sábado, 23 de maio de 2009

CAMPOS MINADOS NA BAHIA PELA CPI DA PETROBRÁS.

Vitor Hugo Soares

Ninguém precisa procurar videntes com bola de cristal ou baralho em cima da mesa, nem mesmo ir a um terreiro em busca de sinais sobre o futuro da CPI da Petrobrás, como denominam os senadores que a convocaram (ou a “CPI dos Tucanos”, como preferem o presidente Lula e seus seguidores). Basta prestar atenção nos primeiros noticiários e análises, ou nos movimentos de personagens de peso no Congresso e no poder federal esta semana - em Pequim, em Salvador, em Beirute, Ankara e Brasília - para se deduzir: algumas das mais acirradas batalhas políticas e pessoais da nova CPI que se anuncia serão travadas em campos da Bahia.

E isso não tem nada a ver com as colinas de Pirajá, das heróicas lutas do 2 de Julho, nem mesmo com o lendário poço do campo de Lobato, na área suburbana, onde o óleo jorrou pela primeira vez no País, e, hoje, abriga população tão pobre e abandonada quanto antes. Situação, diga-se a bem da verdade, elevada a grau de tragédia nos últimos dias de temporais que arrasam a capital e zonas metropolitanas.

Mas deixemos de lado a “conversa de cerca Lourenço”, como dizem os soteropolitanos. Vamos aos fatos e situações atuais mais diretamente ligados aos movimentos e manobras com vistas à CPI, que devem ganhar mais intensidade a partir da segunda e terça-feira próximas.É quando o presidente Lula deve desembarcar em Salvador para um encontro com os colegas da Venezuela, Hugo Chavez, e do Senegal, Abdulaye Wade.Partipam os três de uma série de eventos e inaugurações ao lado do governador Jaques Wagner, entre os quais a abertura da Semana da Africa na Bahia (TCA) e inaugurações na Universidade Federal do Recôncavo Baiano, em Cachoeira, palco primeiro das batalhas de resistência popular que desembocariam no 2 de Julho da Independência na Bahia. Signos não faltam nesta nova viagem do presidente.

São baianos tanto o presidente da Petrobras - o petista José Sergio Gabrielli -, quanto o diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) - o comunista Haroldo Lima (PC do B). Este último também no olho do furacão, pois se situam nos limites do órgão que ele dirige, algumas das denúncias mais cabeludas entre as que estão na base da exposição de motivos para a criação da CPI no Senado.

Gabrielli e Lima, seguramente, estão mais que cientes de tudo isso, que por sinal nem começou agora.Vem de longe. Pelo menos desde quando era vivo ainda o senador Antonio Carlos Magalhães, que acusava a Petrobras de fazer política na Bahia, “patrocinando até festa de casamento de bonecas em prefeituras do interior”.

Ultimamente, quando se aproxima a batalha eleitoral de 2010, as mesmas acusações partem de outras vozes próximas ou consanguíneas - do senador Antonio Carlos Magalhães Junior e do filho ACM Neto, ou do ex-governador Paulo Souto em manobra de vôo de retorno, todos do DEM. Ou aparentemente distantes, como prefeitos e parlamentares do PMDB ligados ao ministro da Integração Nacional do governo Lula, Geddel Vieira Lima, pilar da base de apoio do governo do petista Jaques Wagner.

Queiram ou não, Gabrielli e Lima sabem do papel de protagonistas que terão de assumir dentro e fora do palco da CPI.da Petrobras. Ambos formam na linha de frente das chamadas esquerdas baianas e no que se poderia chamar de “time titular do Presidente”, para ficar na linguagem em moda. Em especial Zé Sérgio (como é chamado em Salvador), o presidente da Petrobras. Formado nas fileiras da antiga Ação Popular (AP), quadro da elite petista atual, respeitado articulador e polemista das lutas estudantis dos anos 70 em Salvador, ex-repórter da equipe pioneira do jornalista Quintino de Carvalho na origem da Tribuna da Bahia, ex-diretor da Faculdade de Economia da UFBA. Reconhecidamente um páreo duro em qualquer parada, se poderia dizer antes da batalha da CPI começar.

Na outra ponta da corda, o senador Antonio Carlos Magalhães Junior, apontado como um dos nomes prováveis para presidir a CPI, diz em entrevista à revista virtual Terra Magazine que não pensa no posto. Suas palavras, porém, revelam que ele não deseja outra coisa., principalmente quando se aproxima o fim de seu mandato e o DEM da Bahia sabe que Gabrielli é um dos nomes mais cotados nas hostes petistas para disputar uma cadeira no senado em 2010.

“A idéia não é fazer palanque eleitoral, é ter uma investigação séria para melhorar os procedimentos da empresa”, diz o senador na TM. Na revista Veja, porém, ACM Neto, filho do senador ataca às vésperas do presidente desembarcar em Salvador. Diz que Lula “está se pelando de medo da CPI da Petrobras.”

Novas batalhas à vista - e das mais ferozes - em campos baianos.

Vitor Hugo Soares é jornalista.

Nenhum comentário: