terça-feira, 29 de setembro de 2009

MST - Mais uma vez, ruralistas atacam MST.

Adital

Por Eduardo Sales de Lima
Da Redação

Segundo ex-integrante da CPMI da Terra, em 2005, a investigação foi tão direcionada que "seus resultados foram desmoralizados"

Jamil Murad (PC do B) integrou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra em 2005, como deputado federal. Numa reunião no dia 23 de maio daquele ano, Murad sugeriu que o deputado Onix Lorenzoni (DEM/RS), outro integrante da CPMI, encaminhava o inquérito com "dois pesos e duas medidas", pelo fato dele e outros ruralistas não pressionarem com mais ênfase a instauração de investigações de irregularidades dentro do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) gaúcho.

Na ocasião, a investigação abordava inúmeros temas relacionados ao campo brasileiro, abordando desde a violência no campo até supostas irregularidades as quais a direita ruralista responsabilizava ONGs ligadas a movimentos sociais. , Murad é vereador em São Paulo (SP). Sobre sua experiência na CPMI, conversou com o Brasil de Fato.

Brasil de Fato (BdF) - Que conclusão o senhor faz da CPMI da Terra de 2005? A bancada ruralista atingiu seus objetivos políticos?

Jamil Murad (JM) - A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Terra de 2005 foi proposta como instrumento de luta política contra o MST e a Reforma Agrária. Os ruralistas tinham maioria na comissão e usaram essa maioria para pregar que a proposta de reforma agrária estava superada e para colocar o MST no banco dos réus. A comissão chegou ao resultado final de que as vítimas perderam a vida porque se colocaram na frente dos disparos dos jagunços dos latifundiários. Em outras palavras, transformaram as vítimas em réus. É uma agressão tão grande à verdade e aos fatos que seus resultados foram desmoralizados.

BdF - Você acredita, como coloca o MST, que a CPI contra o movimento é uma resposta à correção dos índices de produtividade?

JM - A atual CPI proposta pela senadora ruralista é continuidade do mesmo movimento dos inimigos da Reforma Agrária. Se não fossem os índices de produtividade seria por outros motivos porque eles nunca vão desistir do objetivo de dizimar todos que lutam pela Reforma Agrária como mostra a história mesmo antes de o MST existir.

BdF - Existem fortes denúncias sobre doações da CNA à campanha de Kátia Abreu ao senado, em 2006. Nada foi feito. Por que isso ocorre? Por que a bancada ruralista consegue ter tanta unidade política, obtendo 226 assinaturas para que ocorra uma CPI contra o MST, e, ao mesmo tempo, ter tanto sucesso ao obstruir outras investigações como essa que se relaciona com Kátia Abreu e outras figuras?

JM - O Congresso Nacional e, particularmente, o Senado estão na contramão da História. Não têm sintonia com o anseio do povo brasileiro por mudanças estruturais. Portanto, seja na formação da CPI contra o MST ou ao tratar de assuntos também de grande relevância pública há uma aglutinação incrível de parlamentares para acusar os que defendem o progresso e proteger aqueles que querem manter o status quo.

BdF - Não sei se o senhor se recorda, mas na CPMI da Terra (2005), em uma reunião do mês de maio, o senhor sugeriu que o deputado Onix Lorenzoni (DEM/RS) teria vestido a "carapuça", se referindo ao fato de que, com ele, havia "dois pesos e duas medidas" pelo fato dos ruralistas não pressionarem a instauração de investigações de irregularidades dentro do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) gaúcho. Agora temos mais uma CPI, focada ainda mais no MST. É possível concluir que se trata, mais uma vez, de uma CPI motivada por princípios ideológicos da direita, da bancada ruralista?

JM - Certamente a motivação é a disputa ideológica de caminhos muito diferentes daquele que o povo brasileiro deseja e necessita. Não só nesse episódio, mas na CPI dos Correios, da qual também participei, havia fortes evidências de irregularidades do bloco PSDB/DEM mas com a manipulação da mídia conservadora esses fatos não se transformaram em escândalos. Mesmo assim a investigação feita pela Justiça mostra que o comprometimento era real. Para decepção de setores retrógrados o povo brasileiro está mais consciente e tem tomado posições de apoio à causa nacional e de progresso social.

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