sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ELEIÇÕES AMERICANAS - O brilho fugaz da estrela Sarah Palin.


O último truque eleitoral dos estrategistas do candidato republicano Joe McCain foi a suspensão abrupta da campanha - e do debate - a pretexto de viajar à capital para um “esforço patriótico” destinado a socorrer a economia americana. Ainda é cedo para saber se conseguirá socorrer não a economia, mas a própria chapa republicana, que despencou nas várias pesquisas divulgadas quarta-feira à noite.

As mágicas anteriores - a escolha da governadora Sarah Palin para vice da chapa e o adiamento por dois dias da convenção nacional republicana - deram resultado apenas momentâneo. O impacto das duas injeções de ânimo desfez-se logo, sem que surgisse algum truque novo. Ao mesmo tempo, a campanha parece sem saber o que fazer para reabilitar a imagem em declínio da vice Palin.

Até agora ela não foi capaz de submeter-se a uma única entrevista coletiva, ainda que tenha falado de forma limitada e não ortodoxa a dois âncoras, Charlie Gibson da ABC e Katie Couric da CBS, e a um talk show da Fox News cujo apresentador, Sean Hannity, parece mais cheerleader de causas republicanas e conselheiro da campanha McCain-Palin do que jornalista.

Quando responderá a perguntas?

Mesmo jornalistas de veículos simpáticos à chapa republicana, como é o caso do New York Post (que já proclamou o apoio a McCain) e da Fox News, queixam-se do esforço ostensivo para impedir o acesso da mídia a Palin. Foi o caso, por exemplo, de Chris Wallace, que há dois domingos perguntou a Rick Davis, chefe da campanha de McCain, por que nem seu programa “Fox News Sunday” pode entrevistá-la.

Wallace encurralou Davis com sucessivas perguntas. “Até hoje Palin não respondeu a uma única pergunta da mídia nacional. Quando vai concordar em dar uma entrevista normal?” “Ela está com medo de responder a perguntas?” “Há perguntas legítimas sobre as qualificações dela para ser comandante em chefe. Se não respondeu na semana passada, por que não esta semana?”

Quando Davis disse que ela “terá oportunidade de falar ao povo americano” e que tinha falado a 40 milhões na convenção, Wallace observou: “Na convenção o que fez foi ler um texto ensaiado, não estava respondendo a perguntas”. O chefe da campanha ficou irritado: “Não cabe à mídia fazer a agenda dela. (…) Palin estará à disposição da mídia quando e se decidirmos que deve ser esse o caso”. (Clique na imagem abaixo para outro confronto de Wallace com Davis, na mesma entrevista)

Ficou claro naquele domingo, 7 de setembro, que a campanha republicana busca uma maneira singular de usar a candidata, “quando e se decidirmos que deve ser o caso”. Ou seja, ela só fala em condições especiais para pessoas especiais, amigas e aliadas. Fora disso, fica limitada aos factóides produzidos pela campanha. Como os encontros com governantes estrangeiros submissos ao governo Bush, no período da Assembléia Geral da ONU.

Perdendo o fio da meada

Em Nova York, ela ficou sob rigorosa proteção contra jornalistas, levada a reuniões com chefes de governos dependentes dos EUA como se fossem colônias - Hamid Karzai do Afeganistão, Ávaro Uribe da Colômbia, líderes do Iraque, Georgia, Ucrânia. Tudo para parecer que está familiarizada com política externa, embora só tenha saído dos EUA uma vez - para visitar tropas americanas no Iraque.

A mídia tem sido discreta, mas no Washington Post o colunista Howard Kurtz já ridicularizou a situação: ela disse a Couric, da CBS, que McCain vai reformar Wall Street “para nos salvar de outra Grande Depressão”; e ao ser pressionada a citar exemplos do que McCain pode fazer para reformar o setor dos bancos, perdeu o fio da meada. “Vou tentar descobrir, depois volto a falar com você”, disse (leia AQUI, na íntegra, a coluna de Kurtz).

Desde que Palin foi escolhida para vice da chapa, explicou Kurtz, o vice do democrata Barack Obama, Joe Biden, já deu quatro grandes entrevistas coletivas, além de nada menos de 89 exclusivas a redes como NBC e CBS e jornais como o Washington Post. Daí porque a jornalista Campbell Brown, da CNN, está considerando “sem precedentes” a atual situação atual de Palin.

Segundo Kurtz, Brown disse ainda numa entrevista: “como jornalista, meu trabalho é buscar a verdade, entender quem é essa mulher, o que ela pensa, se é qualificada para ser vice-presidente (…). Se ela fosse homem, deixariam que fizesse isso o que está fazendo? A campanha a trataria dessa forma, com tanta indulgência e superproteção, sempre buscando o meio de driblar a imprensa?”

Mais restrições do que Bush

Uma desculpa esfarrapada da campanha é de que Palin tem sido maltrada na mídia. Terça-feira, na hora da reunião com Hamid Karzai, jornalistas foram avisados de que só cinegrafistas entrariam, para fazer um minuto de imagens; não seria permitido gritar perguntas. Isso levou a rede CBS a concluir que “as regras de acesso a Palin são mais restritivas do que as de Bush para reuniões na Casa Branca”.

No reunião com Karzai, o pessoal da campanha recuou quando a CNN - que passaria imagens às outras - ameaçou tirar a equipe: o produtor pôde então ficar 29 segundos, sem conseguir ouvir a voz de Palin. Com os líderes da Georgia e Ucrânia, ela estava ao lado de McCain, mas um repórter fez a pergunta a Palin: “O que aprendeu nessa reuniões?” Foi quando um assessor entrou e retirou todos os jornalistas da sala.

Sempre haverá capas de revista para receber Palin - como Vogue (a do alto é montagem de um site de humor, mas leia AQUI a reportagem de Vogue quando ela ainda era apenas governadora) e a US Weekly (abaixo, verdadeira). Será que isso basta? A julgar pelo comportamento das autoridades maiores da campanha de McCain, ela continua despreparada para responder perguntas. Michael Goldfarb, porta-voz de McCain, disse que Palin dará mais entrevistas “e pelo menos uma coletiva antes do dia da eleição”. Mas parece mais provável que prevaleça o dito antes pelo chefe dele, Davis: “Ela estará à disposição da mídia quando e se decidirmos que deve ser esse o caso”.


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