deste Balaio, me deu uma boa idéia em seu comentário: perguntar onde o amigo leitor estava e o que lembra deste dia 27 de outubro de 2002?

Fonte: Balaio do Kotscho
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MÍDIA - Uma carta ao Noblat.

Uma carta ao Noblat.

Deus me livre de que o tempo me corroa a humildade e me faça querer ser dono da verdade, destes que não ouvem com o coração e não escrevem com alma.
E que me permita um dia, quando os cabelos – se restarem – ficarem brancos, escrever como o aposentado Carlos Moura, da mineira Além Paraíba, faz hoje numa carta aberta ao jornalista Ricardo Noblat, respondendo a uma agressão insólita e desnecessária que fez, ontem, em seu blog, a Lula, dizendo que lhe falta, desde que decidiu eleger Dilma, “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.
A carta de Moura foi publicada no Escrevinhador, de Rodrigo Vianna, e eu a reproduzo aqui:

Noblat

Quem é você para decidir pelo Brasil (e pela História) quem é grande ou quem deixa de ser? Quem lhe deu a procuração? O Globo? A Veja? O Estadão? A Folha?

Apresento-me: sou um brasileiro. Não sou do PT, nunca fui. Isso ajuda, porque do contrário você me desclassificaria, jogando-me na lata de lixo como uma bolinha de papel. Sou de sua geração. Nossa diferença é que minha educação formal foi pífia, a sua acadêmica. Não pude sequer estudar num dos melhores colégios secundários que o Brasil tinha na época (o Colégio de Cataguases, MG, onde eu morava) porque era só para ricos. Nas cidades pequenas, no início dos sessenta, sequer existiam colégios públicos. Frequentar uma universidade, como a Católica de Pernambuco em que você se formou, nem utopia era, era um delírio.

Informo só para deixar claro que entre nós existe uma pedra no meio do caminho. Minha origem é tipicamente “brasileira”, da gente cabralina que nasceu falando empedrado. A sua não. Isto não nos torna piores ou melhores do que ninguém, só nos faz diferentes. A mesma diferença que tem Luis Inácio em relação ao patriciado de anel, abotoadura & mestrado. Patronato que tomou conta da loja desde a época imperial.

O que você e uma vasta geração de serviçais jornalísticos passaram oito anos sem sequer tentar entender é que Lula não pertence à ortodoxia política. Foi o mesmo erro que a esquerda cometeu quando ele apareceu como líder sindical. Vamos dizer que esta equipe furiosa, sustentada por quatro famílias que formam o oligopólio da informação no eixo Rio-S.Paulo – uma delas, a do Globo, controlando também a maior rede de TV do país – não esteja movida pelo rancor. Coisa natural quando um feudo começa a dividir com o resto da nação as malas repletas de cédulas alopradas que a União lhe entrega em forma de publicidade. Daí a ira natural, pois aqui em Minas se diz que homem só briga por duas coisas: barra de saia ou barra de ouro.

O que me espanta é que, movidos pela repulsa, tenham deixado de perceber que o brasileiro não é dançarino de valsa, é passista de samba. O patuá que vocês querem enfiar em Lula é o do negrinho do pastoreio, obrigado a abaixar a cabeça quando ameaçado pelo relho. O sotaque que vocês gostam é o nhém-nhém-nhém grã-fino de FHC, o da simulação, da dissimulação, da bata paramentada por láureas universitárias. Não importa se o conteúdo é grosseiro, inoportuno ou hipócrita (“esqueçam o que eu escrevi”, “ tenho um pé na senzala” “o resultado foi um trabalho de Deus”). O que vale é a forma, o estilo envernizado.

As pessoas com quem converso não falam assim – falam como Lula. Elas também xingam quando são injustiçadas. Elas gritam quando não são ouvidas, esperneiam quando querem lhe tapar a boca. A uma imprensa desacostumada ao direito de resposta e viciada em montar manchetes falsas e armações ilimitadas (seu jornal chegou ao ponto de, há poucos dias, “manchetar” a “queda” de Dilma nas pesquisas, quando ela saiu do primeiro turno com 47% e já entrou no segundo com 53 ) ficou impossível falar com candura. Ao operário no poder vocês exigem a “liturgia” do cargo. Ao togado basta o cinismo.

Se houve erro nas falas de Lula isto não o faz menor, como você disse, imitando o Aécio. Gritos apaixonados durante uma disputa sórdida não diminuem a importância histórica de um governo que fez a maior revolução social de nossa História. E ainda querem que, no final de mandato, o presidente aguente calado a campanha eleitoral mais baixa, desqualificada e mesquinha desde que Collor levou a ex-mulher de Lula à TV.

Sordidez que foi iniciada por um vendaval apócrifo de ultrajes contra Dilma na internet, seguida das subterrâneas ações de Índio da Costa junto a igrejas e da covarde declaração de Monica Serra sobre a “matança de criancinhas”, enfiando o manto de Herodes em Dilma. Esse cambapé de uma candidata a primeira dama – que teve o desplante de viajar ao seu país paramentada de beata de procissão, carregando uma réplica da padroeira só para explorar o drama dos mineiros chilenos no horário eleitoral – passou em branco nos editoriais. Ela é “acadêmica”.

A esta senhora e ao seu marido você deveria também exigir “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.

Você não vai “decidir” que Lula ficou menor, não. A História não está sendo mais escrita só por essa súcia de jornais e televisões à qual você pertence. Há centenas de pessoas que, de graça, sem soldos de marinhos, mesquitas, frias ou civitas, estão mostrando ao país o outro lado, a face oculta da lua. Se não houvesse a democracia da internet vocês continuariam ladrando sozinhos nas terras brasileiras, segurando nas rédeas o medo e o silêncio dos carneiros.

Carlos Torres Moura

Além Paraíba-MG

Fonte: Blog Tijolaço.

