sexta-feira, 14 de março de 2008

A volúpia jaboriana

No início da década de 60, reuníamos nós ,que alguém nomeou de esquerda festiva, no Bar Jangadeiros, situado na praça General Osório. Dessa forma,tinhamos sempre a presença do Arnaldo Jabor, pessoa extremamente inteligente, e que gostava de se passar por um intelectual de esquerda. Mas o mundo dá muitas voltas e hoje, quem diria, este cidadão é o mais lídimo representante daquela, bem qualificada ,pelo Chico Buarque,direita alegre e raivosa. Só falta agora êle escrever na Veja.

O Artigo abaixo do Miguel do Rosário, é um texto interessante sobre o Jabor.

A volúpia jaboriana


Arnaldo Jabor é um hábil manipulador das palavras. Para ser um bom escritor, no entanto, é preciso caráter. Seja um escritor de ficção, seja um escritor de política. Jabor inventou uma ideologia, o lulo-sindicalismo, termo que usa e abusa como um selo criminal colado em todo problema brasileiro. Tem um bueiro vazando na Visconde de Pirajá? A culpa é do "lulo-sindicalismo". Com isso, Jabor criminaliza Lula, eleito duas vezes com mais de 60 milhões de votos, e os sindicatos, que representam a única força política capaz de se contrapor aos interesses anti-trabalhistas. Antes de Lula, dizia-se que não se podia aumentar o salário mínimo sem causar uma grande onda de desemprego. Por conta desse mito, os governos anteriores, especialmente o de Fernando Henrique Cardoso, permitiu a corrosão da renda do salário mínimo sem que Arnaldo Jabor visse nisso algum problema. Fome, salários baixos, miséria? E daí? O importante é evitar a malaise...



Para Jabor, fatores como aumento do salário mínimo, aumento do emprego formal, melhora da distribuição de renda, não significam muita coisa. Existe um grande mal no ar, uma terrível depressão, um desalento. Estamos anestesiados, diz Jabor. Impotentes. Que importa se só agora a Polícia Federal trabalha de verdade? Que importa se Lula reformou profundamente a PF, contratando milhares de novos policiais, por concurso, injetando verba e entusiasmo na instituição, que por conta disso está conseguindo realmente fazer a diferença na guerra contra a corrupção? Não importa. Não importa. Não importa. A corrupção continua aí e estamos de mãos atadas. "O governo Lula tem o álibi de ser um governo do povo", explica Jabor. "O discurso oficial ideológico é um sarapatel de idéias". Que frase feia, meu Deus. Tudo bem, continuemos. Jabor diz que o tal discurso é "cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo leninista, que cruzou com os germes do sindicalismo oportunista", etc, etc. Peraí, onde tem autoritarismo no discurso do governo? E o novo sindicalismo brasileiro, se tem seus defeitos, como qualquer instituição tem, ele tem o mérito de ser um dos mais modernos no mundo, com financiamentos oriundos de fundos de pensão e impostos específicos.




Jabor, assim como FHC, é uma cassandra à procura de catástrofes. O colunista do Globo "culpa" o bom estado da economia brasileira por nosso alienamento. Como as coisas estão indo bem, estamos nos deixando levar pelo lulismo, quando o certo é que nos organizássemos para combatê-lo. Que importa se as massas estão satisfeitas? Ora, as massas. As massas que se fodam! O que Jabor omite, no entanto, é que a economia brasileira não apenas vai bem, como reúne circunstâncias e fatores positivos que nunca reuniu antes: um crescimento continuado, com distribuição de renda, aumento da capacidade produtiva, ampliação da base energética, com aumento da renda do trabalhador e da oferta de emprego formal. E tudo isso combinado com sólida estabilidade macro-econômica, superávit primário e inflação baixa.




Gostaria de compreender, portanto, o que deprime tanto Jabor. Será que ele não lê o caderno de economia do próprio jornal onde escreve? A própria Miriam Leitão, sempre tão pessimista, escreveu uma coluna, no domingo passado (se não me engano), citando os reiterados elogios que o diretor do Fundo Monetário Internacional faz ao governo Lula. Não me importo com o que diz o FMI, mas a Miriam Leitão, o Globo e o Jabor deveriam se importar. Hoje o Brasil não deve mais nada ao FMI, portanto as sugestões do FMI podem voltar a ser apreciadas com serenidade, como críticas positivas ou negativas a serem ouvidas e avaliadas de acordo com sua pertinência.




