quinta-feira, 28 de maio de 2009

TORTURA EM FOTOGRAFIAS, DILEMA DOS EUA.

Pedro Doria

Hoje saíram mais alguns detalhes a respeito das fotos de tortura na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, que são mantidas em segredo pelo governo norte-americano. Segundo o general da reserva Antonio Taguba, oficial responsável pela investigação de abusos em 2004 naquela prisão, as imagens contém: um soldado dos EUA estuprando uma prisioneira, um tradutor do Exército dos EUA estuprando um prisioneiro, uma prisioneira sendo despida à força, penetração com objetos como bastões, cabos e um tubo de lâmpada fluorescente.

As fotos não divulgadas de Abu Ghraib fazem parte de um conjunto de 2.000 imagens que o presidente Barck Obama decidiu não tornar públicas. Tratam, todas, de cenas de abusos de prisioneiros tanto no Iraque quanto no Afeganistão, entre 2002 e 2004. Por conta, seu governo vem sendo alvo de pesadas críticas por falta de transparência.

Estas fotografias, todas elas, documentam crimes previstos por lei nos EUA. Todos os oficiais envolvidos nas ações foram ou estão sendo julgados. Onze já foram condenados.

Obama argumenta que os crimes estão sendo punidos. Divulgar imagens tão violentamente explícitas, no entanto, poderia disparar um processo pior do que o dos cartuns dinamarqueses, acirrando ânimos, piorando uma situação já ruim e dificultando a vida dos 200.000 soldados norte-americanos – a maioria não envolvida com tortura – que estão nos dois países.

Não custa lembrar que as vítimas de tortura possivelmente não querem estas imagens públicas.

Jane Mayer, repórter da New Yorker, faz um contraponto: há um poder que as imagens têm que nenhum texto é capaz de simular. Apenas imagens como estas são capazes de expor a população dos EUA – e do mundo – aos horrores praticados nos porões da guerra.

Houve uma virada de mesa nesta questão. Inicialmente, o presidente Obama anunciou que divulgaria as imagens agora em maio. Foi após vê-las e ouvir alertas de cautela por parte dos generais que mudou de ideia.

Existe, no entanto, um processo em curso na Justiça dos EUA que vem sendo vencido instância após instância por quem deseja acesso ao material. O governo pretende recorrer, agora, à Suprema Corte. Possivelmente perderá. Se realmente desejar mantê-las em segredo, só tem uma alternativa: a de baixar uma lei especificamente com este objetivo. Já existe um projeto do tipo no Senado, mas não há movimentação da Casa Branca em seu apoio.

Obama pode estar fazendo um jogo de cena: faz um aceno para os militares porque sabe que as imagens serão tornadas públicas de qualquer jeito. Seu apoio a uma lei para proibi-las deixará clara sua real posição a respeito.

Há uma questão em paralelo que nada tem a ver com as fotografias: é o debate a respeito de waterboarding, simulação de afogamento com uma bacia d’água, que o governo do ex-presidente George W. Bush considerou legal, mas que o novo governo considera uma forma de tortura. De acordo com os detalhes divulgados até agora, as fotografias proibidas nada têm a ver com afogamento simulado. São tortura mesmo – do tipo que nem Dick Cheney tem coragem de defender. (Ao menos, não em público.)

Nenhum comentário: