terça-feira, 31 de agosto de 2010

MÍDIA - O "poste Dilma" e o jornalismo de pegadinhas.

Blog de Luis Nassif


As perguntas dos apresentadores do Jornal da Globo mostram duas coisas: o único universo de temas que lhes interessa é o virtual, esse mundo à parte criado pela velha mídia ao longo dos últimos anos. Nenhuma pergunta temática, nenhuma discussão sobre propostas de governo, nenhum questionamento à política econômica.

Apenas a peça de teatro que criaram para as eleições e que está sendo desmontada pesquisa após pesquisa.

1. A mudança física de Dilma, seguindo o script de mostrar uma candidata de duas caras.

2. A insistência em tentar colocar José Dirceu no debate.

3. A insistência em falar no fatiamento do governo pelos aliados.

4. Quebra de sigilo dos tucanos.

5. Caso dos presos de Cuba.

6. Narcoguerrilha e Farcs.

Nenhuma pergunta programática, nada que pudesse mostrar a visão ou falta de visão de futuro de Dilma, nenhum questionamento sobre as vulnerabilidades da economia, sobre o novo desenho do governo - social-democrata mas preso ao mercadismo do BC -, sobre as novas formas de governar, com participação popular.

Só a realidade virtual criada pela Globo.

Embarcaram em duas fantasias:

1. Achar que esse mundo virtual criado pela mídia (e que está sendo demolido, dia a dia, pelas pesquisas de opinião e pela exposição pública de Dilma) tivesse o mínimo de eficácia.

2. Acreditar na versão-poste, de que a Ministra mais forte do governo mais popular da história pudesse ser um "poste" que se enredaria com esse nível primário de perguntas. Conseguiram fortalecer mais ainda, junto à sua opinião pública, a percepção de que "o poste" é bastante articulado.

Surpreende, porque Waack é dos mais preparados jornalistas de televisão. Se descesse do pedestal para discutir conceitos com a candidata, poderia ter proporcionado aos seus telespectadores um dos momentos altos do jornalismo nessa campanha.

Venderam a idéia de que, quando exposta à luz, a candidata desmancharia. Ledo engano: exposto à luz do contraditório, quem desmanchou foi esse mundo virtual. A entrevista de ontem mostrou que a auto-suficiência no jornalismo, a arrogância, o tom de verdade absoluta imprimido a qualquer factóide, não resiste a 20 minutos de entrevista quando se dá a palavra à parte atingida.

Do G1

Dilma Rousseff é entrevistada pelo Jornal da Globo

Candidata do PT é a primeira de série com presidenciáveis.
José Serra será ouvido na edição de terça (31); Marina Silva, na de quarta.

Do G1, em São Paulo

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A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, foi entrevistada na edição desta segunda-feira (30) do Jornal da Globo pelos apresentadores William Waack e Christiane Pelajo. O candidato José Serra (PSDB) será o entrevistado da edição de terça (31) e a candidata Marina Silva (PV) estará na de quarta (1º). A ordem das entrevistas foi definida em sorteio. A entrevista tem duração de 20 minutos e foi dividida em dois blocos. Veja abaixo a íntegra de cada bloco, em vídeo, e leia a transcrição das perguntas e respostas:

William Waack: Boa noite. Bem-vinda ao Jornal da Globo. Candidata, o seu tempo começa a contar a partir de agora. Eu vou formular a primeira pergunta. A senhora passou - até talvez por não ter disputado nenhuma eleição até agora - por uma grande transformação física. Cabelo, roupa, o jeito de falar... Foi difícil?

Dilma Rousseff: Boa noite, William. Boa noite, Christiane. É, eu acho que esse é um processo diferente de ser ministra-chefe da Casa Civil. É, eu sempre digo que, como ministra-chefe da Casa Civil, a gente trabalha muito e tem muito pouco tempo pra você se relacionar com a população porque é um trabalho de bastidor, de construir, de estruturar um governo, de levar ele à frente. Então há uma exigência muito grande. Quando eu passei a ser candidata, eu acho que - vou te falar assim com sinceridade -, acho que é melhor, mais fácil porque implica em você ter contato com as pessoas, conseguir conversar com elas, fazer propostas. E é importante também você cuidar da forma como você aparece em público. Porque você vai, na verdade, aparecer pros 190 milhões de brasileiros, de uma forma ou de outra, ou através da TV aberta ou através do rádio, também, que você vai conversar. E, principalmente, eu acho que no contato pessoal. As pessoas gostam que a gente se cuide pra se aparecer pra elas. Então eu acho que isso foi bom pra mim. E eu acho que é bom também pras pessoas que me assistem, me veem.

Christiane Pelajo: Candidata, a gente tem visto muitos petistas envolvidos em escândalos na campanha da senhora. José Dirceu, por exemplo. Qual é o papel que ele terá num possível governo da senhora?

Dilma Rousseff: Olha, sabe, Christiane, eu não tenho discutido o futuro governo. Por uma questão, eu acho, que de respeito à população. Pra você começar a discutir um governo, eu teria de estar eleita. Eu acho que a questão que se coloca quando você está em campanha eleitoral é respeitar uma das questões mais importantes na democracia que é o voto do povo dia 3 de outubro. Se eu colocar a carroça na frente dos bois, em vez de eu discutir os programas do governo, em vez de eu dizer o que eu quero pras pessoas me escolherem como presidenta do Brasil, eu vou ficar discutindo uma coisa que não aconteceu? Por que, cá entre nós, pesquisa não ganha eleição...

Christiane Pelajo: Mas a senhora...

Dilma Rousseff: O que ganha eleição é voto na urna...

Christiane Pelajo: Mas a senhora...

Dilma Rousseff: Dia 3 de outubro.

Christiane Pelajo: Mas a senhora não vê problemas em trazer de volta à política uma pessoa que teve direitos políticos cassados?

Dilma Rousseff: Eu vou te insistir com isso. Eu não vou discutir nem o Zé Dirceu, não vou discutir quem quer que seja. Outro dia colocaram que o Henrique Meirelles, outro dia colocaram que era o Guido Mantega, outro dia colocaram que era o Palocci. Eu, em princípio, não discuto nenhum nome pro meu governo...

William Waack: A senhora vai deixar...

Dilma Rousseff: É uma questão assim de princípio. Por quê? Porque eu tenho sido acusada também de estar querendo ganhar a eleição antes da hora e que eu quero sentar na cadeira antes. Eu queria dizer, gente, que quem sentou na cadeira antes foi o ex-presidente da República e que... acho, inclusive, por dois motivos eu não sento em cadeira antes. Primeiro porque eu respeito o voto popular. E em segundo lugar porque eu acho que dá azar sentar na cadeira e ficou visível que deu azar.

William Waack: Essa é uma dose de superstição. Uma novidade.

Dilma Rousseff: Como todo brasileiro e brasileira deste país.

William Waack: Agora, a senhora se recusar a discutir cargos e distribuição de cargos, a senhora vai deixar um monte de gente decepcionada. Seus aliados estão discutindo abertamente quem vai ficar com o quê. Não seria a hora de a senhora participar?

Dilma Rousseff: Sabe, é comigo que sou, se eleita, a parte interessada ninguém fez isso até hoje. Todo mundo respeitou o fato de que em processo eleitoral a gente tem de levar em conta o interesse da população no fato de que ela tem de esclarecer. Segundo, tem de respeitar o dia do voto. É que nem futebol: todo mundo pode ficar fazendo prognóstico, mas, se um jogador de futebol sair dizendo que ele vai ganhar de 2 a 0, de 1 a 0, sem ter a bola na rede, é uma baita pretensão. Eu considero que seria pretensão da minha parte discutir qualquer consequência do processo eleitoral de 3 de outubro sem estar o último voto na urna às cinco horas da tarde.