ELEIÇÕES - O Bush tupiniquim.

Uma coisa estranha aconteceu na noite passada em Natal.

por Miguel Nicolelis*, especial para o Viomundo

Desde que cheguei ao Brasil, há duas semanas, eu vinha sentindo uma sensação muito estranha. Como se fora acometido por um ataque contínuo da famosa ilusão, conhecida popularmente como déjà vu, eu passei esses últimos 15 dias tendo a impressão de nunca ter saído de casa, lá na pacata Chapel Hill, Carolina do Norte, Estados Unidos.

Mas como isso poderia ser verdade? Durante esse tempo todo eu claramente estava ou São Paulo ou em Natal. Todo mundo ao meu redor falava português, não inglês. Todo mundo era gentil. A comida tinha gosto, as pessoas sorriam na rua. No aeroporto, por exemplo, não precisava abrir a mala de mão, tirar computador, tirar sapato, tirar o cinto, ou entrar no scan de corpo todo para provar que eu não era um terrorista. Ainda assim, com todas essas provas evidentes de que eu estava no Brasil e não nos EUA, até no jogo do Palmeiras, no meio da imortal “porcada”, a sensação era a mesma: eu não saí da América do Norte! Mesmo quando faltou luz na Arena de Barueri durante o jogo, porque nem a 25 km da capital paulista a Eletropaulo consegue garantir o suprimento de energia elétrica para um prélio vital do time do coração do ex-governador do estado (aparentemente ninguém vai muito com a cara dele na Eletropaulo. Nada a ver com o Palmeiras), eu consegui me sentir à vontade.

Custou-me muito a descobrir o que se sucedia.

Porém, ontem à noite, durante o debate dos candidatos a Presidência da República na Rede Record, uma verdadeira revelação me veio à mente. De repente, numa epifania, como poucas que tive na vida, tudo ficou muito claro. Tudo evidente. Não havia nada de errado com meus sentidos, nem com a minha mente. Havia, sim, todo um contexto que fez com que o meu cérebro de meia idade revivesse anos de experiências traumatizantes na América do Norte.

Pois ali na minha frente, na TV, não estava o candidato José Serra, do PSDB, o “partido do salário mais defasado do Brasil”, como gostam de frisar os sofridos professores da rede pública de ensino paulistana, mas sim uma encarnação perfeita, mesmo que caricata, de um verdadeiro George Bush tropical. Para os que estão confusos, eu me explico de imediato. Orientado por um marqueteiro que, se não é americano nato, provavelmente fez um bom estágio na “máquina de moer carne de candidatos” em que se transformou a indústria de marketing político americano, o candidato Serra tem utilizado todos os truques da bíblia Republicana. Como estudante aplicado que ainda não se graduou (fato corriqueiro na sua biografia), ele está pronto para realizar uns “exames difíceis” e ser aceito para uma pós-graduação em aniquilação de caracteres em alguma universidade de Nova Iorque.

Ao ouvir e ver o candidato, ao longo dessas duas semanas e no debate de ontem à noite, eu pude identificar facilmente todos os truques e estratégias patenteados pelo partido Republicano Americano. Pasmem vocês, nos últimos anos, essa mensagem rasa de ódio, preconceito, racismo, coberta por camadas recentes de fé e devoção cristã, tem sido prontamente empacotada e distribuída para o consumo do pobre povo daquela nação, pela mídia oficial que gravita ao seu redor.

Para quem, como eu, vive há 22 anos nos EUA, não resta mais nenhuma dúvida. Quem quer que tenha definido a estratégia da campanha do candidato Serra decidiu importar para a disputa presidencial brasileira tanto a estratégia vergonhosa e peçonhenta da “vitória a qualquer custo”, como toda a truculência e assalto à verdade que têm caracterizado as últimas eleições nos Estados Unidos. Apelando invariavelmente para o que há de mais sórdido na natureza humana, nessa abordagem de marketing político nem os fatos, nem os dados ou as estatísticas, muito menos a verdade ou a realidade importam. O objetivo é simplesmente paralisar o candidato adversário e causar consternação geral no eleitorado, através de um bombardeio incessante de denúncias (verdadeiras ou não, não faz diferença), meias calúnias, ou difamações, mesmo que elas sejam as mais absurdas possíveis.

Assim, de repente, Obama não era mais americano, mas um agente queniano obcecado em transformar a nação americana numa república islâmica. Como lá, aqui Dilma Rousseff agora é chamada de búlgara, em correntes de emails clandestinos. Como os EUA de Bill Clinton, apesar de o país ter experimentado o maior boom econômico em recente memória, foi vendido ao povo americano como estando em petição de miséria pelo então candidato de primeira viagem George Bush.

Aqui, o Brasil de Lula, que desfruta do melhor momento de toda a sua história, provavelmente desde o período em que os últimos dinossauros deixaram suas pegadas no que é hoje o município de Sousa, na Paraíba, passa a ser vendido como um país em estado de caos perpétuo, algo alarmante mesmo. Ao distorcer a verdade, os fatos, os números e, num último capítulo de manipulação extremada, a própria percepção da realidade, através do pronto e voluntário reforço do bombardeio midiático, que simplesmente repete o trololó do candidato (para usar o seu vernáculo favorito), sem crítica, sem análise, sem um pingo de honestidade jornalística, busca-se, como nos EUA de George Bush e do partido Republicano, vender o branco como preto, a comédia como farsa.

Não interessa que 26 milhões de brasileiros tenham saído da miséria. Nem que pela primeira vez na nossa história tenhamos a chance de remover o substantivo masculino “pobre” dos dicionários da língua portuguesa. Não faz a menor diferença que 15 milhões de novos empregos tenham sido criados nos últimos anos. Ou que, pela primeira vez desde que se tem notícia, o Brasil seja respeitado por toda a comunidade internacional. Para o candidato da oposição esse número insignificante de empregos é, na sua realidade marciana, fruto apenas de uma maior fiscalização que empurrou com a barriga do livro de multas 10 milhões de pessoas para o emprego formal desde o governo do imperador FHC.

