quinta-feira, 29 de abril de 2010

MÍDIA - Até bonequinho está atucanado.

Em O Globo, até o bonequinho está atucanado

Já de madrugada, depois do dia pesado de ontem, tentei dar uma relaxada lendo o Segundo Caderno de O Globo. Para quem não é do Rio, explico que é aquela parte do jornal que trata de cultura, arte e que traz as programações de teatro, de cinema, etc…

Pois não é que até lá o maldito espírito fascistóide que a mídia atucanada tenta impor ao país veio me assombrar?

A história é a seguinte: um crítico de cinema do jornal, ao avaliar o filme “Utopia e Barbárie”, do cienasta Sílvio Tendler, um dos maiores documentaristas brasileiros, assume o papel de censor. Assumindo a ideologia do jornal dos Marinho, o crítico Érico Reis diz que “um depoente” comprometia a obra por se tratar de ano eleitoral. Mesmo sem citar o nome, fica claro que se referia a Dilma Rousseff.

O cineasta Silvio Tendler escreveu uma carta para O Globo (que reproduzo aí ao lado) recusando a mutilação de sua obra.

Li-a com o orgulho de saber que existem espíritos eretos neste país, que não tremem, gaguejam e se explicam diante do autoritarismo da mídia. Um deles só vale por cem bobalhões destes que se arrogam o direito de donos da verdade e que, em nome de um “politicamente correto”, praticam a apologia do silêncio, da hipocrisia e do “patrulhismo” .

Tendler, em sua carta, ainda se deu ao trabalho de explicar que a entrevista com Dilma foi feita antes de ela ser candidata à presidência e que ela - uma personagem que participou ativamente da resistência à ditadura militar, foi presa e torturada – portanto, se enquadrava perfeitamente no contexto dos depoentes.

Não precisava. Documentário é um registro histórico que vai além de eleições momentâneas. Um sujeito que se pretende crítico de cinema e não compreende isso e, sobretudo, qiue prega a mutilação de uma obra artística, não merece tanta atenção de um cineasta que tem a trajetória de Tendler.

Que as empresas Globo gostem de mutilar a verdade e a história, não é novidade . Mais grave, porém, ainda é um jornalista que se propõe a crítico de cinema pretender que um diretor aja como aqueles propagandistas do stalinismo, que convocavam retocadores de fotografias para apagar das fotografias os personagens que não estavam nas boas graças do regime.

O bonequinho, aquele ícone genial criado há mais de 70 anos pelo chargista Luis Sá e que virou um símbolo da opinião dos críticos sobre os filmes, não merece entrar numa campanha eleitoral, que parece estar saindo da sessão política e invadindo até páginas aparentemente inocentes, como a de um caderno de cultura e de serviços.

É, porém, uma advertência sobre o obscurantismo da direita. Ela precisa de uma história “neutra”, desconectada do presente, para que não seja, esta história, a porta do futuro. Nem que para isso se tenha que mutilá-la. Quando algo lhe é inconveniente, ela diz, impiedosa: corta! E serra dali um pedaço do que vivemos, para que o fio da história se interrompa.

Leia a carta de Tendler. Comece o dia com a alma de pé.

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