quarta-feira, 25 de novembro de 2009

EUA - Estratégia furada de Obama.

Estratégia de Obama instaura a barbárie e agrava o terrorismo

Transcorridos oito anos dos atentados que destruíram o World Trade Center e atingiram o Pentágono, o terrorismo assume proporções cada vez maiores nas áreas do planeta onde George W. Bush pretendia enfrentá-lo e erradicá-lo.

Por Miguel Urbano Rodrigues, no Informação Alternativa

O presidente Barack Obama, cuja eleição suscitou a nível planetário uma grande esperança, foi distinguido com o Prêmio Nobel da Paz, mas a sua intervenção na História, contrariando um discurso humanista, não tem contribuído para combater e superar a crise de civilização existente.

Ocorre o contrário. A sua estratégia no Oriente Médio e na Ásia Central instaura a barbárie e agrava o terrorismo.

O esforço desenvolvido por uma gigantesca e perversa engrenagem midiátia que desinforma os povos não tem o poder de inverter o rumo dos acontecimentos.

Os Estados Unidos estão presentemente envolvidos na Ásia em duas guerras perdidas e atolados na pantanosa situação criada na Palestina pelo sionismo neonazi.

O primeiro grande erro de Obama foi, ao entrar na Casa Branca, definir o Afeganistão como a primeira prioridade da sua política internacional.

Na sua opinião, o Iraque estava quase “pacificado” e tomou a decisão de transferir alguns milhares de soldados para o Afeganistão onde a insurreição alastrava numa guerra que, assim o afirmou então, se comprometia a vencer porque dela dependia “a segurança dos EUA”.

O otimismo sobre a situação no Iraque foi sem tardança desmentido pelo aumento da violência no país. No centro de Bagdá e nas principais cidades explodem todas as semanas carros armadilhados e bombas que matam centenas de pessoas. A resistência contra a ocupação militar norte-americana cresce e o governo fantoche tutelado por Washington está totalmente desprestigiado. O Pentágono já reconheceu que será quase impossível respeitar o compromisso de retirar do país as tropas estadunidenses na data prevista, ou seja, dentro de dois anos.

A nomeação do general Stanley McChrystal para comandante supremo na área Afeganistão-Paquistão foi muito bem recebida pelo Congresso e suscitou inicialmente grandes esperanças no establishment.

Mas a atmosfera de euforia durou pouco. A estratégia inovadora concebida pelo general, apresentado como um intelectual brilhante, com diplomas de história e ciências políticas, não parece entusiasmar os analistas militares das grandes mídias.

McChrystal pediu a Obama o envio de 30.000 a 40.000 homens, advertindo num dos seus dois relatórios que sem esse reforço a guerra será perdida. Entretanto, em pleno Verão, desencadeou na Província do Helmand uma ofensiva em que participaram aproximadamente 15.000 soldados americanos e britânicos. Não obstante a escolha ter recaído sobre tropas de elite, o resultado foi decepcionante. A força empenhada sofreu grandes baixas e nos combates travados os guerrilheiros afegãos evitaram o choque em campo aberto, permanecendo quase sempre invisíveis.

No começo do Outono, a guerra entrou pelo Paquistão, na chamada Fronteira do Noroeste, um território que durante séculos pertenceu ao Afeganistão, habitado por tribos pachtun que ignoram a fronteira artificial que os ingleses impuseram em 1880 após a segunda guerra anglo-afegã. Sob pressão de Washington, o Paquistão mobilizou milhares de soldados para os lançar contra os “terroristas” do Vaziristão. Simultaneamente, aviões não-tripulados da Força Aérea dos EUA começaram a bombardear indiscriminadamente aldeias da região, alegando que eram redutos dos talibãs paquistaneses.