William Waack: Já que a senhora usou o futebol, todo mundo escala o time antes do jogo.

Dilma Rousseff: É. Todo mundo escala o time antes do jogo, mas aí é futebol e eu tô fazendo eleição.

Christiane Pelajo: Candidata, a Receita Federal negou intenção política na quebra de sigilo no vazamento de dados de tucanos na semana passada. Integrantes do seu partido já foram envolvidos em montagem de dossiês contra opositores. Como é que a senhora pode dar garantias pra gente, pra população que isso não vá acontecer num eventual governo da senhora?

Dilma Rousseff: Olha, eu tenho muito tempo de vida pública, Christiane. E jamais compactuei com nenhuma união mal feita. Tenho insistido que a acusação da oposição a mim e à minha campanha é absolutamente sem fundamento. Inclusive, entrei com seis medidas jurídicas contra o candidato, meu opositor - não eu, mas o meu partido -, e também pedi providências à Política.. é, à Polícia Federal pra investigar esse fato. Eu considero que é absolutamente injustificável que uma pessoa acuse outra sem apresentar provas. Nós temos pedido sistematicamente que apresente provas. Aliás, se essa situação for colocada dessa forma, eu queria dizer uma coisa: o partido do candidato meu adversário tem uma trajetória de vazamentos e grampos absolutamente expressiva. Por exemplo, vazamento das dívidas dos deputados federais com o Banco do Brasil nas vésperas da votação da emenda da reeleição. Os grampos que existiram no BNDES e também os grampos feitos juntos ao próprio gabinete, o secretário da Presidência da República. Eu jamais usei esses episódios pra tornar o meu adversário suspeito de qualquer coisa porque eu não acho correto. Agora, eu também não concordo e que sem provas me acusem ou acusem a minha campanha. Eu tenho uma trajetória política. Na minha trajetória política, eu tive sempre absoluta respeito pela legalidade e pelo uso do dinheiro público. Então não vejo nenhuma justificativa para as acusações a não ser interesse eleitoral.

William Waack: Candidata, a senhora tem uma longa história política. A senhora foi torturada durante a ditadura militar. Como é que a senhora se sentiu quando ouviu o presidente Lula comparar presos de consciência em Cuba a bandidos em São Paulo?

Dilma Rousseff: Olha, William, eu acho que a trajetória política e de vida do presidente Lula não pode permitir que a gente acredite que o presidente Lula foi uma pessoa que não lutou a vida inteira pelos direitos humanos. Eu, da minha parte, tenho consciência disso e tenho presenciado isso. Acho de forma, muito discreta inclusive, o Brasil é responsável pela soltura dos presos políticos. Eu não digo que ele é responsável, que seria também muita pretensão minha, mas eu acredito que o presidente Lula, o Itamaraty e todas as tratativas feitas de forma discreta - como deve ser feito, até porque, se você não fizer de forma discreta, você não consegue muitas vezes o seu objetivo - responsável pela soltura dos presos políticos em Cuba. Agora, eu da minha parte, tenho uma convicção, William. Sabe qual é? A minha vida pessoal, ela teve um momento muito duro. Eu vivi a minha juventude durante a ditadura e lutei contra ela do primeiro ao último dia. Tenho absoluta solidariedade com presos políticos. Sou contra crimes de opinião, crimes políticos ou crimes por pensar, por querer ou por opor e vou defender isso a minha vida inteira.

William Waack: Ou seja, a senhora jamais faria essa comparação?

Dilma Rousseff: Não, eu não acho correto transformar o presidente e falar que o presidente tomou uma atitude errada nesse episódio. O presidente, eu vou repetir, foi responsável, um dos, pelas tratativas de soltura dos presos políticos cubanos.

Christiane Pelajo: Candidata, é notório que as Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, estão relacionadas ao tráfico de drogas e também ao crime organizado aqui no Brasil. Por que a senhora hesita em chamar as Farc de narcoguerrilha?

