segunda-feira, 3 de novembro de 2008

ARTIGO - Resta saber se o império assimilou a decadência.

Pedro Porfírio.


"Essa lei estabelece um mastodôntico feudo monetário (money trust) na Terra. Quando o presidente assiná-la, um governo invisível representado pelo poder monetário será legalizado em nosso país". (Charles August Lindbergh, congressista de 1907 a 1917, mais conhecido por ter sido o pai do primeiro piloto a atravessar o Atlântico num monomotor, em 1927.)

"Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis".(Mayer Amschel Rothschild -1744/1812 -, precursor do "capitalismo selvagem")

Em 2003, o ator negro Chris Rock escreveu e estrelou o filme "Head of State", exibido no Brasil com o título "Um pobretão na Casa Branca". Comédia despretensiosa, acabou sendo um prenúncio de uma possibilidade que só caberia em ficção: a vitória de um mulato, filho de queniano, com 4 anos de sua infância vividos na Indonésia, o país de maior população muçulmana do mundo.

O que será do amanhã nos Estados Unidos – e, por conseqüência, no mundo, é um misto de dúvidas e esperanças. Mesmo na provável hipótese de vitória de Barack Hussein Obama, por quem torcem 79% dos brasileiros ligados, conforme pesquisa on line do jornal ESTADO DE SÃO PAULO, é precipitado dimensionar o "change" conseqüente de sua eventual ascensão.

Antes do senador mulato e acima dele existe o "establishment" que dá as cartas desde priscas eras. Apesar da decadência do império norte-americano, de sua mais indisfarçável (e talvez irreversível) crise econômica, o país ainda vive sob controle dos "moneychangers", os implacáveis agiotas que estão na raiz de um sistema baseado no domínio do mundo e na manipulação da economia.

Depressão existencial

Para agravar, o povo norte-americano sofre sua mais aguda depressão existencial. Poucos sabem, mas esse país que intervém em outros para "dar combate às drogas", não é apenas o maior consumidor de cocaína (25% dos viciados, embora tenha apenas 4,7 % da população mundial): desde 2006 converteu-se no maior produtor de maconha do mundo, registrando um crescimento tão expressivo nessa "lavoura" que desbancou os plantios de milho e trigo juntos e passou a ser o principal produto agrícola em 12 Estados, segundo estudo da Universidade de Mississipi e pesquisa coordenada pelo professor PHD Jon Gettman, presidente da Droga Science Foundation, uma organização privada baseada na Califórnia.

Toda essa concentração de esforços em favor de um jovem senador, apesar dos ataques venenosos dos adversários, parece a última cartada de uma sociedade em crise, onde o comparecimento às urnas gira em torno de 55% dos eleitores, apesar da variedade de candidatos, que vão desde o presidente da República até o juiz ou o xerife local.

Símbolo de uma mudança radical, por ser negro, Obama reúne apoios inesperados. Além do general Colin Powell, ex-secretário de Estado de Bush, ele ganhou o reforço de Ken Duberstein, ex-chefe de Gabinete de Ronald Reagan.

Enquanto 75% dos israelenses preferem o candidato republicano John McCain, dentro dos Estados Unidos líderes importantes da comunidade judaica manifestaram apoio a Obama. Foi o caso de Edgar Bronfman, que por 28 anos foi presidente do Congresso Mundial Judaico. Seu apoio ocorreu dois dias depois de McCain ter insinuado que Obama teria ligações com radicais palestinos.

Obama terá o voto também de muitos cubanos da Flórida, onde a possibilidade de um abrandamento na política em relação a Cuba tem levado os mais exaltados a se desdobrarem na campanha do seu rival. Raul Martinez, ex-prefeito de um distrito de Miami, afirma que hoje as novas gerações dos 650 mil cubanos-norte-americanos (um quarto da população da cidade) querem o fim de medidas hostis à ilha e vão votar no candidato democrata.

Essas novidades se refletem com realce na imprensa. Três dos quatro maiores diários dos EUA declararam apoio a Obama. O The New York Times, o Washington Post e o Los Angeles Times foram simpáticos aos democratas em 2004, mas agora estão na mesma posição jornais tradicionalmente republicanos e de estados conservadores, como Chicago Tribune, de Illinois, o Houston Chronicle, do Texas, e o Denver Post, do Colorado, que declararam voto no democrata. No total, 47 jornais que apoiaram Bush em 2004 estão hoje com Obama.

Essas informações reforçam a expectativa de que o senador mulato seja uma espécie de tábua de salvação da grande maioria de assustados cidadãos do império em decadência. Embora a bancarrota bancária tenha sido mais saliente nos últimos 60 dias, muito antes a incerteza já rondava, em meio ao agravamento de uma crise econômica de inevitável repercussão social.

