quinta-feira, 25 de março de 2010

IRAQUE - Rapina.

Rapina

Filipe Diniz*

A rapina dos povos feita pelo poder imperial dos Estados Unidos da América, a que os epígonos do capitalismo ainda há dois anos apelidavam de «a maior democracia do mundo», é acompanhada da rapina do dinheiro dos impostos do próprio norte-americano em subsídios de milhares de milhão de dólares: ás sacadas, literalmente, ou por transferências bancárias de dinheiros públicos para a conta pessoal dos corruptos que foram apanhados.

O New York Times (13.03.2010) publica um moralizador artigo. O título tende para o eufemismo: «Novos casos de fraude apontam para lapsos nos projetos no Iraque». Trata-se da investigação sobre corrupção em torno a «reconstrução» no Iraque, implicando alguns dos americanos que participam num programa de perto de 150 milhares de milhões de dólares.

Analisando importantes transferências de dinheiro para os EUA – que envolvem bancos, negócios imobiliários, pagamentos de empréstimos, cassinos e «até cirurgias plásticas» - os investigadores terão instaurado mais de 50 processos em 6 meses.

Alguns pormenores são algo primários. Os suspeitos enviaram dinheiro para si próprios («dezenas de milhar de dólares») através de correio eletrônico, transportaram-no em sacos e em malas, compraram carros de luxo e jóias, pagaram dívidas de jogo gigantescas. Outros disfarçaram os ganhos em contas de banco no estrangeiro (Gana, Suíça, Holanda, Grã-Bretanha) ou arrumaram simplesmente o dinheiro em cofres domésticos.

A notícia adianta, com assinalável simplicidade, que estas dezenas de processos e de condenações por corrupção vêm confirmar algo acerca do qual há algum tempo se especulava: que o caos, a débil fiscalização e o amplo recurso a pagamentos em dinheiro permitiram a «muitos americanos que aceitaram subornos ou roubaram safarem-se sem prestar contas».

O principal responsável norte-americano pelo «Gabinete para a Reconstrução do Iraque» ainda é mais angelical: «tenho tido a sensação de que haverá um ambiente de persistente fraude que ainda não fomos capazes de identificar, e o volume de casos recentes indica que essa sensação deve ter um razoável fundamento».

Duas coisas há a concluir. Uma, que é certamente positivo este tão bem intencionado esforço norte-americano para investigar casos de corrupção. Outra, que o que estes senhores «especulavam sobre» e «tinham a sensação de» só os pode ter surpreendido a eles.

Todas as guerras imperialistas são guerras de rapina. O dinheiro que estes americanos corruptos fazem voltar aos EUA em malas e sacos não é senão uma insignificante parte do que o imperialismo arrecadou e arrecada sob a forma de petróleo e outros recursos, de tesouros arqueológicos e artísticos, do enorme retrocesso histórico imposto aos povos que humilha e agride, dos lucros de todas as Haliburton para quem a guerra é e continuará a ser o mais rentável dos negócios.


Este texto foi publicado no Avante nº 1.894 de 18 de Março de 2010.

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