Jabor fala hoje em "bolsa-cabresto", referindo-se obviamente à bolsa família, omitindo estudos de renomadas instituições nacionais e internacionais sobre a validade e eficácia da política assistencial do atual governo, que está sendo inclusive copiada para aplicação em outros países, mesmo aqueles governados por forças conservadoras.




No exterior, Lula é respeitado pelas forças conservadoras e pela esquerda. Aqui, parte de nossa imprensa insiste em sucumbir a este obscuro malaise metafísico, obsessivamente produzido e reproduzido por colunistas como Arnaldo Jabor, e que definitivamente não corresponde à realidade da maioria da população, pobres ou ricos. Talvez haja realmente algum grupo de ricaços enfarados, empoadas madames que enviam emails de amor e ódio ao ex-cineasta, o mesmo grupo que tentou se articular no Movimento Cansei, aquele cujo organizador, Jorge Doria, liderava passeatas de cãozinhos de luxo em Campos de Jordão. São os extremistas da desilusão. O Brasil pode estar com sua economia bombando, ter encontrado petróleo suficiente para mais um século, ser escolhido para Copa do Mundo 2014, comércio exterior recorde, etc, etc, mas eles estarão sempre lamentando a miséria brasileira. O Brasil descobriu o mega-campo Tupi e nenhum jornal fez caderno especial analisando as perspectivas políticas, econômicas, sociais, geopolíticas que se abrem para o Brasil. Quando morreu a Princesa Diana, aí sim, fizeram cadernos especiais e longos documentários na televisão. Nossa mídia parece ter ficado muito mais empolgada com o "Por que no te callas" do rei espanhol do que com a descoberta das novas reservas de petróleo.




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Sobre Chávez, também tenho minhas críticas. Acho que ele é um fanfarrão e um boquirroto, e poderia perfeitamente fazer suas políticas sociais e reformas jurídicas de maneira mais discreta, sem criar escândalos internacionais que só fazem isolar mais e mais a Venezuela. O ingresso da Venezuela no Mercosul, por exemplo, só será barrado no Senado por conta das declarações intempestivas e desrespeitosas do presidente bolivariano ao nosso parlamento. Ora, nossos parlamentares têm seus problemas, mas são os nossos parlamentares e o mínimo que pedimos de Chávez é que tenha o bom senso de respeitá-los. O governo brasileiro tem procurado se manifestar de maneira absolutamente não invasiva nos conflitos internos da Venezuela, sem ofender nenhum dos participantes democráticos, e esperamos que o governo venezuelano faça o mesmo.




Descontadas essas críticas, porém, deixemos claro que Chávez não é um ditador. Muitos colunistas agora procuram confundir a opinião pública. Surgem teorias políticas mirabolantes de que democracia não é só voto. Ora, claro que não. Mas o sufrágio universal é o pilar do poder do povo. Um presidente tão forte como Chávez, com apoio da maioria esmagadora da população e apoio maciço no Congresso, é um fato raro, mas perfeitamente legal e coerente com a democracia. Há momentos em que as pessoas pedem governantes fortes. Há razões históricas que levaram o eleitorado venezuelano a querer um governante forte. O dia em que eles não mais quiserem, elegem outro.




E Lula lembrou muito bem quando citou Margareth Tatcher, entre muitos outros presidentes europeus, que permaneceram muitos anos em seus cargos. Não importa se lá era parlamentarismo. Importa o exercício do poder. Sim, eles podiam perder o cargo sempre que seu partido perdesse a liderança do parlamento. Mas os regimes presidencialistas supõem eleições periódicas onde o povo pode também "demitir" o presidente. Sem contar o famoso referendo revogatório, uma lei criada pelo próprio chavismo, que permite ao povo julgar um presidente no meio de seu mandato e marcar novas eleições. Que é mais democrático? A dança de interesses partidários, quase nunca transparentes, ou a decisão popular via referendos nacionais?




Chávez pode ter todos os defeitos do mundo. Mas não é um ditador. O irônico é ver a nossa imprensa chamando o presidente do Paquistão, que ordena prisões em massa de advogados, juízes, que tomou o poder num golpe, que não se decide a marcar eleições, que persegue adversários, chamando-o, como dizia, de presidente, e não de ditador, enquanto Chávez, exposto diversas vezes ao sufrágio direto, é chamado de ditador. Repete-se tantas vezes esse bordão, e nossos colunistas (os mesmos de sempre, claro) escrevem tantas laudas pseudo-científicas que explicam porque Chávez é um ditador, que as pessoas acabam acreditando e repetindo essa ladainha por aí como papagaios.

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