Nada, nem a realidade, é capaz de impressionar os fariseus e arautos que estão sempre prontos a denegrir o sucesso desse país de mulatos, imigrantes e gente que trabalha e batalha incansavelmente para sobreviver ao preconceito, ao racismo, à indiferença e à arrogância daqueles que foram rejeitados pelas urnas e vencidos por um mero torneiro mecânico que virou pop star da política internacional. Nada vai conseguir remover o gosto amargo desse agora já fato histórico, que atormenta, como a dor de um membro fantasma, o ego daqueles que nunca acreditaram ser o povo brasileiro capaz de construir uma nação digna, justa e democrática com o seu próprio esforço. Como George Bush ao Norte, o seu clone do hemisfério sul não governa para o povo, nem dele busca a sua inspiração. A sua busca pelo poder serve a outros interesses; o maior deles, justiça seja feita, não é escuso, somente irrelevante, visto tratar-se apenas do arquivo morto da sua vaidade, o maior dos defeitos humanos, já dizia dona Lygia, minha santa avó anarquista. Para esse candidato, basta-lhe poder adicionar no currículo uma linha que dirá: Presidente do Brasil (de tanto a tanto). Vaidade é assim, contenta-se com pouco, desde que esse pouco venha embalado num gigantesco espelho.

Voltando à estratégia americana de ganhar eleições, numa segunda fase, caso o oponente sobreviva ao primeiro assalto, apela-se para outra arma infalível: a evidente falta de valores cristãos do oponente, manifestada pela sua explícita aquiescência para com o aborto; sua libertinagem sexual e falta de valores morais, invariavelmente associada à defesa do fantasma que assombra a tradição, família e propriedade da direita histérica, representado pela tão difamada quanto legítima aprovação da união civil de casais homossexuais. Nesse rolo compressor implacável, pois o que vale é a vitória, custe o que custar, pouco importa ao George Bush tupiniquim que milhares de mulheres humildes e abandonadas morram todos os anos, pelos hospitais e prontos-socorros desse Brasil afora, vítimas de infecções horrendas, causadas por abortos clandestinos.

George Bush, tanto o original quanto o genérico dos trópicos, provavelmente conhece muitas mulheres do seu meio que, por contingências e vicissitudes da vida, foram forçadas a abortos em clínicas bem equipadas, conduzidas por profissionais altamente especializados, regiamente pagos para tal prática. Nenhum dos dois George Bushes, porém, jamais deu um plantão no pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo e testemunhou, com os próprios olhos e lágrimas, a morte de uma adolescente, vítima de septicemia generalizada, causada por um aborto ilegal, cometido por algum carniceiro que se passou por médico e salvador.

Alguns amigos de longa data, que também vivem no exterior, andam espantados com o grau de violência, mentiras e fraudes morais dessa campanha eleitoral brasileira. Alguns usam termos como crime lesa pátria para descrever as ações do candidato do Brasil que não deu certo, seus aliados e a grande mídia.

Poucos se surpreenderam, porém, com o fato de que até o atentado da bolinha de papel foi transformado em evento digno de investigação no maior telejornal do hemisfério sul (ou seria da zona sul do Rio de Janeiro? Não sei bem). No caso em questão, como nos EUA, a dita grande imprensa que circunda a candidatura do George Bush tupiniquim acusa o Presidente da República de não se comportar com apropriado decoro presidencial, ao tirar um bom sarro e trazer à tona, com bom humor, a melhor metáfora futebolística que poderia descrever a farsa. Sejamos honestos, a completa fabricação, desmascarada em verso, prosa e análise de vídeo, quadro a quadro, por um brilhante professor de jornalismo digital gaúcho.

Curiosamente, a mesma imprensa e seus arautos colunistas não tecem um único comentário sobre a gravidade do fato de ter um pretendente ao cargo máximo da República ter aceitado participar de uma clara e explicita fabricação. Ou será que esse detalhe não merece algumas mal traçadas linhas da imprensa? Caso ainda estivéssemos no meio de uma campanha tipicamente brasileira, o já internacionalmente famoso “atentado da bolinha de papel” seria motivo das mais variadas chacotas e piadas de botequim. Mas como estamos vivendo dentro de um verdadeiro clone das campanhas americanas, querem criminalizar até a bolinha de papel. Se a moda pega, só eu conheço pelo menos uns dez médicos brasileiros, extremamente famosos, antigos colegas de Colégio Bandeirantes e da Faculdade de Medicina da USP, que logo poderiam estar respondendo a processos por crimes hediondos, haja vista terem sido eles famosos terroristas do passado, que se valiam, não de uma, mas de uma verdadeira enxurrada, dessas armas de destruição em massa (de pulgas) para atingir professores menos avisados, que ousavam dar de costas para tais criminosos sem alma .

Valha-me Nossa Senhora da Aparecida — certamente o nosso George Bush tupiniquim aprovaria esse meu apelo aos céus –, nós, brasileiros, não merecemos ser a próxima vítima do entulho ético do marketing eleitoral americano. Nós merecemos algo muito melhor. Pode parecer paranoia de neurocientista exilado, mas nos EUA eu testemunhei como os arautos dessa forma de fazer política, representado pelo George Bush original e seus asseclas, conseguiram vender, com grande sucesso e fanfarra, uma guerra injustificável, que causou a morte de mais de 50 mil americanos e centenas de milhares de civis iraquianos inocentes.

