sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

AFEGANISTÃO - Como sair do Afeganistão.

Por Mauro Santayana

Os Estados Unidos estão dispostos a negociar com os talibãs, e o presidente do Afeganistão – cuja legitimidade é nenhuma, por ter sido imposto por Washington em uma fraude eleitoral – propõe uma série de condições para as conversações. Depois de mais de 1.600 baixas norte-americanas, sem contar com as das demais tropas invasoras, e de muito mais mortos entre os afegãos, os generais americanos Petraeus e McChrystal concluem pela impossibilidade de vitória pelas armas. Os aliados já pensavam assim, e se reúnem em Londres, a partir de hoje, para discutir o assunto. O presidente Obama, que concordara antes com o Pentágono, de que a vitória só seria obtida com mais soldados, enfraqueceu-se no episódio. A sua ideia era a de que, a fim de se retirar do Iraque, seria necessário aumentar a pressão no Afeganistão. Ele não poderia ter atuado de forma diferente, já que recebera o conflito dos três presidentes que o precederam.

A guerra contra Saddam foi o grande erro estratégico do primeiro Bush. Admita-se que Washington, para garantir o suprimento de petróleo barato do Kuweit, tenha agido em defesa do emirado. Frustrada a tentativa de anexação, a diplomacia deveria ter procurado um modus vivendi com Saddam, o que não seria difícil. Bush continuou castigando o Iraque com seus bombardeios, mantidos pelo democrata Clinton, até que o outro Bush, o filho – ao acusar falsamente Saddam de envolvimento nos atentados de 11 de Setembro e de dispor de armas de destruição em massa – invadiu e ocupou o país.

O presidente Hamid Karzai – cuja iniciativa foi claramente ditada por Washington – apresentou um plano de conciliação política nacional, que começa com o gesto de boa vontade das Nações Unidas em retirar, de sua lista de terroristas, alguns líderes talibãs. Eles poderão movimentar suas contas bancárias, até agora congeladas, e influir sobre seus companheiros. Em outro movimento, pretendem atrair combatentes do Talibã, com dinheiro vivo, a fim de enfraquecer o inimigo e forçá-lo às negociações. Parece mais difícil conseguir que os talibãs rompam com a Al Qaeda. Os chefes podem até prometer a ruptura, como estratagema político, mas há laços muito fortes entre Bin Laden e os líderes radicais.

O porta-voz dos talibãs, Zabiulah Mohammed, já declarou que, enquanto houver tropas estrangeiras no território muçulmano, não haverá conversações de paz. Que haja uma ou outra defecção, é provável, mas que elas signifiquem algum acordo é difícil. Seja como for, os Estados Unidos se encontram diante de outra derrota militar – e política. Seus generais entendem agora que, por mais tropas sejam enviadas para o território, não conseguirão dominar os radicais muçulmanos. A ação política poderia ter trazido resultados no passado. O sangue derramado e o dinheiro gasto ali para nada serviram.

Quando os norte-americanos deixarem o país – e o deixarão tão logo consigam – o episódio irá somar-se ao passivo da história da grande república, com seus crimes contra a humanidade, junto às derrotas, na Coreia, em Cuba e no Vietnã, entre outras. Foram guerras inúteis. Até lá, os afegãos e os invasores continuarão a morrer. Apesar das declarações em favor das soluções políticas, os americanos continuam defendendo o aumento das tropas estrangeiras, como meio de pressão para que os guerrilheiros talibãs desertem por dinheiro. Quanto mais tropas houver, mais resistência haverá. Vamos assistir ao que vimos, há 35 anos, no Vietnã: as demoradas conversações entre os dois lados, até o momento do desespero que foi a retirada das tropas agressoras, em Saigon.

Os descendentes dos que perderam seus filhos, e dos que perderam seus pais, nas duas grandes guerras mundiais do século passado, têm por que se orgulhar de seu heroísmo. Eles morreram por uma grande causa. Os que os perderam no Vietnã, e os estão perdendo no Iraque e no Afeganistão, devem sentir-se aflitos em seu desconsolo. Seus filhos e pais morreram para que as grandes corporações, continuassem obtendo imensos lucros, distribuídos entre os executivos e as grandes famílias de bilionários ociosos.
Fonte:JB online

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