Essas operações conjugadas não atingiram os objetivos fixados. As baixas no exército são elevadas. Os combates desenrolam-se num terreno montanhoso onde os moradores, vaziris, shinwars, momands e de outras tribos da região, opõem uma forte resistência. O balanço do apoio aéreo americano é também negativo. Os aviões não tripulados voando a grande altitude lançam as bombas sem um mínimo de precisão. As principais vítimas são camponeses das aldeias, o que contribui para aumentar o ódio das populações locais aos EUA.

A primeira consequência da intensificação das ações militares americano-paquistanesas foi a multiplicação de atentados terroristas nas grandes cidades do país.

No próprio dia em que Hillary Clinton pronunciava em Islamabad um discurso palavroso e ridículo em que apresentou a solidariedade dos EUA com o Paquistão como contribuição decisiva para “a paz, o progresso e a democracia” no país, um atentado em Peshawar matava quase duas centenas de pessoas.

A visita e as palavras da secretária de Estado suscitaram protestos. O alinhamento do atual governo de Islamabad com os EUA é mal recebido pela grande maioria da população. Tudo indica que a vaga de terrorismo vai prosseguir.

O desfecho das eleições presidenciais no Afeganistão criou mais um problema aos EUA porque não correspondeu ao objetivo de Washington ao promovê-las . As insistentes críticas dos generais Petraeus e McChrystal a Hamid Karzai, responsabilizando-o pela corrupção generalizada e pela nomeação para altos cargos de destacados criminosos de guerra, persuadiram Obama de que o afastamento do presidente através de eleições era uma necessidade. Mas Karzai e a sua gente montaram uma gigantesca fraude com a cumplicidade da Comissão Eleitoral. O escândalo da proclamação de Karzai como vencedor por maioria absoluta foi tamanho a nível internacional que a ONU declarou a nulidade das eleições e exigiu a realização de uma segunda volta. O tiro saiu, entretanto, pela culatra. Perante a iminência de uma nova fraude, Abdullah Abdullah – o candidato de Washington – renunciou a disputar o segundo turno quando as exigências mínimas que apresentou foram recusadas pelo governo. Logo Karzai, sem adversário, se autoproclamou presidente reeleito.

A Casa Branca teve de engolir o sapo e Obama, numa mensagem confusa, concluiu que, apesar de tudo, o processo eleitoral fora positivo. Mentiu.

Obama tinha adiado para depois das eleições a decisão sobre a nova estratégia proposta pelo general McChrystal .

Num contexto desfavorável, consciente de que o povo afegão atribui a Karzai pesadas responsabilidades pelo caos instalado no pais, o presidente estadunidense terá agora de aprovar ou recusar o pedido do general McChrystal, isto é, o envio de cerca de 40.000 soldados para o Afeganistão, onde o total das forças de ocupação ronda já os 100.000 entre estadunidenses e tropas da NATO.

As cadeias de televisão e os grandes jornais especulam sobre o tema e a reacção do Congresso, prevendo uma solução salomônica, isto é, o envio de metade dos efetivos solicitados.

Uma extensa entrevista concedida em Cabul pelo general McChrystal ao diário francês Le Figaro (29 de setembro) veio criar novos problemas à Casa Branca, porque as suas declarações tiveram repercussão internacional, ampliando a polêmica nos EUA.

O general começa por afirmar que será o povo afegão "a decidir quem ganhará a guerra. O Estado afegão e o exercito afegão são – assim se expressa – quem no fim de contas tomará a decisão. Nós, os Ocidentais, devemos ser os seus leais aliados".

A esse começo pouco sensato seguem-se criticas à estratégia da União Soviética que, na sua opinião, criou nos anos 80 um exercito afegão visto como "ilegítimo" pela população.

Instado pelo entrevistador, Renaud Girard, a comentar as reações do Pentágono e do Presidente Obama aos dois relatórios que lhes enviou, o general considerou-as positivas.