A guerra em casa

Com o atentado das torres gêmeas, os norte-americanos sentiram pela primeira vez em sua própria casa os horrores de uma guerra. Sua repercussão no existencial de um povo acostumado a bombardeios na terra dos outros provocou uma síndrome de pânico inconsciente, agravada com o prolongamento da guerra no Iraque, desencadeada com base em velhos truques de ameaças forjadas e bravatas pueris.

A partir do 11 de setembro de 2001, o "estado belicoso", responsável pela hipertofria dos gastos de guerra vem sendo questionado cada vez mais, na proporção de suas extravagâncias, dos seus métodos e de seus fiascos.

A cada dia, os norte-americanos são tocados pelo volume de mentiras que move seus governantes e seus formadores de opinião. A Internet abalou os domínios dos donos e vendedores da "verdade". Hoje, há milhões de fontes de informação e ingredientes de opinião.

Você pode saber das coisas através de um despretencioso analista que, por não ser pago a peso de ouro pelos grandes cartéis, tem a língua solta. As próximas eleições sofrerão a influência de uma mídia nova, interativa, livre e reveladora. Uma mídia que, além de tudo, já opera uma mudança no comportamento da sociedade em hábitos que alcançam até as aproximações amorosas.

Os valores e as cautelas tradicionais naufragam na torrente da dúvida e da desconfiança. A consequência mais dramática é a corrida às drogas, que representam um gasto de U$ 200 bilhões só no consumo anual da maconha.

A Organização Mundial de Saúde revelou que 125 milhões de norte-americanos, de um total de 288 milhões, já experimentaram a maconha. A partir de 2006, quando em 25 anos multiplicou por dez o seu cultivo, os Estados Unidos se tornaram o maior produtor da canabis sativa do mundo, embora esteja longe da autosuficiência: U$ 35 bilhões anuais de maconha, contra US$ 23,3 bilhões no milho, US$ 17,6 bilhões na soja, US$ 11,1 bilhões em vegetais e US$ 7,4 bilhões no trigo.

Povo manipulado

Mais do que a crise econômica, o socorro aos bancos vem embaralhando as cabeças de um povo que é enganado oficialmente desde o dia 23 de dezembro de 1913, quando o ex-reitor da Universidade de Princeton, Woodrow Wilson, monitorado pelo banqueiro J.P. Morgan e pelos Rothschild, que o fizeram presidente dos Estados Unidos, assinou o "Federal Reserve Act", criando o "Federal Reserve Bank", um banco central privado que oficializou o "fractional reserve banking", sistema pelo qual os bancos podem emprestar dez vezes mais do que o valor efetivo de suas reservas.

Naquele então, o deputado Charles Lindbergh pressagiava: "As pessoas podem não perceber imediatamente, mas a verdade virá à tona no futuro. O pior crime legislativo da História está sendo perpetrado por essa lei dos banqueiros".

A "crise imobiliária", que já arrancou de suas casas hipotecadas 1 milhão e 200 mil norte-americanos, é o abuso do sistema financeiro e a consciência da impunidade levados às últimas conseqüências.

O governo Bush já destinou U$ 700 bilhões para socorrer os bancos e seguradoras. A conta, no entanto, poderá chegar a U$ 2 trilhões, tendo como pano de fundo o aumento da pobreza não socorrida, do desemprego e do padrão salarial. Hoje mais de 37 milhões de trabalhadores ganham menos do que o salário mínimo de U$ 857,00. E 650 mil postos de trabalho foram fechados nos últimos 10 meses.

Obama é menor do que o sistema, mas este treme com a crise que expõe suas próprias vísceras apodrecidas. Se for o escolhido por uma fatalidade histórica, porque a cruz pede um verdadeiro "enviado de Deus", terá as condições para repensar o próprio modelo econômico falido, reposicionar o país no contexto internacional e cair na real.

Resta saber se terá determinação e coragem. E se o sistema empenou de vez, se admite engolir a antítese dos seus branquelos de olhos azuis e reconhecer o "declínio americano" detectado pelo especialista em relações internacionais Francis Fukuyama ou o "mundo pós-americano", referido por seu colega Fareed Zakaria.

Resta saber até mesmo se as urnas vão confirmar as expectativas gerais. Afinal, em 1963, não faz muito, o racismo era Lei em muitos Estados e prática em quase todo o país dos arrogantes "donos do mundo".
Fonte: Tribuna da Imprensa.

Um comentário:

@bloggerbrasilis disse...

Tudo bem? Seu blog tem artigos muito esclarecedores. Estarei sempre lendo para ver outra versão dos fatos,pois a nossa imprensa,em sua maioria esmagadora, é profundamente anti-petista. Entre os sites que tem tido uma posição sempre em defesa do governo e da esquerda, destaco a Carta Maior, Fazendo Media e Nova Economia.Postei um link no The Blogger (http://luishipolito.wordpress.com). Um abraço e sucesso!