quarta-feira, 30 de julho de 2008

CRISE AMERICANA - Más notícias e corridas bancárias.

por Mike Whitney [*]

. A administração Bush vai enviar mais cheques de "estímulo" no futuro próximo. Simplesmente não há meio de contornar isto. O Fed está em apuros e não pode reduzir taxas de juros por medo de que os preços dos alimentos e da energia disparem para a estratosfera. Ao mesmo tempo, a economia está a encolher mais depressa do que alguém julgaria possível e sem sinais de retomada. Isto deixa os cheques de estímulo como o único meio de "premir a bomba" e manter o consumidor a continuar a gastar. Do contrário a actividade dos negócios ficaerá de rastos e a economia afundará. Não há outra opção.

A barragem diária de más notícias começa realmente a atingir os nervos das pessoas; isto é óbvio em todo o lado que se olhe. A maior parte das tagarelices da TV já eliminou a previsões bem humoradas sobre o mercado de acções e ninguém mais está a louvar o "impressionante poder do mercado livre". Eles sabem que as coisas estão más, realmente más. Eis porque o noticiário de negócios já não é apresentado como uma despreocupada produção artística de Bollywood com mulheres ondulantes e música exótica. Agora é mais como um filme de horror da classe B onde toda a gente acaba morta no fim.

Um difuso sentimento de melancolia ronda os estúdios de televisão assim como as bolsas de valores e os luxuosos apartamentos de cobertura no West End de Manhattan. É palpável. Este mesmo pressentimento agourento está a subir como uma nuvem nociva em todas as cidades do país. Toda a gente está a cortar o não essencial e a aparar a gordura do orçamento familiar. Os dias dos extravagantes gastos por impulso nos centros comerciais estão ultrapassados. Assim como as compras de grandes bilhetes aéreos e as viagens à Europa. A confiança do consumidor está numa baixa histórica, o rendimento disponível é uma coisa do passado, e os cartões de crédito estão no seu limite.

Nos últimos três meses o crédito bancário encolheu de forma mais rápida do que em qualquer momento desde 1948. Os bancos não estão a conceder empréstimos e as pessoas não estão a tomar emprestado. Isto é uma combinação letal. Quando a criação de crédito enfraquece, a economia claudica, o desemprego ascende e o índice de miséria sobe. Eis porque Bush despachará uma nova fornada de cheques de estímulo quer queira quer não. Está de costas contra a parede.

Na sexta-feira, depois de o mercado ter encerrado, o FDIC fechou mais dois bancos, o First Heritage Bank e o First National Bank. Duas semanas antes, os reguladores haviam tomado o controle do Indymac Bancorp a seguir a uma corrida de depositantes. O FDIC agora opera como uma unidade paramilitar invisível, posicionando suas tropas de choque nos fins de semana para fazer o seu trabalho sujo fora das vistas do público e em momentos que afectem em menor grau o mercado de acções. As razões para isto são óbvias; só há uma coisa que o governo odeia mais do que ver caixões mortuários com a bandeira estrelada nos noticiários da noite: é ver longas filas de pessoas desvairadas a esperarem impacientemente a fim de obter o que resta das suas poupanças no seu banco agora defunto. Filas nos bancos indicam quebra do sistema.

Corridas bancárias constituem um choque para a psique colectiva. Quando depositantes vêm uma corrida a um banco percebem que o seu dinheiro não está seguro. As pessoas não são loucas; elas podem suspeitar de trapaças. Quando a sua confiança se desvanece, isto estende-se a todo o sistema. Subitamente elas começam a questionar tudo o que outrora davam por garantido. Tornam-se cépticas quanto a instituições que, apenas uns poucos dias antes, pareciam rocha sólida.

Corridas bancárias são um impacto directo aos fundamentos do sistema de mercado livre. Não controlados, os tremores podem estender-se através de toda a sociedade e desencadear violentos levantamentos políticos, mesmo a revolução. O público pode não apreender o seu pleno significado, mas toda a gente em Washington está a prestar atenção. Eles consideram isto seriamente, muito seriamente.

Um artigo no San Francisco Business Times disse que a FDIC está preocupada acerca da divulgação de informação nos blogs da Internet. Eles prefeririam manter fora dos noticiários a informação acerca das perturbações no sistema bancário. Sheila Bar, presidente da Federal Deposit Insurance Corp., após a corrida ao Indymac resumiu as coisas assim:

"Os blogs estavam um bocado fora de controle. Estamos muito atentos à cobertura dos media e dos blogs no controle da desinformação. Tudo o que posso dizer é que vamos continuar à frente disto. A desinformação que veio à tona no fim de semana alimentou um bocado de medos entre os depositantes".

Será isto uma ameaça? A cura para um sistema bancário fracassado é capital adequado e supervisão prudente, não ameaças a críticos imparciais do sistema. Isso é asneira. A comissária Blair aparentemente acredita que os bloggers deveriam ser tratados do mesmo modo que os jornalistas no Iraque, os quais, se se desviarem mesmo ligeiramente do roteiro que diz "o incremento (surge) é um grande triunfo"m do Pentágono, encontrará a ponta enfumarada de um M-16 em algum não identificado posto de controle fora de Baquba.

Domingo passado, o secretário do Tesouro Henry Paulson tentou tranquilizar o público dizendo que o sistema bancário é saudável, enquanto prevenia o povo de mais perturbações pela frente:

"Penso que isto se prolongará por meses e que estamos a trabalhar a nossa saída ao longo deste período – claramente de meses. Mas, mais uma vez, é um sistema bancário seguro, um sistema bancário saudável. Nossos reguladores estão em cima disto. Trata-se de uma situação muito administrável".

Paulson está errado; o sistema bancário não é saudável nem está bem capitalizado.

Se a taxa de encerramentos de bancos continuar ao ritmo actual, em meados de 2009 haverá restrições a retiradas [de depósitos]. Pode-se apostar nisto.

Assim, enquanto o seu banco ainda tem dinheiro e pode processar os seus cheques, pode ser altura de liquidar dívidas, pagar impostos trimestrais e prestações de hipotecas em avanço, e pensar em ter dinheiro fora dos bancos (ouro, divisas estrangeiras), etc, antes que o seu dinheiro fique inacessível ou mesmo que se evapore! Não pense que todos os seus investimentos fora dos bancos estão imunes a esta tempestade. Exemplo: o dinheiro nos mercados de fundos mútuos, onde os americanos investiram US$3 milhões de milhões, não está coberto pelo seguro FDIC (entretanto, contas no mercado monetário oferecidas pelos bancos estão cobertas). Perdas recentes em alguns destes fundos mútuos do mercado monetário levam algumas companhias a apressar-se a arrolhar as perdas. Exemplo: a Legg Mason Inc. e o SunTrust Banks Inc., recentemente bombearam US$1,4 mil milhões cada um para dentro dos seus fundos de mercado monetário. O Bank of America Corp. injectou US$600 milhões.

Quanto às suas contas à ordem e a prazo, perceba que pode ter cinco contas diferentes no mesmo banco, mas o FDIC segura apenas indivíduos, não cada uma das contas, até US$100 mil. Colocar o seu dinheiro em diferentes contas no mesmo banco não proporciona necessariamente melhor garantia para os seus depósitos.
28/Julho/2008
[*] Economista, fergiewhitney@msn.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney07282008.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Nenhum comentário: