terça-feira, 12 de janeiro de 2010

HILDEGARD ANGEL - a dor e a revolta de uma irmã.

Eu como tive uma prima adolescente barbaramente torturada durante a ditadura militar, entendo perfeitamente o desabafo da Hildegard Angel. O crime da minha prima, foi ter namorado um colega de faculdade que abandonou família e os estudos, para entrar num grupo de resistência contra a usurpação do poder pela milicada. Foi dedurada por um colega de turma, tendo sido presa e torturada para fornecer o paradeiro do seu namorado, paradeiro esse que nem ela nem a família do namorado tinha conhecimento. Sofreu abuso sexual, foi espancada várias vezes, teve os seios queimados com cigarro, etc, e depois de vários meses presa foi libertada, com a obrigação de todo mes se apresentar no quartel da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, na Tijuca.Seu namorado foi preso no Recife, junto com outros seis companheiros e uma semana depois, todos foram encontrados mortos numa chácara perto da capital pernambucana, numa chacina de autoria das forças da repressão.

Quanto a Hildegard, seu irmão foi amarrado com a cara junto do cano de descarga de um jeep, e arrastado pelo pátio da CISA, órgão da aeronáutica. Sua morte nunca foi reconhecida pelos militares e seu corpo nunca apareceu.É um das centenas de desaparecidos durante a ditadura militar. Tanto minha prima como seu namorado eram chamados de "terroristas", que era como os opositores da ditadura eram chamados pelos gorilas.Engraçado é que nunca vi os membros da resistência francesa,os famosos maquis, que combatiam o nazismo, serem chamados de "terroristas''.
Como a Hil lembrou, todos os países que passaram por ditaduras constituiram sua "Comissão da Verdade". Aquí do nosso lado,os governos da Argentina, Chile, Uruguai, estão dando uma satisfação à sociedade civil, que tem o direito de saber o que aconteceu e que vinha sendo omitido, durante as ditaduras por que passaram. Na Argentina, a dona do jornal Clarin está sendo acusada de ter raptado, durante o regime militar, a filha recem-nascida de um prisioneiro político que havia sido preso e executado pela gorilada de lá. Agora, a justiça argentina determinou que seja feito um exame de DNA para esclarecer este fato.
A verdade tem que ser mostrada para que a geração pós ditadura, que não tem a menor idéia do que foi esse período negro do nosso país, seja iludida por matérias como a vinculada pela Folha de São Paulo, que criou o neologismo ditabranda, para designar a cruel ditadura imposta ao nosso país por 21 anos.
A imprensa golpista, a mesma que apoiou o golpe de 64, está distorcendo e omitindo fatos, para fabricar uma crise com um único intuito: atingir a ministra Dilma, que eles vivem chamando de terrorista.Já ouvi da boca de um milico, que eles não admitem ter que bater continência para uma terrorista, caso ela seja eleita.
A Hildegard encerra seu desabafo dizendo:"que medo é esse de se revelar a verdade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?"
Carlos Dória

Copiado do blog Vi o Mundo.

11 de janeiro de 2010 às 20:29 Quem tem medo da verdade?
por Hildegard Angel, no Jornal do Brasil, viaConversa Afiada

CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos... POIS BEM: é impressionante o tiroteio de emails de gente da direita truculenta, aqueles que se pensava haviam arquivado os coturnos, que despertam como se fossem zumbis ressuscitados e vêm assombrar nosso cotidiano com elogios à ação sanguinária dos ditadores, os quais torturaram e mataram nos mais sórdidos porões deste país, com instrumentos de tortura terríveis, barbaridades medievais, e trucidaram nossos jovens idealistas, na grande maioria universitários da classe média, que se viram impedidos, pelos algozes, de prosseguir seus estudos nas escolas, onde a liberdade de pensamento não era permitida, que dirá a de expressão!... E AGORA, com o fato distante, essas múmias do passado tentam distorcer os cenários e os personagens daquela época, repetindo a mesma ladainha de demonização dos jovens de esquerda, classificando-os de “terroristas”, quando na verdade eram eles que aterrorizavam, torturavam, detinham o canhão, o poder, e podiam nos calar, proibir, censurar, matar, esquartejar e jogar nossos corpos, de nossos filhos, pais, irmãos, no mar... E MENTIAM, mentiam, mentiam, não revelando às mães sofredoras o paradeiro de seus filhos ou ao menos de seus corpos. Que história triste! Eles podiam tudo, e quem quisesse reclamar que fosse se queixar ao bispo... ELES TINHAM para eles as melhores diretorias, nas empresas públicas e privadas, eram praticamente uma imposição ao empresariado — coitado de quem não contratasse um apadrinhado — e data daquela época esse comportamento distorcido e desonesto, de desvios e privilégios, que levou nosso país ao grau de corrupção que, só agora, com liberdade da imprensa, para denunciar, da Polícia Federal, para apurar, do MP, para agir, nos é revelado...

DE MODO cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre... QUEREM COMPARAR aqueles que perderam tudo — os entes que mais amavam, a saúde, os empregos, a liberdade e, alguns, até o país — com aqueles que massacraram e jamais responderam por isso.

Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio... TODOS OS países no mundo onde houve ditadura constituíram comissões da Verdade e Justiça. De Por tugal à Espanha, passando por Chile, Grécia, Ur uguai, Bolívia e Ar gentina, que agora abre seus arquivos daqueles tempos, o que a gente, aqui, até hoje não conseguiu fazer... QUE MEDO é esse de se revelar a Ver dade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?...

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