terça-feira, 28 de outubro de 2008

SAÚDE - Riscos da fitoterapia.

Receitas caseiras.

Saiba quais são os riscos das ervas medicinais

Vívian Lima e Hélton Souza

Chá para acalmar, emagrecer, aliviar a má digestão. Apesar de antigas e tradicionais, algumas receitas caseiras feitas com ervas podem esconder armadilhas e transformar a busca pela cura em um problema. Os perigos, apontam médicos e farmacêuticos, vão desde a ingestão de bebida feita com a planta errada (pela confusão na hora de identificar a erva) a problemas graves de intoxicação que podem, por exemplo, lesionar e provocar câncer no fígado. Os remédios caseiros também podem mascarar alguns problemas de saúde, explica o médico e acupunturista, João Bosco Guerreiro da Silva. “Uma pessoa com dor de estômago toma um chá e melhora. Amanhã, a dor volta e ela toma o chá novamente. Isso alivia e mascara sintomas e a pessoa não tem um diagnóstico. E, de repente, pode ser um caso de câncer no estômago.”

A variação no nome das ervas de uma região para outra também pode trazer prejuízos. Saber qual parte da planta deve ser usada na receita é outro problema. E o desconhecimento se transforma em cilada. “A buchinha do norte, que as pessoas fazem chá e pingam no nariz, pode ser extremamente tóxica e lesiva”, diz o médico.

A farmacêutica Juliana de Oliveira Borges, da Bionatus Laboratório Botânico, de Rio Preto, explica que o confrei, substância com poder cicatrizante, é indicado para uso externo. Contudo, se for ingerido, tem substâncias tóxicas para o fígado. “Pode levar ao câncer em pouco tempo de uso.”

Para o médico Carlos Caldeira Mendes, coordenador do Centro de Intoxicação do Hospital de Base (HB), a regra geral é não se usar plantas sem saber exatamente suas propriedades. “As pessoas pensam que o fato de ser natural não representa risco.” Ele explica que, ao colher um planta ou comprá-la, a pessoa não sabe ao certo em que condições a erva foi cultivada nem o teor de princípio ativo que ela contém. “Se não fizer mal, o benefício pode ser pequeno ou inexistente.”

O médico João Bosco Guerreiro da Silva diz que não é contra o conhecimento popular e também não nega os benefícios trazidos pelas plantas. Mas para ele, é preciso buscar medicamentos seguros. O médico é a favor dos medicamentos fitoterápicos, que são obtidos empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. Esses medicamentos são produzidos em indústrias farmacêuticas com extratos vegetais padronizados, o mesmo teor de princípio ativo em todos os lotes e atendendo exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanirária (Anvisa). “Queremos produtos de qualidade vindo das plantas.”

Jovem usa garrafada em aborto

A confirmação de uma gravidez não planejada fez com que a estudante V.G.C.S, 21, tomasse chá de ervas, mais conhecido como garrafada, para abortar. Ela conta que pagou R$ 18 e conseguiu o produto com ajuda de uma amiga. “Tive muito medo de passar mal e até de morrer, mas preferi arriscar porque não queria ser mãe agora.” Segundo a garota, a garrafada “foi tiro e queda”.

Após tomar três copos da mistura de ervas, ela diz que passou muito mal e teve diversas contrações. A dor, conta ela, era insuportável. “Eu não podia reclamar, não podia nem ao menos chamar minha mãe. Tive que suportar tudo sozinha”. Foram quase duas horas de sofrimento.A estudante lembra que, pouco antes de abortar, teve a sensação de que o estômago queimava. “É muito louco, eu sei, mas não desejei ser mãe. Sou capaz até de acreditar que as dores que eu senti são menores que a de um parto”.

O aborto, segundo a garota, aconteceu no banheiro de sua casa. Ninguém da família estava no momento. Agora, 11 meses depois, a estudante afirma que não sente mais nada e que não ficou com nenhuma seqüela. “Não sei se me arrependo, porque agi consciente. Talvez eu me arrependa de não ter transado com meu namorado com camisinha, mas de ter abortado acho que não”, afirma. Os médicos condenam esse tipo de atitude e alertam que os riscos para a saúde são grandes.