Tudo começou com uma eleição roubada, decidida pela Corte Suprema. Tudo começou com uma campanha eleitoral baseada em falsas premissas e mentiras deslavadas. A seguir, o açodamento vergonhoso do medo paranóico, instilado numa população em choque, com a devida colaboração de uma mídia condescendente e vendida, foi suficiente para levar a maior potência do mundo a duas guerras imorais que culminaram, ironicamente, no maior terremoto econômico desde a quebra da bolsa de 1929.

Hoje os mesmos Republicanos que levaram o país a essas guerras irracionais e ao fundo do poço financeiro acusam o Presidente Obama de ser o responsável direto de todos os flagelos que assolam a sociedade americana, como o desemprego maciço, a perda das pensões e aposentadorias, a queda vertiginosa do valor dos imóveis e a completa insegurança sobre o que o futuro pode trazer, que surgiram como conseqüência imediata das duas catastróficas gestões de George Bush filho.

Enquanto no Brasil criam-se 200 mil empregos pro mês, nos EUA perdem-se 200 mil empregos a cada 30 dias. Confrontado com números como esses, muitos dos meus vizinhos em Chapel Hill adorariam receber um passaporte brasileiro ou mesmo um visto de trabalho temporário e mudar-se para esse nosso paraíso tropical. Eles sabem pelo menos isto: o mundo está mudando rapidamente e, logo, logo, no andar dessa carruagem, o verdadeiro primeiro mundo vai estar aqui, sob a luz do Cruzeiro do Sul!

Fica, pois, aqui o alerta de um brasileiro que testemunhou os eventos da recente história política americana em loco. Hoje é a farsa do atentado da bolinha de papel. Parece inofensivo. Motivo de pilhéria. Eu, como gato escaldado, que já viu esse filme repulsivo mais de uma vez, não ficaria tão tranqüilo, nem baixaria a guarda. Quem fabrica um atentado, quem se apega ou apela para questões de foro íntimo, como a crença religiosa (ou sua inexistência), como plataforma de campanha hoje, é o mesmo que, se eleito, se sentirá livre para pregar peças maiores, omitir fatos de maior relevância e governar sem a preocupação de dar satisfações aqueles que, iludidos, cometeram o deslize histórico de cair no mais terrível de todos os contos do vigário, aquele que nega a própria realidade que nos cerca.

Aliás, ocorre-me um último pensamento. A única forma do ex-presidente (Imperador?) Fernando Henrique Cardoso demonstrar que o seu governo não foi o maior desastre político-econômico, testemunhado por todo o continente americano, seria compará-lo, taco a taco, à catastrófica gestão de George Bush filho. Sendo assim, talvez o candidato Serra tenha raciocinado que, como a sua probabilidade de vitória era realmente baixa, em último caso, ele poderia demonstrar a todo o Brasil quão melhor o governo FHC teria sido do que uma eventual presidência do George Bush genérico do hemisfério sul. Vão-se os anéis, sobram os dedos. Perdido por perdido, vamos salvar pelo menos um amigo. Se tal ato de solidariedade foi tramado dentro dos circuitos neurais do cérebro do candidato da oposição (truco!), só me restaria elogiá-lo por este repente de humildade e espírito cristão.

Ciente, num raro momento de contrição, de que algumas das minhas teorias possam ter causado um leve incômodo, ou mesmo, talvez, um passageiro mal-estar ao candidato, eu ousaria esticar um pouco do meu crédito junto a esse grande novo porta-voz do cristianismo e fazer um pequeno pedido, de cunho pessoal, formulado por um torcedor palmeirense anônimo, ao candidato da oposição. O pedido, mais do que singelo, seria o seguinte:

Candidato, será que dá pro senhor pedir pro governador Goldman ou pro futuro governador Dr. Alckmin para eles não desligarem a luz da Arena Barueri na semana que vem? Como o senhor sabe, o nosso Verdão disputa uma vaguinha na semifinal da Copa Sulamericana e, aqui entre nós, não fica bem outro apagão ser mostrado para todo esse Brazilzão, iluminado pelo Luz para Todos, do Lula. Afinal de contas, se ocorrer outro vexame como esse, o povão vai começar a falar que se o senhor não consegue nem garantir a luz do estádio pro seu time do coração jogar, como é que pode ter a pretensão de prometer que vai ter luz para todo o resto desse país enorme? Depois, o senhor vem aqui e pergunta por que eu vou votar na Dilma? Parece abestalhado, sô!


* Miguel Nicolelis é um dos mais importantes neurocientistas do mundo. É professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e criador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, (RN). Em 2008, foi indicado ao Prêmio Nobel de Medicina.

Fonte:Blog VIOMUNDO.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

ELEIÇÕES - União e olho vivo contra as provocações.

Reproduzo artigo enviado pelo amigo Beto Almeida, membro do conselho diretivo da Telesur:

É cama de gato
Olha a garra dele
É cama de gato
Melhor se cuidar
No campo do adversário
É bom jogar com muita calma
Procurando pela brecha
Pra poder ganhar. Gonzaguinha

Não se trata de paranóia, mas de leis da história, pelas quais, as classes poderosas na sociedade usam de todos os métodos, inclusive armações truculentas, inventam conflitos ou os promovem diretamente, para evitar que a vontade soberana de um povo seja vencedora.

Não há aqui nenhuma novidade, nem exagero. É bom se cuidar contra a cama-de-gato e manter total calma e atenção. A própria campanha conservadora marcada pela clara linha de sufocar o debate democrático de projetos e propostas para o país, impondo uma pauta de corte moralista obscurantista, já tem a envergadura de um golpe midiático. E foi articulada junto aos laboratórios dos grandes poderes internacionais que alimentam a malignidade intrínseca da mídia comercial. A frustrada tentativa de transformar a bolinha de papel e uma fita adesiva, até agora invisível, em agressões que se equivaleriam a “terrorismo” revela uma intenção. Sinistra intenção.

