quinta-feira, 17 de abril de 2008

Para além do terrorismo mediático.

Este artigo foi retirado do blog português Resistir.

Como se sabe, nos dias de hoje, a arma para derrubar govêrnos é a imprensa golpista. Em 2002 esta arma foi utilizada para derrubar por 48 horas, o Presidente Hugo Chaves. A nossa imprensa golpista vem tentando agora derrubar a Dilma Roussef. O tiro saiu pela culatra, já que a exposição que foi dada à ela, tornou-a ainda mais conhecida como a "mãe" do PAC. As próximas pesquisas deverão confirmar isso.

Para além do terrorismo mediático
por Luis Britto García [*]

Em criança, assistia a uma série do Super-Homem no balcão do cinema Boyacá quando alguém gritou que saia fumo da tela. Centenas de pessoas investiram rumo às portas, apesar de não haver qualquer fumarada.
Numa Sexta-feira Santa, na basílica de Santa Teresa, alguém gritou que uma vela havia incendiado um véu. Houve mortos e centenas de feridos, apesar de não se ter encontrado nenhum trapo chamuscado.
Em 1939 Orson Welles difundiu pela rádio que os marcianos invadiam a Terra. Centenas de milhares de estado-unidenses fugiram em pânico pelas ruas, apesar de nem a polícia nem o exército terem localizado um só extra-terrestre.
Em 2002 George W. Bush jurou que Sadam Hussein acumulava armas de destruição maciça. Para impedi-lo mandou matar mais de um milhão de iraquianos, ainda que de bomba atómica não se tenha encontrado nem o mais mínimo sinal.
Pelo exposto, o leitor verifica que o risco inexistente anunciado pode causar mais danos que o perigo real efectivo. Se o terrorismo for a manipulação de condutas mediante a difusão de ameaças de uma violência ou um dano ilegítimo, o terrorismo é uma operação mediática.
Se o terrorismo for mediático, os media podem ser terroristas. Quando há um terrorismo de Estado, as maiores potências potenciam o maior terrorismo.
Os media representam o terrorista como membro de uma pequena seita que ocasionalmente atenta contra os grande poderes da terra. Ocultam que os grandes poderes da terra são uma seita colossal que se mantém graças ao exercício permanente do terror.
O sector terciário, que ocupa mais de 60 por cento das economias dos países desenvolvidos, compreende indústrias que manejam representações e signos do ponto de vista do gerenciamento do pânico. Finanças e seguros estimulam a poupança como prevenção contra a miséria, moda e cosméticos exploram o horror ao envelhecimento e à solidão; o governo imperial legitima seus atropelos como prevenção contra a agressão interna e externa; a publicidade e as comunicações multiplicam suas mensagens como arautos e panaceias do espanto.
Recordemos que a comunicação global é monopolizada por cinco transnacionais. Tenhamos em conta que os media capitalistas defendem o capitalismo tanto por sua condição de negócio como porque existem graças à publicidade que os negócios lhes proporcionam.
Admitamos que o capitalismo subordina toda consideração de ética e de veracidade ao lucro. Concluamos que os seus media subordinam ao lucro toda consideração de veracidade e de ética.
A primeira operação do terrorismo mediático é a culpabilização da vítima. A grande potência terrorista acusa de terrorista o pequeno país invadido; o Estado terrorista classifica como terrorista o insurgente que lhe resiste; a transnacional saqueadora desestabiliza o governo que não se lhe submete.
Na medida em que as comunicações são indispensáveis para a administração, a economia ou a vida habitual, sua interferência ou utilização ilegítima pode ser terrorista. O corte do sinal da televisão do Estado e sua substituição por mensagens golpistas instaurou a ditadura [na Venezuela] a 11 de Abril de 2002. O corte maciço de telemóveis do 13 de Abril poderia ter sido terrorista.
Na Venezuela os media promovem de forma consistente a anti-política; tentam suplantar os partidos; incitam de maneira pertinaz à discriminação étnica e racial, a guerra civil, o magnicídio e a deposição violenta do governo legítimo; executaram materialmente um golpe de Estado ao cortar as comunicações do governo e apoiar a instauração de uma ditadura; violaram o direito do público à informação ao ocultar com um apagão mediático a recusa popular à autocracia; exortam à desobediência tributária e à destruição da indústria petrolífera e exercem quotidianamente o veto contra notícias e comunicadores.
Em 2 de Dezembro de 2007 o povo votou contra um projecto de Reforma Constitucional que eliminava todo tipo de propriedade, arrebatava as crianças aos pais e instaurava uma ditadura absolutista. Esse falso projecto só existiu nas mensagens dos meios de comunicação privados, o que não impediu que os votos contra ele bloqueassem o projecto real, que ampliava a propriedade, aumentava a protecção à família, fortalecia a democracia.
A informação é uma arma. A arma mediática é a única que pretende actuar acima de toda norma: o terrorismo mediático é a única disputa na qual se supõe que o agredido não tem direito à legítima defesa.
Ao uso ilegítimo de uma arma responde-se com as armas da legitimidade. Para ir mais além do terrorismo mediático requerem-se normas que o penalizem; meios que o contrariem; educação do público e sanção dos infratores.
Na Venezuela as normas tornam obrigatória a informação verídica, oportuna e equilibrada, penalizam a difamação, a injuria, a calúnia e o vilipêndio, e os media de serviço público avançam uma campanha de educação da cidadania. Na Venezuela existe um sistema administrativo e judicial competente para sancionar o terrorismo mediático, mas que não cumpre suas funções.
O terrorismo procura, mais do que causar pânico ou dor na população, infundir-lhe o convencimento de que as autoridades não podem nem prevenir, nem impedir nem emendar um dano anunciado. O terrorismo persegue o assassinato simbólico de uma ordem como prelúdio ao assassinato real dos seus integrantes.
A inércia ou a falta de resposta instila a convicção de que as autoridades estão derrotadas ou perderam a capacidade ou a vontade de defender-se. Quando a população se convence disso, corta-se o vínculo entre governante e governado, e para todos os efeitos o governo deixa de existir.
Governo que não for para além do terrorismo mediático é enviado pelo terrorismo mediático para o além. [*] Narrador, ensaista, dramaturgo, desenhista e explorador submarino. Autor de mais de 60 títulos. Nasceu em Caracas, 1940. O original encontra-se em http://luisbrittogarcia.blogspot.com

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