sábado, 20 de fevereiro de 2010

CAMPANHA DA FRATERNIDADE.

Jornal gaúcho vê demonização do agronegócio em Campanha da Fraternidade

Iniciativa realizada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) vira alvo por questionar modelo econômico. Criada em 1962, ação quase sempre pauta temas políticos

Jornal gaúcho vê demonização do agronegócio em Campanha da Fraternidade

Cartaz cita trecho do Evangelho para criticar modelo econômico voltado exclusivamente ao lucro (Foto: Reprodução)

O agronegócio e o lucro são demonizados pela Campanha da Fraternidade de 2010, segundo o jornal Zero Hora, de Porto Alegre. O blog RS Urgente, de Marco Aurélio Weisheimer, ironiza a reportagem "Igrejas fazem crítica à economia", que dá voz a uma associação de empresários cristãos que critica a campanha ecumênica lançada nesta quarta-feira (17).

Com o lema "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro", a campanha discute "Economia e vida" e é realizada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Além dos católicos, participam a Igreja Cristã Reformada, da Igreja Anglicana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e Igreja Presbiteriana Unida. A iniciativa quer levar às comunidades o questionamento sobre o modelo econômico, após 18 meses da eclosão da crise econômica mundial, incluindo a centralidade que o dinheiro tem na vida da maioria das pessoas.

Mas para o Zero Hora, a intenção é outra. A reportagem do jornal entrevistou José Antônio Celia, presidente da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas de Porto Alegre, que vê o objetivo de demonizar do lucro, o ataque o agronegócio e a globalização. "O Brasil não pode prescindir do agronegócio, como não pode prescindir da agricultura familiar", contemporiza.

"A defesa do agronegócio mereceu destaque especial", escreve Weissheimer. "O especialista convidado foi o ex-ministro da Agricultura e atual lobista do setor, Marcus Vinícius Pratini de Morais", lembra. "Foi a forma que o jornal encontrou para dar a notícia, falar sobre a campanha e, imediatamente, tentar desqualificá-la 'chamando os universitários'", diverte-se.

O blogueiro destaca ainda a coluna de Rosane de Oliveira que sustenta que o lema da campanha poderia ter saído de "documentos do Fórum Social Mundial, do programa de um partido socialista, de um congresso de estudantes ou mesmo de uma reunião do MST". As críticas vão na mesma linha de defesa do agronegócio, do qual o "país não pode prescindir".

Apesar de o Fórum Social Mundial não ter documentos finais, é curiosa a progressão usada pela colunista. Mas vale lembrar que a crítica ao lucro na vida dos cristãos feita pelo Conic parte de uma citação do Evangelho de São Mateus. Interpretações a parte, nada de panfleto, e sim um trecho do livro considerado sagrado pelos cristãos.

Ou, como escreveu Weissheimer, "contra estes demônios, só chamando o especialista".

(Foto: Reprodução)

Histórico

A reportagem e a colunista do jornal gaúcho não mencionam o histórico politizado da Campanha da Fraternidade. Realizada anualmente desde 1964 pela Igreja Católica, a iniciativa tem, pela terceira vez, um caráter ecumênico, a exemplo do que ocorreu em 2000 e 2005. Historicamente, boa parte dos temas escolhidos envolvem questões políticas.

O fato de ter, entre seus criadores, figuras como Dom Eugênio Sales, à época presidente da Cáritas Brasileira, e depois à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), deu essa característica à iniciativa. Justiça no trabalho, combate à fome, a questão agrária, indígena e temas como habitação e educação foram alguns dos temas abordados. Em outras palavras, não é a primeira vez que o agronegócio e a ação de ruralistas é questionada.

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