Lições que ficam

Vale relembrar alguns episódios mais recentes. Em 2002, uma passeata da oposição que percorria as ruas de Caracas com autorização dos poderes públicos foi repentinamente desviada em direção ao Palácio Presidencial, mesmo sabendo que nas proximidades havia já outra manifestação de partidários do governo bolivariano. Ao chegar próxima à Ponte Llaguno, num determinado horário, assim que os líderes da passeata opositora retiraram-se, emblemáticamente, uma enorme balaceira vinda dos terraços dos prédios começa a atingir fatalmente muitos dos manifestantes. Dezenas perderam a vida.

A responsabilidade pelos tiros foi imediatamente atribuída ao governo, antes de qualquer investigação ou prova. Mas provocou uma comoção tal que horas mais tarde estava concretizado o golpe de estado que tirou da presidência, por 47 horas, mediante sequestro, o presidente da república, Hugo Chávez. O brilhante documentário “Puente Llaguno”, acessível na internet, já desmacarou a farsa. Os responsáveis já foram identificados, processados e muitos já estão presos. Pertenciam à Guarda Municipal, comandada pelo prefeito de Caracas, atuante no grupo de articuladores do golpe de estado.

Rafael Correa, presidente do Equador, acaba de ser alvo de tentativa similar. Não será perdoado nunca por ter recuperado a soberania nacional sobre a Base Aérea Manta, antes sob comando militar dos EUA...

Outro episódio que deixa lições: as explosões na estação ferroviária de Atocha, em Madrid, em 11 de março de 2004, às vésperas das eleições gerais na Espanha. Imediatamente, o primeiro-ministro José Maria Aznar, candidato à reeleição, responsabilizou a ETA, e, de certo modo a oposição por, segundo política conservadora, que incluía o envio de tropas para o Iraque e o Afeganistão, não permitir um enfrentamento mais duro com a questão basca.

Seu pronunciamento era totalmente dirigido a pesar negativamente na tendência das eleições, com o apoio dos grandes meios de comunicação, quando já se evidenciava a vitória do PSOE, do hoje primeiro ministro José Luiz Zapatero. Não fora uma rebelião social de jovens, intelectuais, sindicalistas, usando as novas tecnologias de comunicação, que conseguiu parar o intuito golpista, quem sabe o candidato direitista, Aznar, não tivesse sido finalmente derrotado como foi. Vitorosioso Zapatero, alguns meses depois a Espanha retirava suas tropas do Iraque.

Nem é preciso ir tão longe. O Brasil tem lamentáveis e traumáticas histórias de ações provocadoras organizadas para justificar guinadas mais à direita, para desestabilizar governantes democráticamente eleitos, para justificar golpes, enfim, para defender os interesses do grande capital em cada momento. A popularidade de Lula é um indicador singular, nem há a mesma condição do pré golpe de 64, mas Jango tinha uma popularidade de 71 por cento ao ser derrubado da presidência.

Uma história trágica

Alguém já lembrou por aí o crime da Rua Toneleiros, quando foi morto o Major Vaz e, como desdobramento, instala-se uma Comissão de Inquérito no Galeão, instrumento de desestabilização do Governo Vargas. Era uma iniciativa combinada com uma ação midiática golpista que proclamava abertamente, diuturnamente, a deposição do presidente eleito. Este preferiu paralisar o golpe com o tiro no coração que despertou a fúria popular.

Seguindo a trilha, para nos acautelar e ter consciência, mas não para nos intimidar, vale citar que a história do Brasil tem, nestas páginas lúgubres, o Plano Cohen, o Plano da Explosão do Gasômetro do Rio, a explosão do Rio-Centro, o Proconsult e o sequestro do empresário Abílio Diniz, na antevéspera da eleição presidencial de 1989.

Nem sempre há como evitar estas sinistras ações tramadas nos porões. Nem sempre funcionam. Mas sempre que a sociedade vai avançando em conquistas democráticas, em participação popular organizada, consolidando instituições, partidos, sindicatos, em distribuição de renda, setores conservadores e reacionários tentam impedir que as mudanças sociais sejam irreversíveis, que se consolide a popularidade e se afirmem as lideranças mais avançadas. Tentam usar o processo eleitoral que é o mais manipulável, mas quando fracassam, como na Venezuela, buscam o caminho da conspiração, sem medir esforços e sem qualquer escrúpulo.

Mesmo quando os grandes meios de comunicação comercial estejam pouco dispostos a investigar a sua verdadeira autoria, ou até mesmo ecoem tais episódios com o sensacionalismo mais exacerbado, destacando eventuais coincidências com sua linha editorial, na proporção inversamente contrária aos procedimentos obrigatórios para uma verdadeira apuração jornalística. O Rio-Centro, por exemplo, permanece em penumbra até hoje...

Nunca se sabe o que irá ocorrer, mas, sabemos sempre que quando bilionários ou trilionários interesses estiverem em jogo - como os do petróleo pré-sal, da riqueza imensa do nióbio e do urãnio, apenas para dar alguns exemplos - as oligarquias internacionais que promoveram guerras, golpes de estado, ditaduras, carnificinas mil, etc, estarão sempre cogitando a utilização de meios que lhes assegurem seus nefastos e injustificáveis privilégios sobre o patrimônio de outros povos.

Fiscalização

Da mesma forma que as mobilizações de rua, muito comuns em momento tão decisivo como este, devem ser organizadas com detalhes e contar algum dispositivo adequado de segurança, feita pelos próprios militantes, prática usada em muitos países de maior estabilidade democrática.

É preciso evitar enfrentamentos de militância nas ruas, que ofereçam às forças conservadoras o pretexto que buscam para alterar o processo democrático. O episódio da bolinha de papel é emblemático, imagine-se se houvesse um ferido da oposição: escândalo nacional! O dia 31 está chegando...

Mas, há sim o que pode ser feito e é um procedimento em que a militância pode ter papel decisivo. Trata-se da fiscalização da votação, do começo ao fim.