Dilma Rousseff: Eu jamais hesitei em chamar, falar que as Farc tem relações com o tráfico. É público e notório.

Christiane Pelajo: Então a senhora está declarando aqui que as Farc são uma narcoguerrilha?

Dilma Rousseff: Não estou declarando, não. O governo do presidente Lula acha as Farc ligadas ao crime, ao crime organizado e ao crime do tráfico de drogas. Nunca escondemos esse fato. Aliás essa história das nossas relações com as Farc foi muito bem respondida pelo próprio presidente, ex-ministro da Defesa da Colômbia, que disse o seguinte: em várias oportunidades, ele, ministro da Defesa, que combateu inequivocamente as Farc na Colômbia, conversou com elas, teve diálogo, porque tem momentos que sem ele ter o diálogo ele não consegue acabar e negociar a paz. Então, no Brasil, a gente tem de perder essa - eu acho assim - essa visão um tanto quanto conspiradora que muitas vezes se coloca. Se não se conversar, você não consegue inclusive a paz. E eu acho que ele foi muito feliz na resposta que ele deu pra uma revista nesse domingo - né?, foi domingo que saiu - em que ele diz: eu e outros políticos colombianos conversamos também.

2º bloco

William Waack: Estamos de volta para a segunda parte da entrevista com a candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff. Candidata, o seu tempo volta a contar a partir de agora, mais dez minutos. A senhora fez parte de um governo que tem sido criticado frequentemente por ter colocado na máquina administrativa muitos militantes do seu partido. Essa política prossegue?

Dilma Rousseff: Olha, eu sempre digo uma coisa, viu, William. Eu acho que um governo é composto de políticos que tenham competência técnica. Vai prosseguir sempre... eu vou prosseguir nesse critério. Vou escolher políticos com competência técnica. Aliás, eu sempre conto uma história: acho que os técnicos são muito importantes, mas técnicos que não têm compromisso com o desenvolvimento do seu país, que não têm compromisso com a distribuição de renda do seu país, que não têm compromisso com a inclusão social do seu país, levam o país a situações muito precárias. Eu, por ato do ofício meu como ministra de Minas e Energia, me relacionei com vários ministros da América Latina. E, uma vez, estava em uma reunião, era véspera de Natal, e começou aquela conversa meio social, meio de final de reunião. "Onde você vai passar as férias?". Nós todos... Eu disse: "Na minha casa". Onde você mora? "Em Porto Alegre". Cada um, eram vários ministros. Um deles, que importa, disse: "Ah, eu vou também passar em casa". E aí eu estava em dúvida se ele morava numa de duas cidades daquele país e disse uma delas. Ele falou: "Não". Eu disse a outra, ele falou: "Não". Então onde é? Ele disse para mim: "Eu moro em Miami". A família dele morava em Miami, os filhos dele moravam em Miami, os netos dele moravam em Miami. Eu não acredito que alguém que não crie a sua família no Brasil, que não tenha interesse na educação dos seus filhos de qualidade no Brasil, que não sinta no coração amor pelo seu país a ponto de morar nele, de aguentar as consequências, todas as consequências da vida que você, que um governo vai produzir lá, seja uma pessoa confiável. Então eu sempre vou escolher políticos com competência técnica. E aí todos os do meu partido que foram políticos com competência técnica para cargos específicos ocuparão esses cargos. E isso não vale só para o PT, isso vale para todos que ocuparem cargos no meu governo.

William Waack: Qualquer o partido?

Dilma Rousseff: Qualquer partido.

Christiane Pelajo: Candidata, o Brasil...

Dilma Rousseff: Aliás, sempre disseram que eu era um pouco exigente, não sei se você lembra. Sempre disseram: "Olha, ela é um pouco exigente no que se refere à qualificação para cargos".

William Waack: Ou quis dizer: "Não importa a carteirinha?"

