terça-feira, 30 de setembro de 2008

IMIGRAÇÃO - Europa: crime de imigração, exceto para os qualificados.

As portas da Europa seguirão abertas para os "qualificados", mas os ilegais serão perseguidos como criminosos. Em 2012 serão implantados os vistos com informação biométrica e o registro eletrônico de entradas e saídas, instrumentos que comprovarão a estada ilegal e servirão para instruir os processos de detenção de pessoas por "crime de imigração".

Carol Proner

A Europa insiste em suas metas de fortalecimento interno, auto-defesa e agressividade econômica não obstante a frustração de não aprovar a "Constituição Européia" via plebiscito e malgrados os recentes entraves para a aprovação do Tratado de Lisboa. Em plena crise econômica mundial, atribui a responsabilidade aos bancos, ao sistema financeiro internacional e também aos imigrantes.O tema da imigração deixa de ser polêmico para os representantes europeus que, em consenso, aprovam políticas e princípios de endurecimento à imigração alegando motivos humanitários e econômicos. Curiosamente a população européia cresceu 0,48% em 2007, chegando a 497,5 milhões de habitantes e quatro quintos desse crescimento se deve aos imigrantes. A Europa recupera seu déficit populacional e projeta-se ao futuro graças a essa população que, ironicamente, recebe a conta pela crise. A chamada "Diretiva do Retorno", aprovada no primeiro semestre deste ano, revela-se uma verdadeira lei de expulsão dos imigrantes, violando direitos fundamentais consagrados em pactos internacionais e contrariando os avanços em matéria de direitos humanos dentro do sistema europeu. Também chamada de Diretiva da Deportação ou da Vergonha, a normativa estabelece, em última instância, a criminalização da imigração e enseja indignação e revolta por parte dos governantes latino-americanos e africanos.Como medidas complementares e igualmente xenófobas, nessa quinta-feira, dia 25 de setembro, o Conselho de Ministros da União Européia (EU) aprovou formalmente o Pacto Europeu de Imigração, tomando como referência a política sobre imigração desenvolvida por Nicolas Sarkozy na França e que tem como mote "endurecer a luta contra a imigração ilegal e promover a imigração legal". O documento ainda precisa ser ratificado na Cúpula de líderes da EU em 15 e 16 de outubro.O texto final do Pacto possui cinco eixos principais: 1) a necessidade de organizar a imigração legal de acordo com as prioridades e necessidades da Europa; 2) o combate à imigração irregular e a expulsão dos irregulares (segundo o Conselho, mais de oito milhões de pessoas); 3) o fortalecimento do controle das fronteiras; 4) a construção de um sistema de asilo equilibrado entre os países do bloco; 5) e o aumento de colaboração global para com os países de origem. Cada Estado-membro deverá levar em conta o resto do bloco ao aprovar suas políticas no assunto e cada regularização deverá ser feita caso a caso (exemplificando com os matrimônios de conveniência), evitando decisões gerais no marco das legislações nacionais.Para atender o critério de prioridade e necessidade da Europa, os ministros do Trabalho e do Interior da EU ultimaram um acordo para criar o blue card, um instrumento que seleciona imigrantes de alta qualificação à semelhança do green card estadunidense. Os requisitos para a obtenção do blue card incluem cinco anos de experiência profissional, exigência de um diploma ou título equivalente e a necessidade de contratação com salário mínimo superior a 1,5 vezes o salário médio do país receptor, o que no caso da Espanha ultrapassa os 33.000 euros brutos anuais. A condição de imigração qualificada será válida por um período entre um a quatro anos e os titulares terão praticamente os mesmos direitos que os trabalhadores europeus.As portas da Europa seguirão abertas para os "qualificados", mas os ilegais serão perseguidos como criminosos que ameaçam o crescimento equilibrado do continente. No início de 2012 serão implantados os vistos com informação biométrica e o registro eletrônico de entradas e saídas, instrumentos que comprovarão a estada ilegal e servirão para instruir os processos de detenção de pessoas por "crime de imigração".As medidas deixam de ser enunciado de princípios e objetivam critérios que passarão a ter validade em poucos anos, trazendo conseqüências inéditas não apenas para os imigrantes irregulares, que serão expulsos, mas também para a relação de política externa da Europa com o resto do mundo, ensejando naturalmente o princípio da reciprocidade.
Carol Proner é professora de Direito Internacional da UniBrasil.
Fonte: Agência Carta Maior.

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