segunda-feira, 29 de março de 2010

POLÍTICA - A impressão é a de que a sucessão acabou.

Pedro do Coutto

Lendo-se com atenção a reportagem de Bernardo Melo Franco, Folha de S. Paulo de 26 de março, tem-se a impressão de que a disputa pela presidência da República em 2010 acabou antes de a campanha ter sequer começado. Ilustrando a matéria uma bela foto a cores reunindo no primeiro plano ao mesmo tempo o presidente Lula, o governador José Serra e a ministra Dilma Roussef. Todos sorridentes e satisfeitos com o encontro ocasional em torno da entrega a camadas pobres da população paulista de casas inacabadas, as quais no estilo brasileiro não se sabe se vão terminar de ser construídas até outubro. Muito pouco provável. Mas fica a promessa e a esperança. Algo semelhante aos royalties do petróleo, cuja distribuição antecipada abre perspectivas, porém não mais poços produtores por isso.

Não faz mal. O eleitorado brasileiro, de tão desencantado, acredita em tudo. Mesmo porque, caso contrário, não acreditaria em nada e com isso perderia a alegria de viver. Mas, no momento, pela cordialidade dos competidores, tem motivo para acreditar em dobro no que lhe é prometido.

Só faltou ao encontro o deputado Ciro Gomes que, nesta altura dos acontecimentos, parece que será apenas candidato a deputado federal por São Paulo. Deixou de interessar ao governo, pela adesão explícita que já formalizou, muito menos, é claro, à oposição. Ciro Gomes passou a ser uma carta fora do baralho e do barulho, uma peça de reposição em utilidade de uso. É possível, entretanto, que seja ministro do governo Dilma. Se o seu próprio comportamento mais uma vez não o atrapalhar.

Inclusive, o ótim0 texto do filho do acadêmico Afonso Arinos Filho pode até ser interpretado como uma perspectiva de Serra vir a ocupar um ministério na continuidade da administração Lula. Pois Lula alcançando 80% de popularidade, é praticamente impossível que não transfira 30% dos votos para a chefe da Casa Civil, o que é mais do que suficiente para lhe assegurar a primeira eleição, talvez no primeiro turno, como costuma sustentar, Elena, minha mulher, e, a partir de agora eu também.

A matéria de Melo Franco dá a entender existir uma convergência de propósitos não uma divergência de candidaturas que vão se enfrentar. Serra poderá até voltar ao ministério da Saúde, onde realizou um bom trabalho no desastroso governo Fernando Henrique.

Mas essas são hipóteses remotas. Até porque Dilma parece não estar conseguindo emplacar Eurenice Guerra como sua substituta, tendo que dividir o posto com Gilberto Carvallho e uma terceira funcionária da confiança do Planalto. Um caso inédito. A Casa Civil ser ocupada por três titulares. Coisas de Lula, coisa do PT, coisas do atual rei dos votos no Brasil. Este cenário pode mudar?

Sim, não há dúvida, desde que o comportamento de Serra seja outro, agressivo e não dócil e doce demais em relação ao presidente da República. Pois se até José Serra estender o tapete vermelho da vitória à candidata do PT, o Partido dos Trabalhadores vai se sentir não no governo, mas o dono do Brasil.

Francamente, a atitude de Serra está me parecendo ridícula. Assim como a do governador Sergio Cabral que, num dia comanda uma passeata pela vitória quanto aos royalties do petróleo, e, no outro baixa a cabeça novamente de tristeza, porque Lula anuncia um segundo corte numa das principais fontes de receita do Rio de Janeiro. Primeiro lágrima, depois samba e agora tristeza. Eu me lembro do grande Vinicius de Moraes: tristeza não tem fim, felicidade sim.

Enfim, a felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de royalties. Brilha tranqüila. Depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor. Amor? Não. Amargor.

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