As fragilidades

Deve-se estar atento às conclusões do Fórum do Voto Seguro - votoseguro.org.br - indicando que a urna eletrônica brasileira foi rejeitada por todos os mais de 50 países que vieram conhecê-la. Que é proibida em dezenas de países por não materializar o voto e por identificar o eleitor (exemplo: Alemanha, Holanda, Reino Unido, 40 estados dos EUA, Argentina, México e Paraguai) e que até mesmo o inventor da Assinatura Digital condena a ausência da materialização do voto.

E também quando aponta que é a Autoridade Eleitoral que executa/administra, legisla/regulamenta (a fiscalização permitida é feita com regras do próprio fiscalizado) julga e muitas vezes ignora as próprias regras, que recebe as denúncias, protela ou arquiva, e finalmente, julga-se e normalmente absolve-se, só a participação militante pode fazer alguma diferença

Especialmente nos maiores colégios eleitorais, a militância deve estar atualizada sobre as fragilidades mais evidentes e com sua presença atenta e cidadã poderá evitar a ocorrência das irregularidades mais comuns.

Urna no cerrado

Entre elas, aquela que é feita ao final da votação. Os mapas eleitorais indicam que uma grande afluxo de votação estaria ocorrendo nos momentos finais, prestes ao fechamento da urna. Será? É indispensável que o fiscal esteja até o momento da totalização de cada seção eleitoral e exige uma cópia impressa do boletim de urna, conforme reza a lei eleitoral, mas nem sempre é cumprido. Uma fiscalização ausente, omissa, facilita esta irregularidade super comum, pois, sem emissão impressa da totalização de cada seção, no transporte da urna para o Tribunal muitos eventos heteroxos podem ocorrer, desde a troca do cartão ou pura e simplesmente a troca da própria urna.

O deputado federal Geraldo Magela, candidato derrotado ao governo do Distrito Federal em 2002, relatou em Comissão na Câmara Federal sobre uma certa quantidade de urnas eletrônica encontradas abandonadas em pleno cerrado que rodeia Brasília naquele pleito. Mas, com a totalização impressa em mãos, aquela emitida na seção no ato de fechamento da urna, qualquer discrepância relevante poderá ser detectada quando do ato de se fazer a totalização em escala superior, já no Tribunal.

União e olho vivo

Assim, de olho em nossa complexa história, vale manter muita calma e maracujina diante de provocações, como diz a música do Gonzaguinha. E que toda a militância que apareceu pouco até momento, apareça agora generosa, atuante, inteligente e perspicaz na fiscalização cidadã e republicana.

Sem falar que muito mais importante e agradável que qualquer empurra-empurra de rua é a tarefa de dirigir argumentos convincentes aos que se abstiveram, aos que ainda acham, apesar de tudo, que os candidatos são iguais e por isso votaram nulo ou em branco. Este contingente está na escala dos milhões. Decide qualquer eleição. E pode decidir se o país seguirá construindo sua soberania com justiça social ou se retorna à era da vassalagem internacional e “à mania de falar fino com Washington”, como disse o Chico Buarque.

Fonte: blog do Miro.

ELEIÇÕES - "vírus oportunista" na campanha.

Frei Betto: ‘vírus oportunista’ na campanha


Fabio Victor *

Adital

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 66, afirma que a forma como são abordados religião e aborto nesta campanha está "plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso".
O frade dominicano responsabiliza a própria Igreja Católica por introduzir um "vírus oportunista" na disputa eleitoral.

E define como "oportunistas desesperados" os bispos da Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) que assinaram no fim de agosto uma nota, depois tornada panfleto, recomendando aos fieis não votar em candidatos do PT.

Em entrevista à Folha, o religioso analisa que os temas ganharam espaço na agenda porque "lidam com o emocional do brasileiro". "Na América Latina, a porta da razão é o coração, e a chave do coração é a religião. A religião tem um peso muito grande na concepção de mundo, de vida, de pessoa, que a população elabora."


Amigo do presidente Lula, de quem foi assessor entre 2003 e 2004 e a quem depois manteve apoio crítico, e eleitor de Dilma Rousseff, Frei Betto defende que as políticas sociais do atual governo evitaram milhões de mortes de crianças e, por isso, discuti-las é mais importante do que debater o aborto.

Folha - Desde que deixou o cargo de assessor de Lula, o sr. manteve um apoio crítico ao governo, um certo distanciamento. A pauta religiosa --ou a forma como ela foi introduzida na campanha-- lhe reaproximou do governo e do PT?

Frei Betto - Eu nunca me distanciei. Sempre apoiei o governo, embora fazendo críticas. O governo Lula é o melhor da nossa história republicana, mas não tão ideal quanto eu gostaria, porque não promoveu, por exemplo, nenhuma reforma na estrutura social brasileira, principalmente a reforma agrária.

Mas nunca deixei de dar o meu apoio, embora tenha escrito dois livros de análise do governo, mostrando os lados positivos e as críticas que tenho, que foram "A mosca azul" e "O calendário do poder", ambos publicados pela Rocco. Desde o início do processo eleitoral, embora seja amigo e admire muito a Marina Silva, no início até pensei que Dilma venceria com facilidade e que poderia apoiá-la [Marina], mas depois decidi apoiar a candidata do PT.

Mas você entrou com mais força na campanha por conta da pauta religiosa, sem a qual talvez não tivesse entrado tanto?

Eu teria entrado de qualquer maneira dando meu apoio, dentro das minhas limitações. Agora essa pauta me constrange duplamente, como cidadão e como religioso. Porque numa campanha eleitoral, penso que o mais importante é discutir o projeto Brasil. Mas como entrou o que considero um vírus oportunista, o tema do aborto e o tema religioso, lamentavelmente as duas campanhas tiveram, sobretudo agora no segundo turno, que ser desviadas para essas questões, que são bastante pontuais. Não são questões que dizem respeito ao projeto Brasil de futuro. Ou, em outras palavras: mais do que se posicionar agora na questão do aborto é se posicionar em relação às políticas sociais que evitam a morte de milhões de crianças. Nenhuma mulher, nenhuma, mesmo aquela que aprova a total liberalização do direito ao aborto, é feliz por fazer um aborto.