Dilma Rousseff: Olha, eu acho que a carteirinha, já expliquei, importa sim, se a carteirinha for isso que eu disse: o compromisso com o seu país. Política não é sempre uma coisa ruim. Política não é sempre uma coisa suja. A política pode ser responsável por transformar, como o presidente Lula fez nesses últimos oito anos, um país que vivia na desigualdade, na estagnação e vivia também no desemprego, num país que está crescendo, que emprega 14 milhões quando o mundo está desempregando 30 milhões e em um país...

Christiane Pelajo: Candidata....

Dilma Rousseff: Que tem uma, de fato hoje, um resultado social muito impressionante.

Christiane Pelajo: Candidata, vamos mudar um pouco de assunto. O Brasil investe muito pouco em relação ao PIB e os investimentos dependem basicamente de Petrobrás e setor privado. Por que o governo Lula não conseguiu investir?

Dilma Rousseff: Eu não concordo com a afirmação. Acho que houve um esforço extraordinário do governo Lula para investimento. E isso ficou, isso é visível hoje nos números. Nós aumentamos bastante o investimento público - óbvio que a Petrobrás aumentou o seu investimento, que a Eletrobrás aumentou investimento. Agora, os investimentos privados, por exemplo, na área de infraestrutura foram demandados por leilões do governo...

Christiane Pelajo: Já que a senhora está falando de números, eu gostaria de dar alguns números aqui. Quarenta por cento da riqueza nacional do país vão para o governo e o governo só é responsável por dois por cento dos investimentos do país.

Dilma Rousseff: Veja bem. É o tipo do dado que ele não tem precisão econômica, ele não tem precisão orçamentária. Porque é o seguinte: o governo, ele, infraestrutura, nós passamos mais de 25 anos sem investir. Hoje nós estamos fazendo as seguintes obras: interligação da bacia do São Francisco, seis bilhões de reais. Para levar o quê? Para levar água para 12 milhões de pessoas no semi-árido nordestino. Acabamos com a história do racionamento de oito meses que aconteceu no Brasil. Hoje, vocês não veem mais alguém dizendo que o Brasil corre risco de racionamento, porque não tem risco de racionamento. Você vê Jirau e Santo Antônio. Vou te dar outro exemplo....

Christiane Pelajo: A senhora está satisfeita então com os investimentos no Brasil.

Dilma Rousseff: Não. Eu não. Eu sou uma pessoa que jamais vou ficar satisfeita. Quando eu falo que o Brasil voltou a investir, eu tô dizendo o seguinte: nós estamos em uma longa trajetória. Vamos precisar investir muito mais. Por exemplo, em casa própria para as pessoas, voltamos a investir, saneamento. Saneamento, hoje, eu estava dando um exemplo aqui em São Paulo, que nós botamos em saneamento aqui em São Paulo 8,6 bilhões.

William Waack: Candidata, parece haver um consenso, a senhora é economista, e parece haver um consenso entre os economistas. Primeiro: porque a nossa taxa de investimento é muito baixa em relação ao PIB....

Dilma Rousseff: Eu concordo...

William Waack: A senhora faz parte desse consenso.

Dilma Rousseff: Concordo...

William Waack: Há um outro consenso ainda....

Dilma Rousseff: Chegamos a 19, né, William...

William Waack: É, onde estamos mais ou menos....

Dilma Rousseff: Não, nós queríamos ter chegado a 21...

William Waack: A 24, 25...

Dilma Rousseff: Não, a 21. Nós íamos chegar a 21, em 2009... houve a crise e nós caímos outra vez.

William Waack: Eu quero chamar a atenção da senhora para outro consenso...

Dilma Rousseff: Nós vamos retomar este ano.

