sexta-feira, 26 de setembro de 2008

IRAQUE - Mercenários miseráveis.

Todos nos lembramos da cena em que Michael Moore – em um simples exercício brechtiano – tenta fazer com que parlamentares estadunidenses aceitem alistar seus filhos para irem lutar na guerra que eles mesmos aprovaram – a invasão do Iraque – e constata que apenas um de todos eles tinha um filho no serviço militar. E diante da pergunta sobre quem, então, faz a guerra em nome deles, conhecemos as cenas da massa de negros pobres que buscam na guerra uma forma de emprego que os outros mecanismos da sociedade norte-americana não lhes propiciam.


Mas há outro tipo de gente que vai fazer a guerra em nome do Império de que são vítimas privilegiadas. Neste mês um grupo de 40 salvadorenhos, a maioria ex-militares, partem para o Iraque e o Afeganistão, para executar missões de segurança privada em nome da empresa Blackwater. O treinamento foi feito nas instalações do Centro de Apoio às Transmissões das Forças Armadas (CATFA), seguido de um duro treinamento militar na base de Moyock, na Carolina do Norte, campo de treinamento da Blackwater, empresa que fornece serviços de segurança privada para o Departamento de Estado dos EUA. Os selecionados receberam um prêmio de 500 dólares, os outros foram mandados de volta para suas casas.

As informações, publicadas pelo jornal salvadorenho El Diario de Hoy, afirmam que, embora suas missões sejam consideradas de “extremo perigo”, seus salários são insignificantes: os que vão para o Afeganistão receberão 50 dólares por dia, enquanto que os vão para o Iraque receberão 34 dólares diários.

Um major salvadorenho aposentado, um dos responsáveis pelo recrutamento e a seleção do pessoal, dirigirá o grupo de 30 que se dirigem para o Afeganistão. Os dez que seguem para o Iraque serão dirigidos por uma capitã aposentada, que já fez duas vezes esse serviço.

A Central America Professional Service (CAPROS), a empresa local responsável pelo recrutamento dos salvadorenhos, pertence a um antigo empregado de banco, Marcos Alberto Chávez Castillo, e a um coronel aposentado, Juan Emilio Velasco Alfaro. Ela sub-contrata pessoal para a empresa Greystone Ltda., filial internacional da Blackwater, que fornece , por milhões de dólares de contratos com o Departamento de Estado dos EUA, milhares de mercenários para a guerra do Iraque. Os salvadorenhos não assinam nenhum contrato com a Blackwater, quem os contrata é a CAPROS.

Segundo alguns dos contratados, esta empresa recebe 4.600 dólares mensais por cada militar recrutado. As condições dos contratos são leoninas: elas liberam a CAPROS de qualquer responsabilidade em acidentes que possam sofrer os contratados, este assumindo de forma “explícita” e “voluntária” todos os riscos dos danos pessoais – incluindo a morte ou a invalidez – resultantes das missões. Em outra cláusula, os contratados se comprometem a não mover nenhum tipo de ação judicial contra a CAPROS, assim como nenhum parente seu possa fazê-lo em seu nome. Não há nenhum tipo de relação de trabalho entre os contratados e a CAPROS, aqueles agindo por sua própria conta, segundo os contratos.

Além disso, nenhum deles pode revelar nenhum tipo de informação sobre seu trabalho e a empresa com a qual assinaram contrato. Os contratos são submetidos à assinatura apenas na véspera da partida dos militares, sem sequer tempo para que possam questioná-lo em pelo menos algum de seus itens.

Não bastasse tudo isso, o jornal salvadorenho ainda descobriu que essa empresa privada a serviço do Departamento de Estado dos EUA, utiliza fuzis M-16 e instalações do governo de El Salvador. Diante de vínculos carnais como esse – não bastasse a dolarização da economia do país -, ganha ainda mais importância a eleição presidencial de abril de 2009, em que o candidato da FMLN, Mauricio Funes, aparece como favorito.

Postado por Emir Sader

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