Antônio Gonçalves diz que venda cresceu 50%

Mercadão: 170 tipos de produtos naturais Em um pequeno espaço no Mercado Municipal, o comerciante Antônio José Gonçalves, 42, vende produtos naturais há 18 anos. Segundo ele, são mais de 170 tipos de ervas medicinais, embaladas de acordo com o registro da Vigilância Sanitária. Cada pacote custa de R$ 1,75 a R$ 6. De acordo com Gonçalves, a procura por medicamentos naturais aumentou cerca de 50% nos últimos quatro anos.

Pessoas de todas as idades recorrem aos chás para curar diversos tipos de patologia. “Tem gente que vem até com receita médica, outros por indicação de um amigo, que tomou o chá e percebeu melhora.” O comerciante reforça a necessidade de cautela na ingestão dos chás. Se não houver uma dosagem moderada, o efeito será o inverso do esperado. “Muitos estudos já provaram a eficácia de algumas ervas, mas tem que tomar cuidado. Alguns clientes são preocupados, se informam, mas outros não ligam”, diz.

Entre as mais procuradas estão a erva-cidreira, usada como calmante, e a camomila, para problemas digestivos. Também estão entre as preferidas a unha-de-gato, que age como antiinflamatório nas articulações, e cavalinha, usada no tratamento dos rins. Para o comerciante, as ervas têm um poder de cura e de prevenção de doenças. “Mas muito da confiança nas ervas vem da tradição. Todo mundo conhece alguém da família que faz chá, que tem sua receita caseira para curar tosse e gripe, por exemplo. É algo que vem de casa”, afirma.

Gonçalves é formado em educação física, com pós-graduado em fisiologia. Ele conta que estudou três anos de farmácia, mas preferiu deixar o curso. Agora pretende estudar nutrição, pois é uma área que tem mais a ver com seu negócio. Sem freqüentar curso para entender as ervas medicinas, Gonçalves atribui seus conhecimentos aos anos de experiência.Do caseiro ao científico

Muitas das ervas medicinais usadas pela população sem prescrição foram parar nas indústrias farmacêuticas que trabalham com medicamentos fitoterápicos, feitos exclusivamente com matérias-primas ativas vegetais. Apesar de as ervas e plantas serem as mesmas das receitas caseiras, no laboratório os medicamentos ganham a dosagem indicada para o efeito terapêutico.

Pesquisas apontam para a concentração exata de princípios ativos, necessária para que o medicamento faça efeito e não ofereça risco de toxidade. “Isso envolve tecnologia de ponta. As empresas produzem extratos vegetais padronizados, com o mesmo teor de princípio ativo em todos os lotes”, explica Enzo Velani, diretor da Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa) e diretor da Bionatus Laboratório Botânico, de Rio Preto.Segundo ele, entre os benefícios dos fitoterápicos estão os baixos índices de reações adversas e efeitos colaterais. Isso não significa que os produtos podem ser consumidos de forma indiscriminada. “Temos bula com as recomendações de uso.”

De acordo com Velani, para se obter o registro de um produto junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é preciso qualificar o produtor de matéria-prima, fazer testes com o princípio ativo e testes de estabilidade, para verificar quanto tempo o produto agüenta na prateleira sem sofrer alterações de eficácia. Existem registrados na Anvisa 432 fitoterápicos simples (obtidos de derivados de apenas uma espécie vegetal) e 80 compostos. E os números podem crescer. “Na Alemanha, 40% de toda cadeira farmacêutica é representada pelo segmento fitoterápico. No Brasil são 2%”, diz Velani.

