quinta-feira, 31 de julho de 2008

MÍDIA - Conferência americana de reforma da mídia.

Por Simone Delgado, jornalista*

Mais de 3.500 jornalistas, ativistas da mídia, acadêmicos
e cidadãos preocupados com a estado da mídia estiveram reunidos em Minneapolis, no
estado de Minnesota, para a 4ª Conferência Nacional pela Reforma da Mídia (3 a 6 de junho). O evento foi promovido pela maior organização de reforma de mídia dos Estados
Unidos - a Free Press -, fundada pelo acadêmico Robert McChesney e que hoje
conta com meio milhão de ativistas lutando por uma mídia que reflita os
anseios da sociedade, e não os interesses dos governos e das grandes
corporações.

Ainda tento assimilar a quantidade de informações de alguns dos 75 painéis,
workshops e filmes à disposição no Centro de Convenções de Minneapolis, onde
o evento foi realizado com o tema "Media Reform Begins With Me".

Em workshops como "Mídia e Eleições", "Futuro da Internet", "Mídia e
Democracia", "Reforma da Mídia e Mudança Social" e "Analisando e
Desconstruindo a Mídia" foram levantadas questões importantes sobre a
necessidade e confirmação de que uma outra mídia é possível - um sistema de
mídia baseado nos valores de justiça e democracia. Para isso, todos
concordam, a mídia deve ser livre e diversificada, em oposição ao que vem
sendo apresentado pela imprensa corporativa norte-americana, principalmente
na cobertura vergonhosa da invasão do Iraque.

A luta é de cada um

Num dos painéis de discussão mais disputados não só pelo tema - "Mídia e a
Guerra" -, mas pela garra de um dos jornalistas mais progressistas do país,
Naomi Klein (The Guardian, The Nation e autora do livro The Shock Doctrine)
criticou a cobertura de guerra feita pela imprensa norte-americana dizendo
que a invasão do Iraque simplesmente sumiu dos noticiários por conta do
interesse em jogo na campanha pelas eleições presidenciais.

Amy Goodman, âncora do programa de TV Democracy Now, onde quer que vá sempre
emociona o público quando analisa o estado da mídia com seu tom de voz
afiado e seguro. "Se, por uma semana, as imagens das atrocidades de guerra,
como crianças mutiladas, fossem exibidas na televisão, essa guerra já teria
terminado porque o povo norte-americano tem compaixão."

Mas foi o lendário jornalista Bill Moyers (Bill Moyers Journal, da PBS) que
eletrizou uma audiência ávida por mudanças na maneira como a mídia
representa a sociedade norte-americana. Disse que a reforma da mídia é o
movimento mais importante da história do país depois do movimento pelos
direitos civis. Criticou ferozmente a consolidação dos meios de comunicação
e não deixou de mencionar o Iraque: "Nós tínhamos que ter sabido a verdade
sobre o Iraque para evitar a destruição daquele país, a morte de milhares de
civis e ter salvado bilhões de dólares para investimentos na economia
norte-americana" . Moyers encerrou enfatizando que a luta pela democracia e
por uma mídia mais justa é de cada um de nós, cidadãos do mundo.

As decisões do dia-a-dia

Apesar de todo o entusiasmo e das mensagens inspiradoras dos palestrantes,
faltou um debate mais aprofundado sobre a necessidade de integração do
movimento de reforma da mídia com outros países. A jornalista Naomi Klein
citou rapidamente a América Latina como exemplo de luta contra o
neoliberalismo e mencionou uma agenda de integração.

Fica o recado para quem já voltou para casa: a luta é nossa e não podemos
esperar pelos governos e pelas corporações. Como diz Amy Goodman, "todos os
dias nós acordamos e temos uma série de decisões a serem tomadas. Temos que
ter consciência que as nossas decisões podem influenciar o mundo".
Fonte: Observatório da Comunicação, originalmente com o título "A reforma começa comigo"

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