Sublinhando que o seu primeiro dever é a "humildade", McChrystal chamou a atenção para uma faceta mais do que polêmica do seu ambicioso plano de pacificação do país. Lembrando que os militares estadunidenses têm ainda muito a aprender, o general declarou: "os nossos oficiais devem progredir no conhecimento das línguas e dos costumes deste país. Devemos aproximar-nos da população, desembaraçados de todas as blindagens e outros coletes anti-estilhaços. Os nossos homens devem conhecer melhor a história e a cultura afegãs, a fim de atuar em cooperação com os seus camaradas afegãos".

Não é surpreendente que essas sugestões tenham embaraçado historiadores e sociólogos convidados a pronunciar-se sobre elas.

Visitei várias vezes o Afeganistão e julgo útil esclarecer que o país tem duas línguas oficiais – o dari (variedade do persa) e o pachto, e que alguns milhões usam como idioma materno o turco usbeque e o turcomano. Mesmo libertando a imaginação, admito que seria uma tarefa homérica para a soldadesca americana a aprendizagem dessas línguas para ela impenetráveis. Não concebo também que a oficialidade, cujo conhecimento da própria historia dos EUA é na generalidade muito deficiente, possa dedicar-se com proveito à historia dos povos que ao longo de 25 séculos desde os aquemenidas persas e Alexandre da Macedônia criaram no espaço afegão civilizações brilhantes que deixaram marcas inapagáveis no rumo da humanidade.

Interrogado sobre a insurreição, o general lançou-se numa dissertação algo confusa. Na sua opinião, o que existe é "uma confederação de insurreições, com fins políticos diferentes". Mencionou especificamente três, "os talibã históricos, o grupo Haqqani, e a Hesbe Islami de Gulbudin Hekmatiar, além de outros grupúsculos dispersos. O seu único cimento é o ódio ao governo instalado".

Do intenso ódio aos invasores americanos não fala.

Independentemente do juízo que se faça dessa reflexão do estratega sobre a insurreição, a continuidade de Hamid Karzai como presidente não vai contribuir para a conquista das populações mediante o dialogo e o estudo das línguas afegãs.

O general, que é um estudioso das guerras coloniais do seu país e da França, esclarece que as lições dos generais franceses Lyautey e Galieni no tocante à contra-insurreição não foram por ele esquecidas. Porque não se trata de matar "um máximo de talibãs", mas sim de "proteger as populações". Omite, porém, um pormenor importante. Os nomes de Lyautey e Galieni, o primeiro em Marrocos, o segundo em Madagáscar, ficaram ligados a ações repressivas maciças do exército francês. McCarthy vai mais longe. "Sou" – confessa – "um grande admirador do exército francês e estudei o seu trabalho contra-insurrecional na Indochina e na Argélia".

São conhecidos os resultados desse “trabalho”, mas o general estadunidense não os menciona. É também omisso no tocante à política de “proteção” às populações do Vietnã aplicada no terreno pelo seu compatriota general Westmoreland. O seu discurso apresenta, contudo, muitas afinidades com o daquele derrotado cabo-de-guerra estadunidense.

Somente com o rodar do tempo saberemos se o desfecho será similar ao do Vietnã. Cabe, porém, lembrar que o responsável pelo ambicioso plano de “pacificação” do Afeganistão e a estratégia global de McChrystal é um general paraquedista francês.

O general Stanley McChrystal comandou durante cinco anos, de 2003 a 2008, as forças especiais dos EUA. Segundo os especialistas militares é um “duro”. Do seu currículo não consta políticas de diálogo com os povos, mas ações de genocídio que levaram alguns analistas a qualificá-lo de “criminoso de guerra”.

Foi a esse soldado, com pretensões acadêmicas, que o presidente dos EUA confiou a tarefa de ganhar a guerra do Afeganistão, primeira prioridade da política externa da Casa Branca.

Enquanto medita sobre a nova estratégia para a Ásia Central, o presidente Obama, Prêmio Nobel da Paz, propõe ao Congresso o maior orçamento militar da História dos EUA. Se for aprovado, excederá os orçamentos militares somados de todos os demais países do planeta.

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