Fito no SUS

A Secretaria de Saúde de Rio Preto vai introduzir três fitoterápicos na rede. A compra dos medicamentos já começou. Os profissionais da foram capacitados na semana passada, já que a distribuição será feita sob prescrição médica. A Secretaria vai comprar a valeriana, usada como calmante leve e para insônia; a espinheira-santa, contra úlceras e gastrite; e guaco, um antitussígeno e expectorante. Ainda não há data precisa para o início da distribuição dos fitoterápicos.


‘Eu acredito no poder do chá’, diz AricléiaPelo menos uma vez por mês a dona-de-casa Aricléia Domingos Mathias, 46, compra dois pacotes de cavalinha para fazer chá. Ela tem uma disfunção no sistema renal e, toda vez que sente dores, recorre à erva. “Acredito no poder do chá, ainda mais porque toda vez que tomo eu fico boa. Nenhum remédio de farmácia faz o efeito que ela (erva) faz”, conta. Aricléia diz que tem a receita na cabeça e que sempre que ouve algum amigo ou parente reclamando de dores nos rins, recomenda o uso de cavalinha no tratamento. “Não é só por que acredito que eu uso, mas é porque faz efeito. Sou prova viva disso”, brinca.

A aposentada Josefina Fernandes Castagnoli, 83, prefere manter uma horta no quintal de casa. “Tenho muitas ervas, desde hortelã, alecrim, alfavaca, guaco, manjericão, babosa, erva-cidreira e gengibre.” Ela diz que aprendeu com a mãe a fazer alguns chás e que a tradição deve ser mantida.Para curar a gripe, Josefina diz que a solução é tomar chá de guaco. Para estômago, a receita é carqueja e alecrim. “A gente vai aprendendo e utilizando aquilo que tem no quintal.Prefiro os chás naturais do que os remédios de laboratório. São caros e pouco fazem efeito”, explica.

Segundo a aposentada Loudes Apparecida Picinini Manzanares, 75 anos, a melissa que cultiva em casa serve para fazer chá e garantir boas noites de sono. “Para insônia e ansiedade, a melissa, para mim, dá certo.” Ela diz que também já tomou chá de sene para problemas intestinais e aliviou mal-estar estomacal também com ajuda das plantas. “A espinheira-santa para o estômago é uma beleza.” Dona Lourdes opta pelas ervas conhecidas. “Não é qualquer chá que vou tomando, não. O desconhecido eu não quero. Só tenho plantinha que eu conheço.”

A aposentada Benedita Coelho, 68 anos, acredita no poder da arruda e do alecrim. “Ferve a água e abafa. Pode ser usado para dor de cabeça, cólica menstrual e ansiedade.” Para ela, as ervas não trazem prejuízos. “Não faz mal.”

AS ERVAS:

GINKGO
Uso: melhora memória e casos de vertigem Motivos de atenção: algumas pessoas são alérgicas, tendo reações como coceira e vermelhidão na pele.

CONFREI
Uso: cicatrizante para uso externo Precaução: em caso de ingestão, substâncias tóxicas podem atacar o fígado e provocar câncer no órgão.

ARNICA
Uso: antiinflamatório para uso externo (em forma de gel, pomada) Precaução: pode causar intoxicação se ingerido em grande quantidade

BOLDO
Uso: atua no aparelho digestivo, estimulando a produção e eliminação da bile, substância que age na digestão de gordura Precaução: o boldo usado nos medicamentos fitoterápicos (Peumus boldos) não é nativo do Brasil; os presentes na região podem apresentar alguns efeitos terapêuticos, porém não há estudos detalhados sobre eles

PATA-DE-VACA
Uso: redução do nível de glicose no sangue Precaução: leigos podem se confundir na identificação da erva já que suas folhas são parecidas com outras plantas. Anvisa ainda não autoriza fabricação de medicamentos com essa espécie

CHAPÉU-DE-COURO
Uso: como diurético e para reumatismo Precaução: não há estudos conclusivos sobre a planta, que ainda não está inserida na indústria farmacêutica de fitoterápicos.
Fonte:Blog Reviver Saúde Holística.

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