William Waack: Eu quero saber se a senhora faz parte desse consenso também, já que o primeiro a senhora admite que os investimento são mais baixos do que poderiam ser. Como é que o Brasil vai continuar crescendo, e não vamos crescer a mesma coisa que crescemos no primeiro semestre, o Ministro da Fazenda estava comentando isso agora, um pouco antes, à noite. Como é que nós vamos conseguir manter o mesmo ritmo sem fazer um severo ajuste fiscal. A senhora já está pensando nisso?

Dilma Rousseff: Eu acho, eu sou, hoje, contra que se faça ajuste fiscal agora no Brasil.

William Waack: Por causa de eleição? Ou porque a senhora não quer dizer ainda agora?

Dilma Rousseff: Não, não, não, não. O Brasil teve de fazer ajuste fiscal porque precisou fazer. O que é ajuste fiscal? Ajuste fiscal é regime de caixa. Caracteriza-se pelo fato que na despesa você sai cortando: aumento de salário mínimo, aumento de salário. Você sai cortando qualquer despesa passível de corte. Ou seja, aquelas que não estão vinculadas. Investimento, saneamento, nem pensar. Ela caracteriza primeiro por isso. Como é regime de caixa, tem um lado da receita que todo mundo esquece. Sabe o que você faz? Você aumenta imposto.

William Waack: Não tem jeito.

Dilma Rousseff: Aumenta o imposto. Além de aumentar imposto, sentam no caixa. Então vamos supor que você seja um empresário. E aí você tem um crédito tributário, um crédito devido a você. O Fisco te deve e vai ter de pagar. Sabe o que é o regime de caixa? Te devolvem em 48 meses. Em vez de devolver automaticamente te devolvem em 48 meses. O Brasil não precisa passar por isso mais. Sabe por quê? Primeiro: a inflação está sob controle visivelmente. Nós estamos com US$ 260 bilhões de reserva. E a relação dívida líquida sobre PIB está caindo inquestionavelmente, está em 41 por cento. Nós inclusive tivemos que ter um aumentozinho em 2009, mas foi a única vez. Fizemos superávit todos os anos. Então, o pessoal que está defendendo ajuste fiscal está errado. O que nós temos de defender é outra coisa. O Brasil tem de crescer e tem de controlar os seus gastos, não pode sair crescendo e gastando dinheiro a roldão. Um governo que não controle direito os seus gastos, que não pegue o seu dinheiro e olhe se ele está devidamente aplicado não é o governo que eu defendo. Agora, defender ajuste fiscal como foi praticado no Brasil é um crime hoje.

Christiane Pelajo: Candidata...

Dilma Rousseff: Hoje nós estamos na fase do investimento, do planejamento, do controle e da fiscalização do gasto público, mas não estamos na fase do ajuste fiscal.

William Waack: Contas externas... elas estão piorando. Como é que a senhora pretende inverter esse quadro?

Dilma Rousseff: Olha, nós estávamos falando há pouco na taxa de investimento. Eu sou a favor da taxa de investimento ser cada vez maior. Como o Brasil começou um processo de investimento virtuoso, nós estamos tendo um desequilíbrio devido a uma discrepância entre nós e o resto do mundo. Enquanto as exportações nossas não têm mercado porque os Estados Unidos e a União Europeia, a OCDE toda está com um problema sério de crise ainda...

William Waack: Nós temos mais 15 segundos, candidata.

Dilma Rousseff: Tá. Nós hoje somos mais importadores de bens de capital e bens intermediários que elevam a taxa de investimento. Eu acredito que o Brasil está convergindo para taxas de juros internacionais, porque eu acredito....

Christiane Pelajo: Candidata, o nosso tempo encerrou...

Dilma Rousseff: Que nós vamos reduzir a dívida. E aí o Brasil cresce.

Christiane Pelajo: Candidata, muito obrigada pela presença da senhora aqui com a gente no Jornal da Globo.

William Waack: Obrigado.

Christiane Pelajo: Amanhã a gente volta com mais um candidato à Presidência da República, José Serra, do PSDB

Fonte: Luis Nassif

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