quinta-feira, 18 de março de 2010

ORIENTE MÉDIO - Obama e o fim da paciência.

Por Mauro Santayana



Temos todas as razões para o pessimismo com relação ao problema da Palestina. Israel, sob o governo radical de Netanyahu, está disposto a afrontar Washington. A desfeita a Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, não foi reparada devidamente pelo governo de Israel. A posição de Israel parece endurecer-se, não obstante as duras admoestações, tanto da parte de Biden como de Hillary Clinton. A paciência de Obama dá sinais de estar chegando ao fim. Mas Israel joga com um fator psicológico bruto, ao insinuar, de forma velada, que o atual presidente dos Estados Unidos é muçulmano e, no fundo, inimigo dos judeus.

O jornalista norte-americano Roger Cohen, ao comentar o conflito entre o governo atual dos Estados Unidos e os radicais de Israel, cita, de início, uma frase atrevida de Netanyahu: “Israel e os Estados Unidos têm interesses mútuos, mas nós agimos de acordo com os interesses vitais do Estado de Israel”. Segundo Cohen, “os Estados Unidos também têm interesses vitais” que incluem a existência dos dois estados, o de Israel e o da Palestina, lado a lado, mas “essa solução é erodida todos os dias, com os repetidos assentamentos judeus no território que deveria pertencer aos palestinos”.

A propósito, Cohen reproduz uma conversa que teve com Ronan Nachman, prefeito de um dos maiores desses assentamentos judaicos, o de Ariel. Nachman lhe disse, com franqueza e determinação, que não haverá nunca um Estado palestino e que o território a ele destinado terá que ser dividido entre Israel e a Jordânia. Uma charge, publicada pelo diário Maaravi, também citada por Cohen, mostra Obama cozinhando Netanyahu em um caldeirão, na típica cena do canibal africano que prepara seu jantar. É muito significativo mostrar um homem negro cozinhando um branco. Pode insinuar muitas coisas.

Não parece que a situação evolua ao ponto de convencer os direitistas de Israel, sobretudo os que controlam as suas Forças Armadas, a mudarem de atitude e aceitarem conversações de paz sinceras com os palestinos. Sua estratégia parece ser a de corroer a disposição de resistência dos palestinos e engambelar a opinião pública mundial, até expulsar aquele povo de seu território histórico.

O presidente Lula foi beneficiado pela escassez de tempo, e deixou de visitar o túmulo de Theodore Herzl, o jornalista judeu-húngaro que, vivendo na Áustria, fundou em 1897 o Movimento Sionista Mundial. De acordo com algumas fontes, Herzl, antes de lutar pela criação de um Estado judaico, foi militante do pangermanismo, a causa da unificação de todos os Estados alemães – o que seria depois uma das mais caras metas de Hitler.

É importante recordar que o movimento sionista, desde o início financiado pelos judeus ricos, se opunha ao esforço de muitas comunidades hebraicas que, escapando da odiosa perseguição que sofriam nos países eslavos, pretendiam somar-se às comunidades nacionais que os acolhiam (sobretudo na América), de maneira a não se diferenciarem da humanidade como um todo, a não ser em seus cultos religiosos. O movimento sionista conteve essa aspiração.

Não temos, no Brasil, problemas com os judeus. Podemos falar de racismo contra os negros, mas é difícil assegurar que haja, a não ser em casos isolados, manifestações de antissemitismo em nosso país, como as há em outros países. Lula pode assim, em nome de nossa autoridade sobre o tema, discutir o problema com as autoridades de Israel, com os palestinos e com os iranianos. Quando ele diz que “não é de briga”, não manifesta apenas o seu sentimento pessoal mas, sim, o sentimento geral do povo brasileiro.
A única possibilidade de paz está dentro da própria população de Israel. No dia em que a maioria dos judeus de Israel e seus apoiadores, no mundo inteiro, descobrirem que a segurança de seu povo depende da segurança dos palestinos, provavelmente haverá paz ali, e distensão em todo o Oriente Médio.

A cada capitulação dos grandes do mundo diante da expansão de Israel, a situação se torna mais difícil, mas há tempo para evitar-se uma tragédia ainda maior, se as pressões externas estimularem o crescimento da oposição interna que, em várias organizações judaicas, trabalham pela paz.

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