domingo, 31 de maio de 2009

JOSÉ DIRCEU - "A tendência é a vitória da Dilma".

O ex-deputado diz que a chefe da Casa Civil é favorita em 2010 porque o país não quer mudar de rumo.

Guilherme Evelin e Ricardo Mendonça.

ÉPOCA – Essa crítica à imprensa não é autoritária? Não é a demonstração de que o PT no poder não aceita críticas?
Dirceu – A mídia brasileira precisa ser regulamentada, democratizada. No mundo inteiro foi assim, menos no Brasil. Quero que peguem a legislação mais moderada que existe no mundo e apliquem no Brasil. Como você pode ficar sem lei de imprensa? Sem direito de resposta para preservar sua imagem e a honra? Você não pode dar ao Estado poderes para intervir na imprensa e na liberdade de manifestação. Mas quero também minha liberdade de imprensa. Fui investigado, processado e julgado pela imprensa como o chefe da quadrilha do mensalão e corrupto. Até agora eu consegui ser absolvido em todos os inquéritos, investigações, processos, CPIs, inclusive em seis processos em primeira instância em Brasília. Só resta o processo no Supremo. E se eu for absolvido pelo Supremo em 2011? Como vão ficar esses seis anos?

ÉPOCA – O senhor não errou em nada?
Dirceu – Eu não faria nada diferente. Quando fui deputado estadual, federal, não cometi grandes erros. Posso ter feito julgamento precipitado de um ou outro acusado. No governo, cometemos muitos erros. Um erro foi a aliança com o PMDB, que não fizemos no começo do governo.

ÉPOCA – O senhor pensa em voltar para a direção do PT?
Dirceu – Não. Nem para cargo público, que eu posso, pois só tenho inelegibilidade. Mas não pretendo voltar enquanto não for julgado pelo Supremo. Não me sinto no direito nem em condições. Tenho de provar minha inocência primeiro. Depois pedir anistia na Câmara. Esse é meu roteiro. Eu preciso provar minha inocência. É um absurdo, mas não tem outra alternativa.

ÉPOCA – A Dilma na Presidência faria um governo mais à esquerda que o do Lula, como disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini?
Dirceu – Acho que ela faria um terceiro governo, que teria muito mais condições que o segundo, que teve mais condições que o primeiro. Vão se criando condições no país para outras mudanças.

“Um dos problemas do Serra é o Aécio, que tem um discurso que
agrada mais. O outro é de proposta para o país, que eles não têm”

ÉPOCA – O segundo governo Lula é melhor que o primeiro?
Dirceu – Não digo que seja melhor. O primeiro cumpriu uma etapa e tarefas que eram adequadas a ele. Poderia ter tido uma política monetária mais heterodoxa antes de 2007. O Banco Central errou no final do ano passado. Deveria ter baixado os juros em 4 pontos quando começou a crise. Hoje, isso é quase unânime. Em parte, estamos pagando hoje por esse erro. Felizmente, o Brasil também estava preparado porque o Banco Central também tem qualidades: desdolarizou a dívida, alongou a dívida, fez as reservas, saneou o sistema financeiro.

ÉPOCA – O Brasil errou ao apoiar um egípcio acusado de antissemitismo e desprezar uma candidatura própria para a direção da Unesco?
Dirceu – Eu preferia que (o candidato brasileiro) fosse o Cristóvam (Buarque). O Brasil tomou a decisão de apoiar o egípcio por questões políticas. Sou contra desqualificação política de certas personalidades. Se você tomar ao pé da letra o que estão fazendo com o presidente do Irã (Mahmoud Ahmadinejad), nós deveríamos fazer o mesmo com o Bush, né? Também com o primeiro-ministro de Israel (Benjamin Netanyahu), que defende coisas indefensáveis. Eu não posso deixar de ter relações ou votar indicações de certos países por causa disso. Se o presidente do Irã vier ao Brasil, nós temos de recebê-lo. Quem quiser fazer manifestação contra ele, que faça.

ÉPOCA – O Ahmadinejad defende a destruição do Estado de Israel.
Dirceu – Não é bem assim. Então eu vou dizer que a direita de Israel, que está no poder, defende a destruição do Estado palestino. Por causa disso, não vamos ter relação com Israel? Não concordamos com as declarações do Irã em relação a Israel, mas temos de defender os direitos do Irã, que também queremos para o Brasil, como o enriquecimento do urânio.

ÉPOCA – Quando o senhor foi deputado, algum parente, correligionário ou amigo usou sua cota de passagens?
Dirceu – Como o Lula disse, nós construímos o PT e fizemos a luta contra a ditadura. Sempre os parlamentares do PT apoiaram o partido. Então, pessoas do partido usaram bilhetes. Parente, não.

ÉPOCA – Dezessete anos depois da CPI do Collor, nós temos agora uma CPI da Petrobras com Renan Calheiros e Fernando Collor ajudando o governo Lula . Não é uma ironia?
Dirceu – Não sei se o Collor vai ajudar o governo, não. O Brasil de 2009, em comparação com o de 1991, é melhor em todos os sentidos. O Collor é o Collor, um senador de Alagoas com peso de um em 81. Ele não tem influência. O Renan é diferente, porque ele tem o peso de um líder do PMDB.
Fonte:Revista Época

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