Agora o que uma parcela conservadora da Igreja se esquece é que políticas sociais evitam milhões de abortos. Porque as mulheres, quando fazem, é por insegurança, frente a um futuro incerto, de miséria, de seus filhos. Esses 7,5 anos do governo Lula certamente permitiram que milhares de mulheres que teriam pensado em aborto assumissem a gravidez. Tiveram seus filhos porque se sentem amparadas por uma certa distribuição de renda que efetivamente ocorreu no governo Lula, tirando milhões de pessoas da miséria.


Por que aborto, crença e religião entraram tão fortemente na pauta da campanha?

Porque eles lidam com o emocional do brasileiro. Como o latino-americano em geral, a primeira visão de mundo que o brasileiro tem é de conotação religiosa. Sempre digo que, na América Latina, a porta da razão é o coração, e a chave do coração é a religião. A religião tem um peso muito grande na concepção de mundo, de vida, de pessoa, que a população elabora.

Mas não foi a população que levou esse tema [à campanha], foram alguns oportunistas que, desesperados e querendo desvirtuar a campanha eleitoral, introduziram esses temas como se eles fossem fundamentais.

O próprio aborto é decorrência, na maior parte, das próprias condições sociais de uma parcela considerável da população.

Quem são esses oportunistas?

Primeiro os três bispos que assinaram aquela nota contra a Dilma, diga-se de passagem à revelia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Realmente eles se puseram no palanque, sinalizando diretamente uma candidata com acusações que considero infundadas, injustificadas e falsas.

A Dilma, que já defendeu a descriminalização do aborto, recuou em relação ao tema.

Respeito a posição dela. Agora eu, pessoalmente, como frade, como religioso, como católico, sou a favor da descriminalização em determinados casos. Pode colocar aí com todas as letras. Porque conheço experiências em outros países, como a França, em que a descriminalização evitou milhões de abortos. Mulheres foram convencidas a ter o filho dentro de gravidez indesejada. Então todas as estatísticas comprovam que a descriminalização favorece mais a vida do que a criminalização. É importante que se diga isso, na minha boca. Na Itália, que é o país do Vaticano, predominantemente católico, foi aprovada a descriminalização.

O sr. acha que o recuo da Dilma é preço eleitoral a pagar?

Respeito a posição dos candidatos, tanto da Dilma quanto do Serra, sobre essas questões. Não vou me arvorar em juiz de ninguém. Como disse, acho que esse é um tema secundário no processo eleitoral e no projeto Brasil.

Pelo que se supõe, já que não há muita clareza nos candidatos, nem Dilma nem Serra são favoráveis ao aborto em si, mas ambos parecem abertos a discutir sua descriminalização. Por que é tão difícil para ambos debater esse tema com clareza e honestidade?

Porque é um tema que os surpreende. Não é um tema fundamental numa campanha presidencial. É um vírus oportunista, numa campanha em que você tem que discutir a infraestrutura do país, os programas sociais, a questão energética, a preservação ambiental. Entendo que eles se sintam constrangidos a ter que se calar diante dos temas importantes para a nação brasileira e entrar num viés que infelizmente está plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso.

Como o sr. vê a participação direta de bispos, padres e pastores na campanha, pregando contra ou a favor de um ou outro candidato?

Eu defendo o direito de que qualquer cidadão brasileiro, seja bispo, seja até o papa, tenha a sua posição e a manifeste. O que considero um abuso é, em nome de uma instituição como a Igreja, como a CNBB, alguém se posicionar tentando direcionar o eleitorado. Eu, por exemplo, posso, como Frei Betto, manifestar a minha preferência eleitoral. Mas não posso, como a Ordem Dominicana a qual eu pertenço, dizer uma palavra sobre isso. Considero um abuso.

E a participação de uma diocese da CNBB na produção de panfletos recomendando fieis a não votarem na Dilma?

É uma posição ultramontana, abusiva, de tentar controlar a consciência dos fieis através de mentiras, de ilações injustificadas.

O sr. acredita, como aponta o PT, que o PSDB está por trás da produção dos panfletos?

Não, não posso me posicionar. Só me posiciono naquilo em que tenho provas e evidências. Prefiro não falar sobre isso.


Quais as diferenças de tratamento do tema aborto nas diferentes religiões?

Ih, meu caro, isso é muito complexo. Agora, na rua... Eu estou na rua, indo para a PUC [para ato de apoio a Dilma, na última terça à noite]. Para entrar nesse detalhe... Eu escrevi um artigo até para a Folha, anos atrás, sobre a questão do aborto. É muito delicado analisar as diferenças. Há nuances. Mesmo dentro da Igreja Católica há diferentes posições sobre quando é que o feto realmente se transforma num ser vivo. Não é uma questão fechada na Igreja. Ainda não há, nem do ponto de vista do papa, uma questão dizendo: o feto é um ser vivo a partir de tal data. É uma questão em discussão, teologicamente inclusive. São Tomás de Aquino dizia que 40 dias depois de engravidar. Isso aí depende muito, é uma questão em aberto.

Em artigo recente na Folha, o sr. disse que conhecia Dilma e que ela é "pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica". O que diria sobre a formação e a religiosidade de Serra?

Eu sou amigo do Serra, de muitos anos, desde a época do movimento estudantil. Nunca soube das suas opções religiosas. Da Dilma sim, porque fui vizinho dela na infância [em Belo Horizonte], estivemos juntos no mesmo cárcere aqui em São Paulo, onde ela participou de celebrações, e também no governo. Não posso de maneira alguma me posicionar em relação ao Serra. Respeito a religiosidade dele.

Se você me perguntasse antes da campanha sobre a posição religiosa do Serra, eu diria: não sei. Mas considero uma pessoa muito sensata, que respeita crenças religiosas, a tolerância religiosa, a liberdade religiosa. Nesse ponto os dois candidatos coincidem.

O que achou do material de campanha de Serra que destaca a frase "Jesus é a verdade e a vida" junto a uma foto do candidato?

Não cheguei a ver e duvido que seja material de campanha dele. Como bom mineiro, fico com pé atrás. Será que é material de campanha, será que é apócrifo?... Agora mesmo estão distribuindo na internet um texto, que me enviou hoje o senador [Eduardo] Suplicy, [intitulado] "13 razões para não votar em Dilma", com a logomarca da Folha, de um artigo que eu teria publicado na Folha, assinado por mim. Não dá para dizer que [o santinho] é da campanha dele.

Mas tem foto dele, o número dele [tem inclusive o CNPJ da coligação]...

Bem, espero que a campanha, o comitê dele desminta isso e, se não desmentir, quem cala, consente.

No mesmo artigo o sr. diz que torturadores praticavam "ateísmo militante". O sr. não respeita quem não crê em Deus?

Meu caro, eu tenho inúmeros amigos ateus. Nenhum deles tirou do contexto essa frase. Com essa pergunta você me permite aclarar uma coisa muito importante: que a pessoa professe ateísmo, tem todo o meu apoio, é um direito dentro de um mundo secularizado, de plena liberdade religiosa.

Agora, a minha concepção de Deus é que Deus se manifesta no ser humano. Então toda vez que alguém viola o ser humano, violenta, oprime, está realizando o ateísmo militante. Ateus que reivindicam o fim dos crucifixos em lugares públicos, o nome de Deus na Constituição - isso não é ateísmo militante, isso é laicismo, que eu apoio. O ateísmo militante para mim é profanar o templo vivo de Deus, que é o ser humano.

Tiraram do contexto, não entenderam...

É que houve queixas de ateus em relação àquele trecho do seu artigo, tido como discriminatório...

Podem ter se sentido ofendidos por não terem percebido isso. Para mim o ateísmo militante é você negar Deus lá onde, na concepção cristã, ele se manifesta, que é no ser humano. Você professar o ateísmo é um direito que eu defendo ardorosamente. Agora, você não pode é chutar a santa, como fez aquele pastor na Record. Ou seja, eu posso ser ateu, como eu sou cristão, mas eu não digo que a fé do muçulmano é um embuste ou que a fé do espírita é uma fantasia. Isso é um desrespeito.

O sr. relatou no artigo que encontrou Dilma no presídio Tiradentes [em São Paulo] e que lá fizeram orações. Como foram esses encontros?

Ela estava presa na ala feminina, eu na ala masculina e, como religioso, eu tinha direito de, aos domingos, passar para a ala feminina para fazer celebrações. E ela participava. O diretor do presídio autorizava isso.

O sr. já comparou o Bolsa Família a uma "esmola permanente"...

[interrompendo] Não, eu não usei essa expressão. Eu sempre falei que o Bolsa Família é um programa assistencialista e o Fome Zero era um programa emancipatório. Nunca chamei de esmola não. Se saiu isso aí, puseram na minha boca.

Deixa eu buscar aqui o contexto exato...

Quero ver o contexto. Dito assim como você falou agora eu não falei isso não.

Vou achar aqui o texto, espera aí.

Bem, mas não importa o que eu disse. Eu te digo agora o seguinte: o Bolsa Família é um programa compensatório e o Fome Zero era um programa emancipatório.

Você falou o seguinte [numa entrevista à Folha em 2007]: "Até hoje o Bolsa Família não tem porta de saída. O governo inteiro sabe qual é, mas não tem coragem: é a reforma agrária, a única maneira de 11 milhões de famílias passarem a produzir a própria renda e ficarem independentes, emancipadas do poder público. Você não pode fazer política social para manter as pessoas sob uma esmola permanente. Nem por isso considero o Bolsa Família negativo, devo dizer isso. O problema é que não pode se perenizar".

Ótimo que você pegou o texto, muito bem, é isso mesmo. Veja bem, não vamos tirar de contexto não.

O que o sr. pensa do Bolsa Família hoje?

Isso que eu te falei: é um programa compensatório. Eu gostaria que voltasse o Fome Zero, que tem um caráter emancipatório, tinha porta de saída para as famílias. E o Bolsa Família, embora seja positivo, até hoje não encontrou a porta de saída, o que eu lamento.

O sr. continua a ser um defensor inconteste do regime cubano? Ainda é amigo de Fidel?

Não, veja bem. A sua afirmação... Não põe na minha boca o que você acabou de falar. Eu sou solidário à Revolução Cubana. Eu faço um trabalho em Cuba há muitos anos, de reaproximação da Igreja e do Estado. Estou muito agradecido a Deus e feliz por poder ajudar esse processo, que resultou recentemente na liberação de vários presos políticos.

O sr. participou diretamente desse processo, dessa última libertação?

Indiretamente sim. Mas não é ainda o momento de eu entrar em detalhes.

O sr. acha que essa tendência de abertura do regime é inexorável?

Sim, claro, tem que haver mudanças. Cuba está preocupada em se adaptar. Mas nada disso indica a volta ao capitalismo.

Sobre o desrespeito aos direitos humanos em Cuba, ainda há presos políticos...

Meu caro, ninguém desrespeita mais os direitos humanos no mundo do que os Estados Unidos. E fala-se pouco, lamentavelmente. Basta ver o que os Estados Unidos fazem em Guantánamo.

Cuba ocupa o 51º no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que é insuspeito. O Brasil, o 75º.